Um jornalismo que é cada vez mais um ‘remix’ de vários meios e plataformas. É assim que Donica Mensing define o panorama jornalístico do século XXI. A docente da Universidade do Nevada explica que o jornalismo é influenciado pela sociedade, pela informação e pelos media.

Com a crescente e rápida globalização, tem sido difícil no contexto do ensino norte-americano acompanhar a migração para a era digital. “É preciso conjugar o ensino do jornalismo com as necessidades da comunidade, aproveitando os recursos tecnológicos que ajudam a diversificar a oferta jornalística e a preparar melhor os futuros profissionais”.

Para a professora Helena Lima, os desafios no ensino do jornalismo na Universidade do Porto relacionam-se, sobretudo, com a implementação do processo de Bolonha no curso de Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria e Multimédia. Com 14 anos de existência, o curso que resulta de um protocolo entre as faculdades de Letras, Engenharia, Economia e Belas Artes, procura dotar os alunos com “instrumentos que facilitem a integração num jornalismo que tem muito mais exigências que as de escrita de texto”.

Ensino na Europa de Leste

Ao meio-dia, Andreea Mogos, do Departamento de Jornalismo da Universitatea Babes-Bolyai, focou a sua apresentação na realidade do ensino de Jornalismo na Roménia.

Ciente de que os presentes poderiam não conhecer a história do país, começou por contextualizar a atividade na Roménia, viajando do início do século XX, em que os programas de ensino eram inspirados no modelo francês, até dezembro de 1989, em que muitas escolas começaram a adotar o modelo americano. Pelo meio, revisitou o período de vigência do comunismo, altura em que, sob a alçada do modelo soviético, nem todos podiam ser jornalistas, porque “nem todos tinham ideias apropriadas”, afirma Andreea.

Em 2013, eram 18 as universidades no país com oferta na área do Jornalismo, 12 delas públicas, e apenas duas cotadas com “A”, de acordo com a classificação atribuída pelo Ministério da Educação em 2011. A diferença entre elas reside nas infraestruturas, nas bibliotecas e nos docentes.

Babes-Bolyai é, a par da Universidade de Bucareste, umas das duas no topo da lista. A Universidade de Andreea Mogos foi fundada em 1993 e distingue-se por um vasto leque de ofertas na área. A licenciatura em Jornalismo, por exemplo, está disponível em quatro línguas – romeno, húngaro, alemão e inglês – e, para lá dos mestrados, há ainda um PhD em Ciências da Comunicação.

Sendo um dos principais objetivos da Conferência “comparar práticas académicas diferenciadas que ilustrem formas diversas de abordar a aprendizagem da profissão”, a oradora romena enriqueceu a sua apresentação com uma análise SWOT sobre o ensino de Jornalismo na Roménia. Andreea explicou também que, na Roménia, o ensino de Jornalismo tem uma vertente altamente teórica e que um dos entraves tem sido o elevado número de alunos inscritos.

A oradora terminou o seu contributo para a Conferência apontando a dificuldade em falar das expetativas para o futuro da área, visto ser difícil antever os avanços tecnológicos (que nos impõem regras várias), e lançando o conselho para os responsáveis pelo ensino de Jornalismo – “devem encontrar-se e discutir sobre as novas tendências”, afirmou.

Propostas para melhorar

A investigadora catalã, Irene Da Rocha apresentou o projeto ‘Integrated Journalism in Europe’ “[“Jornalismo Integrado Na Europa”], iniciativa ligada às mudanças no curriculum das universidades europeias e às mudanças globais nos media. A investigadora explicou que o projeto assenta em quatro bases a serem consideradas no ensino de jornalismo: a convergência dos media; a simulação do mundo profissional; as relações entre as universidades e as empresas; e a internacionalização do ensino.

No curso da investigação para o projeto foram realizadas várias entrevistas a profissionais e especialistas da área na Espanha, França, Dinamarca e Grã-Bretanha. Irene Da Rocha salientou que vários entrevistados consideram que, além de competências técnicas, os valores profissionais como o rigor, a ética e o compromisso, devem prevalecer.

Destas entrevistas, conta a oradora, retiraram várias sugestões com vista à melhoria do ensino. Nomeadamente, que os cursos devem incorporar rotinas e simulações do mundo profissional; devem cultivar, além da técnica, uma formação cultural; e devem introduzir formação em programação. Já os alunos, para enfrentar um mercado feroz e que “tende para o self-employment”, devem ser inovadores e empreendedores.

O último orador foi Pedro Coelho, jornalista da SIC, que apresentou as conclusões da sua tese de Doutoramento, no que intitula como uma “Breve Contribuição Para Um Novo Modelo de Educação”. Pedro Coelho considera que “a base do jornalismo está na Academia” e que o “reconstruir do jornalismo tem que ser feito a partir da sua base”.

O jornalista analisou os currículos de seis cursos portugueses e apontou vários pontos negativos, nomeadamente “os níveis de abstração teórica e prática da realidade”, o facto de muitos daqueles que entram no mercado de trabalho “cortarem laços com a Academia”, e o “distanciamento da componente tecnológica e jornalística”.