Com o objetivo de evitar os elevados valores de mortalidade nos recém-nascidos através de infeções bacterianas, uma equipa de investigadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), liderada por Paula Ferreira, cativou o interesse da empresa Venture Catalysts para lançar a primeira vacina neonatal, administrada ainda em tempo de gestação.

O acordo foi feito entre o antigo reitor da Universidade do Porto (UP), José Marques dos Santos e pela IMMUNETHEP, empresa que surge do contacto da Venture Catalysts com a equipa de investigadores do ICBAS. Satisfeito com o acordo, o 18.º reitor da UP congratulou a equipa de investigadores, que estimula uma “mudança de atitude” na instituição.

A Venture Catalysts iniciou o contacto com a equipa do ICBAS há quase dois anos. Ao analisar os projetos da Universidade do Porto Inovação (UPIN), a empresa do UPTEC decidiu explorar o potencial da vacina em desenvolvimento pela equipa de investigadores.

Do contacto intensivo entre ambas as partes surge a IMMUNETHEP, que pretende alavancar este projeto pioneiro na área da saúde. De acordo com Bruno Santos, membro da Venture Catalysts, esta vacina é feita a partir de “péptidos, cujo objetivo é levar à formação de anticorpos que permitem que o corpo esteja protegido contra algumas infeções neo-natais, causadoras de doenças graves tais como a sepsis, meningite, pneumonia, entre outros”.

Proteger ainda antes de nascer

A novidade desta vacina relaciona-se com o facto de ser administrada ainda no tempo de gestação. “Algumas destas infeções ocorrem no feto, no interior da barriga da mãe, por isso é que procuramos administrar a vacina à mãe, que transmite esta proteção ao seu filho. Isto faz com que o bebé se encontre imune a infeções bacterianas ainda antes de nascer”, explica Bruno Santos.

O membro da empresa portuguesa reforça ainda o facto de este projeto ser completamente inovador e permitir combater o problema das infeções bacterianas, que afetam um grande número de recém-nascidos. “É um grave problema global que poderá ser resolvido com a implementação desta vacina, que será pioneira no mercado”, diz, acrescentando ainda que esta será a primeira vacina que protege os primeiros meses de vida do ser humano. “Normalmente, só a partir dos três ou quatro meses de vida é que se dão vacinas. Até lá, o recém-nascido encontra-se totalmente desprotegido”.

Ainda que os testes até agora realizados tenham sido bem sucedidos, a vacina só poderá ser administrada em humanos depois dos processos de aprovação na Food and Drugs Administration (FDA) e na European Medicine Agencies (EMA), entidades internacionais que aprovam a utilização e comercialização de fármacos. “Isto será um processo longo, demorará cerca de 10 anos até ser concluído”, sustenta Bruno Santos. No entanto, não deixa de reforçar o impacto e o prestígio associado a um projeto que decorre no seio da Universidade do Porto.

Notícia atualizada às 18h14 do dia 2 de julho de 2014. Foi acrescentado o depoimento de Bruno Santos, membro da Venture Catalysts.