É comum utilizar a expressão “amarelar”, na gíria brasileira, quando alguém perde a confiança em virtude da ansiedade. Deste modo, não existe melhor palavra para descrever as peripécias vividas no dia 12 de julho de 1998, data em que o Brasil, defensor do título mundial de futebol de seleções, perdeu para a anfitriã França, por 3-0, na final do torneio.

A história da “revolução francesa” remonta ao dia 10 de junho de 1998, onde, no Stade de France, palco de abertura do Mundial, os “canarinhos” triunfaram por 2-1, frente à Escócia. A par da vitória, os brasileiros tinham muitos motivos para acreditar no pentacampeonato. Em primeiro lugar, vinham de uma campanha inesperada e inigualável em 1994, ano em que o Brasil levantou a taça pela primeira vez sem o “Rei Pelé”, da qual mantiveram grandes nomes, como Ronaldo e Taffarel. Por outro, era a seleção com mais títulos mundiais à data (4), um a mais do que a Itália e a Alemanha (3).

Com efeito, recheado de estrelas, o Brasil não teve qualquer dificuldade em passar em primeiro lugar no grupo A, seguido pela Noruega, a única formação que desbancou os “verde e amarelos”, num jogo que não alteraria as posições na tabela.

Curiosidades

– Foi a terceira goleada na final de um Campeonato do Mundo, sendo que as outras duas tinham, curiosamente, sido protagonizadas pela seleção brasileira (1958 e 1970);

– Foi a sexta vez que uma equipa anfitriã venceu o Mundial, o que já não acontecia há 20 anos (desde 1978);

– A França terminou o Mundial com o melhor ataque (15 golos marcados) e a melhor defesa (apenas dois golos sofridos), uma marca histórica no futebol mundial;

– Estreante, a Croácia conseguiu um surpreendente terceiro lugar. Com isso, igualou o feito de Portugal, em 1966. As duas seleções contaram com brilho de artilheiros: Davor Suker e Eusébio.

Nos outros potes sorteados, também foram poucas as surpresas. A Itália passou como líder absoluta (grupo B), assim como a França (C) – equipa artilheira da primeira fase, que marcou nove golos em apenas três jogos – e a Argentina (H). Apesar das dificuldades, a Holanda (E), que cedeu o empate ao México, no último jogo da fase de grupos, passou no pináculo da tabela, à imagem da Alemanha, que viveu um caso bastante parecido com a Jugoslávia (F).

De resto, vale a pena salientar a prestação da Nigéria, mais forte do que o Paraguai e que a Espanha, nesta fase inicial, cuja prestação deu jus ao apelido de “super águias”, para a conquista do primeiro posto do Grupo D, e da Roménia, cujo maior feito, naquele ano, foi derrotar a Inglaterra (2-1) e avançar aos oitavos-de-final, na cabeça do Grupo G.

A primeira fase do Mundial foi bastante facilitada por parte dos adversários dos franceses. Contudo, tal não se iria manter por muito tempo, visto que foi com enorme dificuldade que os bleus chegariam a tão esperada final.

França e Brasil sem surpresa, Alemanha a desilusão

Na segunda fase do torneio, a fase a eliminar, duas seleções tinham a atenção de toda a gente: o Brasil e a França, as duas equipas que, curiosamente, alcançaram a final do torneio. A seleção canarinha carregava o fardo de campeã do mundo em título, enquanto os gauleses disputavam o torneio em território caseiro.

Nos oitavos-de-final, o Brasil encontrou o Chile, do mítico Marcelo Salas, e venceu por uns esclarecedores 4-1. Ronaldo, o “Fenómeno”, e César Sampaio, ambos com um “bis”, fizeram os golos do “escrete”. Salas marcou o golo de honra chileno. A França teve algumas dificuldades no duelo com o menos favorito Paraguai e só venceu no prolongamento, com um golo de Laurent Blanc.

Nos quartos-de-final, o Brasil defrontou a Dinamarca e venceu um emocionante duelo, por 3-2. Rivaldo, por duas vezes, e Bebeto fizeram os golos dos sul-americanos. Laudrup e Jorgensen marcaram os golos dos nórdicos, todavia insuficientes.

A anfitriã França derrotou a Itália, uma seleção carregada de estrelas e considerada previamente como uma das favoritas à vitória final. Baggio, Costacurta, Vieri e Di Baggio eram só alguns dos nomes de uma grande equipa. A partida terminou empatada, 0-0, e foi necessário recorrer às grandes penalidades, onde a França venceu por 3-4.

As meias-finais puseram frente-a-frente Brasil e Holanda, França e Croácia. A Holanda, que havia eliminado a Argentina por 2-1, prometia ser um osso duro de roer para os “canarinhos”. A Croácia, chegada à meia-final após vencer a Alemanha por esclarecedores 0-3, também não se avizinha tarefa fácil para a França.

Na meia-final entre brasileiros e holandeses foi necessário chegar às grandes penalidades para se encontrar um vencedor, após empate a 1-1. O Brasil converteu quatro grandes penalidades, contra duas da Holanda. A França, por sua vez, venceu a Croácia por 2-1 e rumou à final.

Para o último e decisivo encontro da competição, era esperado um jogo emocionante e equilibrado, mas a partida acabou por não ter grande história. A França chegou ao intervalo a vencer por 0-2, com um “bis” de Zidane e Emannuel Petit deu a machadada final nas contas do jogo, com um golo aos 90+3 minutos.

A França sagrou-se, assim, campeã mundial pela primeira vez na sua história e tornou-se na sétima nação a vencer a competição. A Alemanha foi uma das desilusões do torneio, ao ser eliminada nos quartos-de-final, pela Croácia, por 0-3.