Hélder Bastos não fez da Rádio a sua vida, mas durante muitos anos a vida foi feita à volta da rádio. De aluno a professor de jornalismo, teve também como escola a Rádio Universitária do Porto e um programa de História que fazia todas as semanas, inscreveu a RUP na sua biografia.

Na Rua Miguel Bombarda, Hélder Bastos mergulhou no “Poço do Canto” com Ana Isabel Reis e Luís Oliveira Santos e viajou pelo século XX na companhia de um colega de turma. Chegou à Rádio Universitária do Porto “através de contactos informais” e foi essa informalidade que também encontrou na RUP: “Era um espaço muito mais informal do que são as rádios profissionalizadas, o que nos dava também uma liberdade muito grande para experimentar e isso também foi muito importante”.

Passava horas a viajar no tempo para fazer o programa de rádio sobre história do século XX e hoje entra ironicamente nessa carruagem para encontrar o dito programa de rádio. Ainda se recorda, que a história era contada através de “montagens e cenários sonoros” recorrendo aos “discos de vinil e as mesas um bocadinho arcaicas”.

Com discos de vinil e mesas um bocado arcaicas: Assim se passava bons momentos

25 anos depois, numa sala cheia de computadores e todos com acesso à internet, recorda como era complicado estabelecer contactos com os entrevistados. “Eu creio que as gerações mais novas não tem noção da dificuldade tecnológica para fazer as tarefas mais simples como contactar fontes de informação. Enfim, mas isso de certa maneira tinha o seu encanto”. António Pinho Vargas e Rui Ochoa, foram duas das vozes que marcaram o programa e ficaram para a “História” do século XX e da RUP.

Mas as dificuldades aumentavam a magia no meio. “Nessa altura não havia outras distrações como a web, a internet, os iphones, nada disso. Era um tempo ainda muito analógico, tudo era feito, à luz do que se faz hoje, de uma forma super artesanal mas que dava um gozo tremendo. A rádio a esse nível era muito eficiente”, recorda Hélder Bastos.

O bichinho da rádio não morreu mas “a mística agora é outra”

A mística da rádio agora é outra. Cada vez mais imediatas e guiadas por um “piloto automático” que foi matando “o bichinho da rádio”. Nas emissões, “aquilo é tudo pré-programado, feito em computador e o computador e o servidor vão desfilando os programas pré-formatados uns atrás dos outros”.

Apesar de ter trocado a rádio pela imprensa, ainda vê potencial no projeto que existiu há trinta anos. Para Hélder Bastos “a RUP nunca deveria ter acabado. Devia ter continuado, evoluído e hoje podia ocupar um espaço muito interessante no espectro radiofónico português e aqui na região. É uma pena”. Hoje viaja no tempo para encontrar a Rádio que o fez crescer no jornalismo e segue na carruagem ao som de Miles Davis – “Tutu”.