O estudo “Mapear os recursos, levantamento da legislação, caracterização dos atores, comparação internacional”, coordenado pelo sociólogo José Luís Garcia, faz parte de um conjunto de dez trabalhos que integram o Plano Cultura 2020, uma iniciativa do secretário de Estado da Cultura que começou a ser desenvolvida em 2012 e que tem como objetivo final ajudar a projetar as políticas culturais dos próximos anos.

Para a elaboração do Plano Cultura 2020, o Ministério da Cultura tem trabalhado em articulação com o Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais (GEPAC), o Instituto de Financiamento e Desenvolvimento Regional (IFDR) e o Instituto Nacional de Estatística (INE), no sentido de programar de forma mais sensata a distribuição dos fundos estruturais disponíveis para o período entre 2014-2020.

Depois de um seminário realizado em novembro, na Fundação Serralves, no Porto – no qual as várias equipas de investigação envolvidas fizeram um ponto de situação dos trabalhos em curso – a Secretaria de Estado da Cultura tem vindo a divulgar os resultados dos estudos já concluídos como o “Indústrias culturais e actividades criativas e internacionalização da economia portuguesa”, de Augusto Mateus, ex-ministro da Economia, ou “Cultura e Desenvolvimento”, desenvolvido por uma equipa da Faculdade de Economia da Nova, dirigida por José Tavares.

Mudança de paradigma: a “Cultura 3.0”

Este último estudo sugere que vivemos um momento de transição para a chamada “Cultura 3.0”, promovida por novos conteúdos e ligações digitais, na qual todos somos simultaneamente consumidores e produtores, num processo que dispensará cada vez mais os mediadores tradicionais (como os jornalistas, por exemplo) e que se dirigirá a audiências altamente segmentadas.

No caso concreto de Portugal, em comparação com outros países, o estudo indica que “a comparação internacional revela a fragilidade nacional ao nível da circulação da imprensa diária, das marcas de abrangência internacional ou da participação ativa na internet”.

Metas até 2020

Entre as principais conclusões dos estudos até agora desenvolvidos, Barreto Xavier destacou-se a necessidade de aferir e sistematizar a informação sobre as práticas culturais dos portugueses e a promoção da mobilidade dos artistas.

O sociólogo José Luís Garcia disse ao jornal Público não ter dúvidas de que “estamos a viver uma mudança profundíssima”, que “o online está a absorver grandes áreas culturais” e que “o mundo da cultura” está ser reorganizado, com “novos modelos de negócio que ainda não estão estabilizados” e “mudanças muito difíceis de estudar”.

Quanto às metas para o futuro, Luís Garcia defende a necessidade de um grande “inquérito às práticas culturais” da população portuguesa, que vá para além do registo quantitativo e retrate a realidade detalhada do “recorte social” do público. Entre as recomendações mais concretas, fica a proposta de que “cada instituição e equipamento construa uma ‘carta de missão de serviço público'”, que serviria não apenas para clarificação externa, mas também para sua própria elucidação.