Foi o primeiro Mundial disputado em solo africano. Na terra de Mandela, a panóplia de cores provenientes de seleções dos quatro cantos do mundo, fez jus a batalhas de muitos anos. Nesta edição, já não marcaram presença Figo, Zidane ou Ronaldo. Emergiam, contudo, nomes como Cristiano Ronaldo, Messi ou Iniesta. Prometia.

Na fase inicial, o grande destaque foi para a eliminação da Itália. Os transalpinos, campeões em título, não foram além do último lugar do seu grupo com apenas dois pontos. De fora, comparativamente à seleção vencedora de 2006, destacavam-se os nomes de Totti ou Del Piero, maestros da azurra durante vários anos. Com um grupo teoricamente acessível, os tetracampões mundiais não conseguiram vencer qualquer jogo.

As vuvuzelas

Tornaram-se, rapidamente, num dos marcos desta edição do Mundial de futebol. As vuvuzelas, tocadas até à exaustão nas bancadas dos jogos, e um pouco por toda a parte, chegaram mesmo a condicionar a visualização dos jogos para os milhões que, em casa, assistiam ao espetáculo. Em Portugal, a MEO criou uma opção que permitia desligar o som mais característico, e irritante, do Mundial de 2010.

A outra grande desilusão voltou a ser a França. O resultado de 2002 foi replicado e os blues caíram na fase de grupos: último lugar, com apenas um ponto, conquistado diante do Uruguai. Sem Zidane e com Thierry Henry longe dos tempos aúreos, a renovada seleção francesa voltou a ficar muito àquem do seu potencial. Pela caminho, no mesmo grupo, ficava também o país anfitreão, a África do Sul.

A fava do “grupo da morte”, tal como acontece neste ano de 2014, voltou a sair a Portugal. A seleção das quinas teve de medir forças, além da Coreia do Norte, com Brasil e Costa do Marfim, onde pontificavam nomes como Didier Drogba, Yaya Touré, Kalou ou Gervinho. A missão era complicada, mas foi superada. Com um empate nos dois jogos mais complicados, frente a sul-americanos e africanos, Portugal logrou vencer a seleção da Coreia do Norte por 7-0, resultados suficientes para carimbarem o passaporte para a fase seguinte da competição. Os asiáticos voltavam a ser de boa memória.

A queda portuguesa

Os dois pratos-fortes dos oitavos-de-final cabiam ao jogos entre Alemanha e Inglaterra e ao Espanha-Portugal. Fruto de uma rivalidade histórica, os dois duelos prometiam um embate ainda mais sonoro que as vuvuzelas que se propagavam pelas bancadas sul-africanas.

No jogo entre alemães e ingleses, olhando ao resultado – 4-1 a favor da mannschaft -, a história parece ter sido simples. No entanto, como parece ser apanágio nos confrontos entre as duas seleções em campeonatos do mundo, uma má decisão de arbitragem marcou o encontro. Decorria o minuto 39 – com o marcador a apontar um 2-1 a favor da Alemanha -, quando um forte disparo de Frank Lampard bate na barra e entra na baliza à guarda de Neuer. O árbitro considerou que a bola não passou a linha de golo. Mas mal.

No duelo Ibérico, Portugal procurava contrariar o favoritismo do campeão europeu. A Espanha, por seu turno, alicerçada na equipa-base de um Barcelona que encantou meio mundo, procurava o primeiro título mundial da sua história. O jogo foi parco em oportunidades e repleto de nuances táticas; ninguém queria perder. No entanto, David Villa quebrou a muralha portuguesa e apurou os “nuestros hermanos” para os quartos-de-final. O sonho lusitano voltava a ficar por terra.

Brasil volta a desiludir

Nos quartos-de-final, os grandes destaques couberam à queda dos dois gigantes sul-americanos: Brasil e Argentina. A seleção celeste, que contava com o melhor jogador do mundo nas suas fileiras, caiu com estrondo face ao poderio alemão. Sob a batatuta de Maradona, Messi e companhia não conseguiram repetir o feito alcançado pelo seu treinador em 1986. 4-0 foi o resultado final. Pela Alemanha brilhou o especialista em campeonatos do mundo: Miroslav Klose, com dois golos apontados.

Ele já sabia de tudo…

Ainda antes das seleções entrarem em campo, para os seus respetivos jogos, já havia quem soubesse o desfecho final. Conseguiu prever, inclusive, quem foi o campeão do mundo. Falamos do polvo Paul, eternizado pelos palpites invariavelmente acertados que deu no Mundial da África do Sul. Muitos duvidaram… mas ninguém o contrariou. Ele já sabia de tudo.

No jogo entre Brasil e Holanda, os europeus também levaram a melhor. A canarinha até entrou bem e marcou cedo, por Robinho, mas Sneijder, campeão europeu pelo Inter de Milão de Mourinho, bisou na partida, ajudando a laranja mecânica a derrotar os comandados de Dunga. Face a um Brasil demasiado conservador, sem a prevalência da magia que consagrou como pentacampeões, venceu o perfume do futebol holandês.

As meias-finais tiveram dois jogos distintos. De um lado, o calculismo do Espanha-Alemanha; do outro, o espetáculo protagonizado pela magia holandesa e pelo sangue uruguaio. Desfalcados de Luiz Suarez – expulso na partida anterior -, mas ainda assim liderados pela temível dupla Cavani-Forlan, os sul-americanos deram luta até ao instante final. A Holanda viria a vencer o jogo por 3-2, mas o Uruguai deixava uma excelente imagem. Na outra partida, a “Roja” voltou a vencer o jogo por… 1-0. E de golo em golo lá encheram o “papo”. Estavam na final.

Que viva España!

Fosse qual fosse o vencedor, seria inédito. Espanha e Holanda não tinham nenhum título do campeonato do mundo e procuravam vencer pela primeira vez a prova mais importante de seleções. Seria também a primeira vez que uma seleção europeia vencia “fora do velho continente”. A seleção espanhola tinha vencido todas as eliminatórias anteriores por 1-0… e voltou a repetir a dose. Desta feita no prolongamento, quando já todos esperavam pelas grandes penalidades, Iniesta marcou o golo dourado. O golo, que garantiu o título mundial à Espanha, imortalizou uma geração dominadora em pelo menos três torneios de seleções consecutivos.