O jogo de estreia de Portugal num Mundial voltou a acender a paixão de um povo. Horas antes da partida frente à Alemanha, as redes sociais inundaram-se de mensagens de apoio à seleção das Quinas, milhares reuniram-se nos ecrãs gigantes espalhados por todo o país, por todo o lado podiam descortinar-se as cores da bandeira portuguesa. Caras pintadas, cachecóis desfraldados ao som de “A Portuguesa”, camisolas. Poucos foram os que ficaram indiferentes ao jogo e o entusiasmo que é apanágio no início das grandes competições voltou a fazer-se sentir.

Mas com o decorrer da partida ficou claro que tudo estava inclinado para correr mal. Duas lesões, uma expulsão e uma derrota por quatro golos de diferença. Será motivo de alarme para o que resta da campanha?

Analisem-se os dados de edições anteriores de Campeonatos do Mundo e da Europa, em que Portugal perdeu o jogo de estreia, por ordem cronológica. Coreia/Japão, ano de 2002, quem não se recorda desse fatídico e avassalador Mundial? Portugal entra para a competição com a famosa “Geração de Ouro” e as expectativas estavam altas para o torneio, com Figo, João Vieira Pinto, Paulo Bento, Pauleta, Rui Costa nas fileiras.

No entanto, as Quinas entraram com o pé esquerdo, com uma derrota por 2-3 frente aos Estados Unidos, no jogo de estreia. No segundo jogo, frente à Polónia, Portugal voltou a acender a esperança na qualificação. Uma vitória por 4-0 encheu os indíces de confiança da seleção e fez juz à verdadeira qualidade de uma das melhores gerações do futebol português. A equipa entrava para a última e decisiva partida dependente do resultado dos EUA, que somava quatro pontos ao cabo de duas partidas, mais um do que Portugal.

Duas finais

Avizinham-se duas finais: a primeira é no domingo, frente aos Estados Unidos, e a segunda frente ao Gana, no dia 26 deste mês. Portugal só depende de si para passar e tem a história do seu lado.

No último encontro, as Quinas tinham de bater-se com a seleção anfitriã, a Coreia do Sul, líder do grupo, e esperar por um deslize dos EUA, que defrontavam a Polónia, o elo mais fraco. As duas partidas tinham pontapé de saída agendado para a mesma hora, sábado, 14 de junho de 2002, às 12h30, hora de Portugal continental: 137 quilómetros separavam a cidade coreana de Incheon, onde atuava Portugal, e Daejeon, onde os Estados Unidos procuravam confirmar a passagem aos oitavos-de-final.

Não podia ter começado melhor para Portugal. Aos três minutos, a Polónia adiantava-se no marcador, por Emmanuel Olisadebe, e, aos cinco, alargava a vantagem para 2-0, por Pawl Kryszalowicz. Com o 2-0, Portugal precisava apenas de um empate para seguir em frente, devido à clara vantagem na diferença de golos que detinha sobre os EUA, 6-3 para 4-5, à altura dos 2-0.

Ao intervalo, Portugal agarrava-se com unhas e dentes aos oitavos-de-final, segurando um empate a zero e reforçando a esperança na continuidade no Mundial. Aos 66 minutos, em Daejeon, a Polónia dava a machadada final na partida. Marcin Zewlakow fazia o 3-0 para os polacos e, com o 0-0 que teimava em não se desfazer em Incheon, Portugal estava a 25 minutos de garantir a qualificação. Mas, aos 70 minutos, o caso mudou drasticamente de figura.

Depois de um cruzamento da ala esquerda do ataque da Coreia, Park Ji-Sung, com um domínio de joelho tira Sérgio Conceição do caminho e com espaço remata forte pelo meio das pernas de Vitor Baía. Estava feito o 1-0 para a Coreia e Portugal voltava a estar fora do Mundial. Até final, Figo enviou uma bola ao poste e Nuno Gomes desperdiçou um lance isolado. O apito final acabaria por chegar e as Quinas ficariam pelo caminho. Pelo meio, Landon Donovan reduziu para os EUA.

Euro 2004 e 2014 reavivam esperança

Contudo, apenas por uma vez Portugal caiu prematuramente depois de perder a partida de estreia. No Euro 2004, organizado e realizado em território nacional, a seleção portuguesa estreou-se no Estádio do Dragão frente à formação da Grécia e, contra todas as expectativas e probabilidades, perdeu por 2-1. As duas seleções voltariam a encontrar-se numa final de má memória para os portugueses, que viram os gregos levantar o troféu em pleno Estádio da Luz, após vencerem por 1-0, com o golo solitário a ser apontado por Charisteas.

No Euro 2012, Portugal foi sorteado para o grupo da Alemanha, da Holanda e da Dinamarca, naquele que era tido como “o grupo da morte”. As Quinas perderam a primeira partida, por 1-0, frente à Alemanha, tal como aconteceu esta segunda-feira, mas acabaram por alcançar as meias-finais, onde só caíram nas grandes penalidades, aos pés da futura campeã Espanha. A derrota frente à Alemanha, será, assim, um bom ou um mau presságio?

Maior derrota da história em fases finais

A pesada goleada sofrida nesta segunda-feira pode deixar marcas vincadas no seio do grupo comandado por Paulo Bento. Não só perdeu duas peças importantes – Coentrão por lesão e Pepe por expulsão -, como também foi dominado de início ao fim e não constituiu grande perigo para a Alemanha. O 4-0 foi até um resultado simpático, num jogo que podia ter tomado contornos mais drásticos, caso os alemães tivessem mantido o pé no acelerador na segunda parte. Um hat-trick de Muller e um golo de Matts Hummels assinalaram a derrota mais pesada da história portuguesa em fases finais de grandes competições.

As anteriores derrotas mais avolumadas tinham acontecido frente a Marrocos (3-1, México 86) e Alemanha (3-1, 3.º e 4.º lugares, Alemanha 2006). Esta é, ainda, a pior derrota dos últimos 31 anos, depois da derrota em Moscovo por 5-0, frente à União Soviética.