A Universidade do Porto (UP) e a Santa Casa da Misericórdia (SCMP) propõem-se a diagnosticar os problemas sociais da cidade do Porto. A parceria entre as duas instituições resultou na criação de um Observatório Social, com o objetivo de sinalizar as situações de risco e, a partir daí, definir linhas de atuação estratégica mais apropriadas.

José Marques dos Santos, no seu último ato oficial enquanto reitor da UP, falou aos jornalistas após a assinatura do protocolo e referiu que “os maiores problemas são aqueles que estão escondidos, aqueles que não se sabe que existem e são muitas vezes sofridos sozinhos”.

Da observação feita no terreno – essencialmente levada a cabo pela Misericórdia – “poderá resultar a identificação de áreas de emprego” para evitar uma “chaga social”, a taxa elevada de desemprego, como referiu Marques dos Santos. “De estudos já estamos cansados. Precisamos é de ações”, disse o antigo reitor. A opinião é partilhada pelo provedor da SCMP, António Tavares, que considerou que este observatório “ajudará à identificação de casos que poderão levar à criação de políticas públicas”.

“Dos estudos estamos todos cansados”

Apesar de só esta quinta-feira ter sido oficializado o protocolo, a ação da Observatório Social já está na rua há algum tempo. Marques dos Santos acredita que o projeto tem tudo para ser bem-sucedido. “Pelo interesse e experiência das duas instituições envolvidas, estou certo que o protocolo vai trazer resultados concretos e não meramente estudos. De estudos estamos todos cansados, precisamos de ação”, defendeu o antigo reitor.

Prémio para investigação

No âmbito do protocolo assinado esta quinta-feira, o responsável da SCMP adiantou que pretende lançar “antes das férias”, para entrar em vigor no próximo ano letivo, o Prémio Albino Aroso que vai começar com uma dotação de cerca de 10 mil euros. “Servirá de incentivo à participação de investigadores oriundos desta Universidade”, esclareceu António Tavares.

“A Santa Casa conhece muito bem a cidade, nós temos a parte científica e prática. Em conjunto, vamos fazer um trabalho muito importante”, explicou Marques dos Santos. O provedor da SCMP lembrou que a instituição tem muita informação – por exemplo na área da saúde – que pode ser transformada em conhecimento pela UP e ajudar à criação de políticas públicas que respondam às necessidades da cidade, da Área Metropolitana do Porto e, eventualmente, do país.

“Novas soluções para resolver velhos problemas”

Carlos Brito, pró-reitor da Universidade do Porto, lembra que esta parceria tem como foco principal a “inovação social”, uma área na qual a UP está “muito empenhada”. “Se somos tão bom a desenvolver software para a Agência Espacial Europeia, por exemplo, porque não também sermos bons a resolver problemas sociais que temos na esquina da rua onde a Universidade está instalada?”, questionou Carlos Brito.

Quanto a áreas de atuação, o pró-reitor realçou o trabalho que o Observatório pode desenvolver na área do envelhecimento populacional, um “segmento cada vez mais importante na nossa sociedade”, com vista a recolher informação e depois atuar no sentido de “dar qualidade de vida às pessoas mais velhas”. Carlos Brito realçou ainda a importância da inovação social em situações de pobreza.

“Há uma atenção particular na caracterização das situações de exclusão e de pobreza, tendo em vista recolher informação e ter material para que quem toma decisões as possa tomar de forma mais fundamentada e capaz de desenvolver políticas eficazes e capazes de resolver esses problemas sociais”, explicou.

O pró-reitor realçou ainda iniciativas dentro do raio de ação do Observatório, ligadas “à recuperação do património”, além de agirem também para apoiar os estudantes estrangeiros, num apoio em que a Universidade pretende “juntar a vertente social à vertente tecnológica”.

As residências universitárias

Outros projetos

A SCMP, em colaboração com a Universidade do Porto, irá incentivar trabalhos académicos dos estudantes, por exemplo os de Mestrado, nas áreas ligadas à geografia ou mesmo à história sobre a Santa Casa.

No âmbito do Observatório Social, a UP e a SCMP estão a instalar na baixa do Porto uma residência universitária para estudantes estrangeiros. Os quatro andares do edifício, com frente virada para as Galerias de Paris, poderão albergar cerca de 20 estudantes já no próximo ano. O projeto ainda está dependente do aval da Câmara Municipal do Porto e de algumas burocracias, mas António Tavares afirma que o prédio “é excelente” e que, por isso, não demorará muito a ficar pronto.

Marques dos Santos também já veio elogiar a iniciativa, explicando que “não basta à Universidade ser boa para atrair estudantes. A cidade tem de ser atrativa e ter condições de os acolher”. O antigo reitor acrescentou ainda que a vinda de estudantes internacionais “potencia a cidade, torna-a conhecida e traz turistas e negócios”.