Em 2003, após a invasão do Iraque pelos Estados Unidos da América e o derrube do regime de Saddam Hussein, foram vários os países que enviaram tropas para o país. Portugal não foi exceção e enviou militares para a base de Nassiria, uma cidade iraquiana que era aparentemente pacífica. No dia 12 de novembro de 2003, a base militar de Nassiria sofreu um atentado à bomba que vitimou 19 italianos (17 militares e dois civis) e ao qual os militares portugueses escaparam por pouco.

Foi neste sentido que a Casa das Artes recebeu, neste fim-de-semana, a ante-estreia de “Era uma vez no Iraque”, um documentário de 50 minutos que conta a história do atentado à bomba à base de Nassiria. Este é o primeiro documentário do realizador Pedro Magano, que se baseou em cerca de cinco mil fotografias do fotojornalista Alfredo Cunha para contar a história do ponto de vista dos portugueses envolvidos no atentado.

“Foram dois anos desde as primeiras entrevistas até à maturação”

A ideia surgiu durante uma entrevista a Alfredo Cunha, na qual o fotógrafo apontou uma fotografia do atentado como a mais marcante da sua carreira. Pedro Magano contou ao JPN que foi aí que se apercebeu que a história do atentado de Nassiria era de “interesse nacional, transversal à nossa sociedade” e que nunca ninguém a tinha contado do ponto de vista português.

Depois da ideia surgir, o documentário começou a ganhar forma. Às fotografias de Alfredo Cunha juntaram-se entrevistas a militares e jornalistas portugueses que viveram a história na primeira pessoa, como Carlos Raleiras (TSF), Maria João Ruela (SIC), Major Rariz, Major M. Costa Barreto e Domingos Andrade. “Foram dois anos desde as primeiras entrevistas até à maturação”, afirma Pedro Magano.

A ante-estreia contou com uma introdução do realizador, que afirmou que o documentário procurou transmitir a ideia de que “quem faz as guerras não as sofre, quem sofre é o povo”.

Um mês de terror

O Iraque tem vivido, neste último mês, uma nova onda de violência que ameaça transformar-se numa guerra civil. O grupo muçulmano sunita – Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) – tomou importantes cidades do Norte, como Mossul (segunda maior cidade iraquiana) e anunciou que levará a batalha até à capital, Bagdad.

Os rebeldes põem em causa a legitimidade do Governo xiita de Nouri Al-Maliki. O Ocidente começa a ponderar ações para intervir no conflito e os Estados Unidos anunciaram já o envio de 300 conselheiros militares para apoiar o exército iraquiano no combate contra os jihadistas.

EIIL é o braço iraquiano da Al-Qaeda

O EIIL surgiu a partir do Estado Islâmico no Iraque (EII) – braço iraquiano da Al-Qaeda, dirigido por Abu Bakr al-Bagdadi. Em abril de 2013, Bagdadi anunciou que o Estado Islâmico do Iraque e a Frente Al-Nosra, um grupo jihadista presente na Síria, se fundiriam para se converter no Estado Islâmico do Iraque e Levante (EIIL).

A invasão do Iraque por parte dos Estados Unidos da América, em 2003, e o consequente derrube do então presidente Saddam Hussein, fez com que se instalasse, no Estado muçulmano, um Governo controlado pelos xiitas. A perda de poder dos sunitas foi dando origem a protestos e revoltas, na sua maioria “pacíficas”, até ao final de 2012.

Poucas concessões foram feitas por parte do Governo xiita, que alegava que os sunitas não clamavam por reformas no país, mas antes pela retomada do poder. Os cerca de cinco milhões de sunitas sentem-se marginalizados pelo Governo e começam a simpatizar cada vez mais com os rebeldes que ambicionam derrubá-lo.

Os EUA podem voltar a ocupar o Iraque?

O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou, na quinta-feira, a intenção de enviar 300 conselheiros militares para auxiliar as tropas iraquianas, mas afirmou que os soldados norte-americanos não vão para o Iraque para combater. Os EUA apostam, assim, numa estratégia mais diplomática, que combina com a retirada das tropas americanas do solo iraquiano, em 2011, já por iniciativa de Obama.

Por outro lado, o chefe dos direitos humanos da Organização das Nações Unidas já afirmou que os jihadistas do EIIL cometeram crimes de guerra, ao executar centenas de homens, na passada semana. O próprio grupo divulgou imagens em vídeo e fotografias do fuzilamento de mais de 1700 soldados iraquianos.

Obama insiste que a solução para o conflito iraquiano não é militar, mas sim política. Ainda assim, a Central de Informação Norte-Americana (CIA) está a estudar “alvos precisos” para a eventual necessidade de uma intervenção aérea. Na semana passada, o líder do Governo xiita, Nouri Al-Malaki, já veio reiterar, através do seu porta-voz, que não vai demitir-se, estando o Estado iraquiano na iminência de uma guerra civil.