Qual é a probabilidade de reunir um artista plástico pioneiro no uso de robôs para a produção artística com um maestro especialista em percussão e criar um projeto? Parece muito improvável, mas a dupla existe mesmo. O projeto chama-se The Art Inside e une um conjunto de robôs, criados por Leonel Moura, que reagem ao som da música clássica escolhida por Pedro Carneiro e tocada por solistas da Orquestra de Câmara Portuguesa. O resultado: 11 quadros pintados pelos robôs em espetáculos que decorreram de norte a sul do país.

Os robôs criados por Leonel Moura, portadores de canetas com cores diferentes e dotados de sensores, reagem às diferentes frequências sonoras da música. “Vai ser muito interessante ver as pinturas todas juntas no final, porque vai-se perceber que com os mesmos robôs e o mesmo algoritmo se fizeram coisas muito diferentes”, explica o criador dos “pintores”.

As telas pintadas pelos robôs surgem ao som de composições escolhidas por Pedro Carneiro. Considerado internacionalmente como um dos mais importantes percussionistas e originais músicos da atualidade, o co-fundador da Orquestra de Câmara Portuguesa explica que a escolha das composições é “muito engraçada. São várias tipologias de ensembles, que vão desde os grupos de metais, que tocam peças muitas vezes compostas para serem tocadas em grandes eventos desportivos, fanfarras, até ao intimismo de um quarteto de cordas com música vienense, ensembles de madeira, música francesa, jazz… Todos estes ensembles distintos vão inspirar os robôs a fazer telas completamente diferentes”.

“Isto é arte”

Há vários anos que Leonel Moura foca o seu trabalho na inteligência artificial na arte robótica. O profissional descreve-se como um artista conceitual que se insere “naquela tendência da arte como inovação, em que o artista o que faz é expandir o campo da arte”.

“Na história vimos muito disto. O Kandinsky fez uma pintura abstrata e disse que o abstrato também podia ser arte e que não precisava de casas, nem árvores, nem pessoas. Houve gente que disse que aquilo não era arte e só mais tarde é que foi assumido como tal. Portanto, eu agora também digo ‘isto é arte'”, explica Leonel Moura. Pedro Carneiro considera que o projeto “leva a que as pessoas pensem: ‘Qual é o papel da audição e da escuta quotidiana se estes simples robôs que não têm cérebro conseguem também fazer arte através da música que ouvem?'”.

Leonel Moura acredita que, dada a crescente ligação da sociedade à tecnologia, “é natural que a prática criativa se vá expandindo para as tecnologias”. “A arte é emoção, mas a emoção é de quem vê. Não é necessáriamente a emoção de quem faz”, afirma o artista.