Verónica Gomes tem hoje 30 anos e é, desde 2012, pós-doc no Ipatimup. Trabalha no grupo da Genética Populacional e uma breve análise do seu currículo mostra que desde cedo demonstrou interesse por este laboratório em específico. É que entre a licenciatura em Biologia na Universidade do Porto e o doutoramento em Santiago de Compostela, foi sempre mantendo alguma ligação ao Ipatimup.

Mas o primeiro contacto, ao contrário do que seria de esperar, foi bem antes do ensino superior. Em 2001, Verónica já era uma jovem curiosa, ainda que sem ideia nenhuma do que queria fazer no futuro. “Completamente às cegas, sem ideia nenhuma do que se fazia num laboratório”, como ela própria recorda, decidiu arriscar.

Inscreveu-se na Ocupação Científica de Jovens nas Férias (OCJF) da Agência Ciência Viva e começou, assim, um amor que dura até aos dias de hoje. “Foi uma experiência fantástica”, garante, no dia em que o 18.º aniversário do programa é festejado, na casa que a acolhe.

“É difícil arranjar uma história de tanto sucesso como a da Ciência Viva”

“Não poderia ser noutro sítio”, garante Rosália Vargas, presidente da Agência Ciência Viva, “porque aqui encontramos sempre uma colaboração extrema”. Uma decisão aceite “com muito gosto” por Sobrinho Simões que garante ser “difícil arranjar uma história de tanto sucesso como a da Ciência Viva”.

Estatística

E de facto, os números corroboram a história: este ano, por exemplo, as 1316 vagas (há 18 anos, era pouco mais de 100), receberam mais de 1320 candidatos (e ainda continuam a receber). Ao todo, pelo programa já passaram mais de 13 mil estudantes. Só o ano passado, 78% garante que esta experiência ajudou na escolha da carreira futura e quase 95% diz que os conhecimentos que adquiriram durante o período foram muito importantes para o seu futuro profissional. Verónica, João e Ana, corroboram.

Os que por lá passaram, tal como Verónica, parecem concordar. João Farrancha juntou-se ao programa há nove anos, durante duas semanas, quando “ainda não sabia o que ia fazer da vida”. Tem hoje 25 anos e fugiu ao laboratório, mas não à ciência: é aluno de Medicina na Universidade de Lisboa. “O período que estive cá influenciou bastante as minhas escolhas”, garante, “como a de permanecer sempre ligado às áreas científicas”.

Foi de propósito do Montijo para deixar o testemunho da sua experiência pessoal, mas acima de tudo “agradecer” a quem o acolheu. “Permitiram que aproveitasse tudo ao máximo. Estou muito agradecido”, afirma.

Nos corredores, João voltou a encontrar-se com Ana Silva, que não via desde que há nove anos foram colegas “Ciência Viva”. Ana “adorava biologia” e “andava á procura de tudo que pudesse fazer na área”. Acabou por se inscrever e “calhar no Ipatimup”, para uma experiência que lhe mudou “completamente a vida” e “confirmou aquilo que queria fazer”, diz.

“Muitos já dizem que a Ciência é a Cultura do século XXI”

Entretanto, seguiu a área do ensino, que a “preenche mais”, mas a paixão do laboratório nunca chegou a morrer. Para além disso, garante que, na altura da entrada na faculdade, superava os colegas em termos de conhecimento prático. Por isso, não tem dúvidas quando apela à participação: “É muito bom, sem dúvida”, afirma. “E numa altura em que há tantos cortes e tantas limitações, haver um laboratório que abra as portas durante as férias e pare investigadores para ‘tomar conta’ dos alunos, é uma vantagem enorme”.

Já Sobrinho Simões não tem dúvidas da validade deste projeto e da colaboração com o Ipatimup: “Muitos já dizem que a Ciência é a Cultura do século XXI”; por isso é muito importante “estimular os novos para o saber e para o gosto pela ciência”, porque até a “a população portuguesa, com todas as suas limitações – até de literacia – considera a ciência um bem”. “Um país como o nosso só se safa com duas coisas: educação, educação, educação e trabalho, trabalho, trabalho”, afirmou.

Por isso mesmo, os jovens deste ano já estão com “as mãos na massa” (ver/ouvir fotogaleria abaixo). Pelos corredores do Ipatimup, a nova geração de “ciências vivas”, como são chamados os jovens cientistas, já vai dando cartas há quase duas semanas e assim há-de continuar até final de agosto. Depois, o futuro ninguém o sabe. O que é certo é que “uma vez ciência viva, para sempre ciência viva”, garante Rosália.