O PHYSA, o maior e mais completo estudo sobre hipertensão alguma vez realizado em Portugal, demonstra que 42,2% da população portuguesa sofre de hipertensão arterial. Desde 2003, os valores mantêm-se semelhantes, mas houve melhorias significativas no conhecimento e tratamento da doença. Segundo Jorge Colónia, investigador da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), o “número de indivíduos que conhecem a doença quase que duplicou, e temos 3,8 vezes mais pessoas a serem controladas” desde 2003.

Substitutos do sal

Há muitas alternativas que se podem utilizar no dia a dia e que substituem o sal. Ervas aromáticas como o tomilho, o manjericão, a salsa ou os oregãos, são uma opção a ter em conta quando utilizadas com sal em pouca quantidade. Alimentos industrializados e embalados como sopas ou fast food, são produtos que devem ser totalmente evitado por conterem níveis de sódio muito elevados.

“Somos dos países onde se come mais sal”

Um português ingere, em média, 10,7g de sal por dia, quando o recomendado é 5,8g. O estudo permitiu, pela primeira vez, analisar o real consumo de sal em Portugal. “Num país onde a principal causa de morte são doenças cardiovasculares, existe uma relação direta entre o consumo de sal e o AVC”. Apesar de continuar acima da média europeia, dados oficiais revelam que a taxa de mortalidade por AVC diminui 46% na última década.

Desde 2003, apesar da prevalência da hipertensão não ter diminuído e o sal consumido ser quase o dobro do recomendável, o consumo de sal diminui 1,63g por dia. “Foi o suficiente para a taxa de mortalidade por AVC reduzir 14%”. A pressão arterial em hipertensos “teve uma redução significativa para 12,4/8” e pode explicar em 29% a diminuição de mortes por AVC.

“Isto não é uma doença de velhos.”

Também a associação de vários medicamentos num único comprimido facilita o tratamento e a adesão dos doentes: “É mais fácil as pessoas tomarem um comprimido do que dois ou três. Para além disso, o fármaco acaba por ser mais barato. Tudo isso torna o tratamento mais eficaz”. O uso de associações de medicamentos aumentou mais de 700% na última década.

Fernando Pinto, presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), lembra que Portugal é, a par do Japão, o país “recordista em casos de AVC e de cancro de estômago” e que ambos estão diretamente relacionados com o consumo excessivo de sal.

O desinvestimento na saúde

Jorge Polónia guarda a esperança que “esta tendência positiva não seja invertida por medidas provenientes da crise”. O desinvestimento e a aplicação de taxas moderadores vai significar a inversão dos resultados atingidos.

O investigador da FMUP ressalva que a hipertensão “não é totalmente comparticipada apesar ser a doença que mais mata”. Cada vez são mais frequentes os casos de doentes “que deixam de tomar medicação por não a poderem pagar”. Fernando Pinto, presidente da SPH, afirma que “tomar irregularmente a medicação é quase tão mau como não tomar”

Nova rotulagem de alimentos

A SPH defende a utilização de um “semáforo” na rotulagem de alimentos. O verde significaria uma quantidade de sódio recomendável, o laranja indicaria que o produto está no limite tolerável de níveis de sódio, e o vermelho seria um alimento a evitar. Já existe uma rede comercial que, por opção, aplica este tipo de rotulagem nos produtos, mas a SPH pretende tornar a medida obrigatória e mudar a legislação.

Controlo deve começar cedo

Jorge Polónia diz ser “uma vergonha ver pessoas com 20 anos com uma doença que podia ser evitada”. Nas crianças há formas de hipertensão que podem ser curadas se rastreadas e detectadas a tempo. Fernando Pinto, lembra que actualmente é “obrigatório medir a pressão arterial às crianças, pelo menos uma vez por ano”, algo “extremamente importante e necessário” porque os sinais começam cedo.

O consumo de sal recomendado para uma criança é de cerca de 3g/dia. O problema é que mesmo que os pais estejam a seguir a recomendação base para um adulto, esse valor já consitui quase o dobro do recomendável para uma criança. Fernando Pinto evoca o caso dos cereais, que “já possuem praticamente a dose de sal que uma criança devia comer durante o dia todo”.

Polónia adverte: “Isto não é uma doença de velhos, mata cedo, é silenciosa. A população jovem pensa que nunca vai morrer, mas esse é um dos objectivos do PHYSA, o de chamar a atenção dos jovens”.