Cada vez mais os académicos procuram explorar as potencialidades do mar. Desta preocupação surgem os cerca de 400 doutorados da Universidade do Porto que trabalham na área de investigação marítima.

Para esses surge agora o OCEANUS, um pólo do mar que procura formar, apostar na investigação e desenvolvimento e proporcionar um sistema de incubação de empresas. Tudo isto enquanto ajuda os projetos inovadores a encontrar um ambiente empresarial que os beneficiará em termos de divulgação científica.

Joaquim Góis é membro da Comissão Diretiva deste projeto e explica que o OCEANUS nasceu “em 2010/2011, quando se constatou que a UP tinha imensas áreas de estudo que se direcionavam para o mar, desde a Biologia, à Engenharia, à História”. Apesar das diferentes áreas, o interesse comum é só um: o Oceano. Por isso mesmo, a UP definiu que o Pólo do Mar seria obrigatoriamente perto do mar. O Novo Terminal de Cruzeiros de Leixões, no Molhe Sul do Porto de Leixões, e um espaço recuperado junto ao Molho Norte foram os locais escolhidos para receber este projeto.

Dia dos Oceanos

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As primeiras empresas a aceitar o desafio do OCEANUS

Apesar do Pólo do Mar ainda não ter algumas áreas terminadas, nomeadamente a oficina, os balneários, a sala de convívio e algumas salas de trabalho, já existem empresas incubadas no edifício recuperado.

A Universidade Itinerante do Mar (UIM) é uma delas. Joaquim Góis, para além de estar presente na Comissão Diretiva do OCEANUS, é, simultaneamente, diretor desta universidade que pretende levar alunos a navegar a bordo do Creoula, um navio da Marinha Portuguesa. Góis afirma que os objetivos da UIM passam por “promover cursos de mar a bordo do navio e dar formação de mar, o que complementa a formação académica. O que se pretende, no fundo, é ampliar a consciência marítima”.

O diretor explica ainda que essa “consciência marítima” deve ser, desde já, enraizada e promovida, até porque existe a entrega “da proposta de extensão da plataforma continental, que, se tudo correr bem, dará a Portugal uma área marítima do tamanho da União Europeia”.

A Abyssal também já está incubada. Apesar de ser uma empresa de desenvolvimento de software, o tema é bem marítimo: desenvolver sistemas de navegação para veículos submarinos controlados remotamente. A ideia assenta em desenvolver soluções de navegação, perceção do espaço, visibilidade e segurança em todas as operações submarinas.

Numa sala com vista para a marina de Leça da Palmeira, a startup OCEANSCAN também já está instalada. Com origem no Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), a empresa apresenta um veículo autónomo subaquático que promete ser muito útil no que diz respeito a pesquisas oceanográficas e ambientais e na inspeção subaquática.

CIIMAR deve mudar de localidade

Para já, a UP planeia que o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) fique localizado no Novo Terminal, bem como uma zona de laboratórios, espaços de divulgação e uma Marina Oceânica. No que diz respeito ao edifício recuperado, antigo edifício de sanidade, ficará a sede do OCEANUS, a zona incubadora de empresas e uma zona de investigação. Este edifício possui, de origem, a marina de Leça da Palmeira, que será muito útil para testar os produtos das empresas que se instalarem neste novo Pólo do Mar.

A fase de recuperação do edifício está quase a terminar e, segundo Joaquim Góis, “espera-se que, em setembro deste ano, todas as obras no Pólo do Mar estejam concluídas, para que o processo de instalação de empresas seja mais significativo”.

Seja qual for a vertente de cada uma das empresas incubadas, Joaquim Góis explica que o objetivo é que “se criem sinergias entre as empresas, até porque não existe nenhuma área de eleição, procura-se um pouco de tudo. O que distingue a OCEANUS de outros centros de competências é a forte componente tecnológica de rentabilidade que se procura dar”.

Oceano XXI, o cluster de Economia do Mar que está a investir 54,2 milhões em Leixões

O cluster de Conhecimento e Economia do Mar Oceano XXI é o único do género direcionado para a economia e desenvolvimento marítimos. Frederico Ferreira está na equipa desde a fundação do projeto e explica que a visão deste cluster “assenta em modernizar o setor do mar e apostar nas novas áreas emergentes. Basicamente modernizar o que já existe, como a pesca, o desporto, a construção naval e aproveitar as novas áreas que estão cheias de potencial, mas que têm muitas dificuldades em começar”. Desta vontade de modernizar, a Oceano XXI conta já com “63 parceiros, onde mais de metade são empresas, 14 universidades e institutos, 11 associações empresariais e setoriais e seis entidades públicas”, declara Frederico.

Com o critério de apostar em “projetos que estejam enquadrados na estratégia do cluster, que tragam valor acrescentado e que estimulem a inovação” nasceu a vontade de apostar em Leixões. Para isso, a Oceano XXI acrescentou dois projetos âncora: o Parque de Ciência e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto e o Novo Terminal do Porto de Leixões.

No Pólo do Mar, a Oceano XXI conseguiu um investimento de 4,4 milhões de euros, o que representa cerca de 6,2% do conjunto de todos os projetos âncora – no total são oito. No Novo Terminal, o investimento é maior e ronda os 49,8 milhões de euros, 70% do conjunto de investimentos.

Frederico Ferreira conta quais são as fontes de financiamento da Oceano XXI: “Quotas dos associados, que variam de acordo com a sua dimensão. Depois, devido ao reconhecimento SIAC (Sistema de Apoio a Ações Coletivas) que tivemos do programa COMPETE, temos acesso um financiamento específico, obtido por candidatura. Depois temos dois projetos internacionais que também nos dão algum financiamento. Depois existem os protocolos, por exemplo, com a APDL (Administração dos Portos do Douro e Leixões), e mesmo as prestações de serviços que fazemos aos nosso associados são uma fonte de financiamento”.

“É claro que já temos projetos âncora, que têm outros financiamentos. Por exemplo, o Pólo do Mar e o Novo Terminal de Leixões são projetos âncora nossos que foram financiados pelo PROT Norte (Plano Regional de Ordenamento do Território do Norte)” explica Frederico.

Assim que setembro chegar, o OCEANUS começará a receber mais empresas prontas para desenvolver, modernizar e inovar as mais variadas áreas de conhecimento ligadas ao Oceano. Joaquim Góis, em jeito de conclusão, afirma, com toda a certeza, que “Portugal não pode, em circunstância alguma, ignorar aquilo que tem à frente, que é o mar”.