Na noite de 3 para 4 de junho de 1989, o Partido Comunista Chinês enviou 200 mil soldados em tanques blindados à Praça da Paz Celestial, em Pequim, onde se vivia um movimento civil pró-democracia. Num local onde se vivia um protesto pacífico, ainda hoje não se sabe, ao certo, quantas mortes ocorreram em Tiananmen. Há quem fale em centenas, outros referem milhares de baixas.
Segundo o “The New York Times”, num artigo publicado a 21 de junho de 1989, a Cruz Vermelha chinesa contabilizou 2600 mortes. Já o “USA Today” refere que o número oficial de vítimas, segundo o Governo Chinês, é de 246. Um número que nunca se vai saber ao certo.
Os protestos
Na base do movimento de civis, que se desencadeou na Praça da Paz Celestial (Tiananmen, em chinês), esteve uma série de reformas políticas e económicas, levadas a cabo por Deng Xiaoping, que deixou insatisfeitos muitos cidadãos.
A situação agravou-se após a morte de Hu Yaobang, considerado um defensor da democracia e dispensado do Governo de Deng Xiaoping.
Os protestos começaram a 15 de abril de 1989, em jeito de orações, por Hu Yaobang. Gradualmente, foram-se intensificando. Um mês após o início dos protestos, a 13 de maio, milhares de estudantes e moradores de Pequim reuniram-se na praça de Tiananmen e deram início a uma greve de fome.
Lei Marcial
Sistema de leis acionado quando uma autoridade militar (após uma declaração formal) substitui as autoridades civis, com o objetivo de impor o regime militar durante uma situação de emergência. A lei só entra em vigor em casos excecionais, como, por exemplo, na instauração de um regime totalitário, ou após uma catástrofe natural. Na China foi decretada a 20 de maio de 1989, devido aos protestos de milhares na Praça da Paz Celestial.
O protesto espalhou-se e milhares de estudantes deslocaram-se à capital da China, para se unirem à causa. A 15 de maio, o líder soviético Mikhail Gorbachev começa uma visita à China, trazendo consigo centenas de jornalistas estrangeiros, que mostraram ao mundo os protestos que se faziam sentir em Tiananmen.
A 20 de maio, o Governo chinês decreta a lei marcial (ver caixa), mas as manifestações tornaram-se ainda mais intensas. Quando a greve de fome chegava ao final da terceira semana, o Governo chinês agiu.
O massacre de 4 de junho
Na madrugada de 4 de junho de 1989, o Governo enviou 200 mil soldados do exército, espalhados em tanques blindados, para dissolver o protesto que se fazia sentir na Praça da Paz Celestial há praticamente dois meses.
Milhares de cidadãos de Pequim saíram à rua, construíram barricadas nas estradas, para impedir o acesso dos tanques à praça. O resultado da violência despoletada dividiu-se entre centenas de mortos e feridos, tanto civis como militares. Os manifestantes decidiram abandonar a praça, mas o combate continuou nas ruas próximas.
Estudantes e cidadãos avançaram em direção aos tanques, que abriam fogo repetidamente. Entre tanques, fogo e balas perdidas, nunca se chegou a contabilizar o número oficial de vítimas.
No dia 5 de junho, um jovem desarmado (ver foto principal) entra na Praça de Tiananmen e atravessa-se frente a uma fila de tanques blindados. A fotografia do “Homem dos Tanques”, assim ficou conhecido, correu mundo. Até hoje, não se sabe a identidade do jovem.
Um tabu
Passados 25 anos, o dia continua a ser uma controvérsia na China. Falar sobre Tiananmen é considerado inapropriado. Com a aproximação do aniversário do massacre foram bloqueados os acessos à versão chinesa do Google, bem como a outros meios de pesquisa de conteúdo e imagens.
Todos os anos, a 4 de junho, a Praça de Tiananmen é patrulhada, para que se impeça qualquer manifestação de comemoração da data.
O The Telegraph menciona que os familiares das vítimas exigem a verdade sobre o que aconteceu e que em Hong Kong são esperadas 150 mil pessoas numa vigília em homenagem às vítimas.
A 4 de junho de 2014, Tiananmen continua na memória da China e do mundo, apesar dos esforços em contrário. Os ideais de mudança foram destruídos pela força e o regime, ameaçado por instantes, sobreviveu. Muitos dizem que foi Tiananmen que ditou o futuro da China, o país que, 25 anos depois, é uma das maiores economias do mundo.