Numa passagem pelo Rio de Janeiro para fazer a tese de mestrado, Ricardo Marques deparou-se com um jovem a andar numa prancha que parecia ser feita em cortiça. A coisa despertou-lhe a atenção. “Fui ter com ele. Mas ao ver melhor percebi que tinha apenas um revestimento de cortiça”. Sem saber, a ideia já estava a marinar: e se criasse uma linha de pranchas – de skate e de surf – estruturalmente feitas em cortiça?
Já em Portugal, começou a contactar empresas para encontrar material e partiu para a construção das primeiras pranchas. “Nunca tinha feito [uma prancha]. Fui experimentando… As primeiras foram para o lixo, claro”, sorriu ao contar ao P3. Praticante desde miúdo, Ricardo Marques é simultaneamente o construtor e a cobaia dos produtos da Bio Boards. Para já, tem handboards e skates completamente desenvolvidos e está a investir na afinação das pranchas de surf, cujas primeiras encomendas já chegaram.
Mas, afinal, o que faz um engenheiro ambiental a dedicar-se à construção de pranchas? “Toda a vida morei em frente à praia, [em Vila Nova de Gaia], fazia surf e skate. Vejo pelos meus colegas que não há emprego e estou a investir nesta ideia enquanto vou fazendo outros trabalhos que aparecem”, responde.
Sem produtos tóxicos
A relação com a formação académica está lá: este produto é green e quer “reduzir ao mínimo o impacto ambiental”. Sempre distanciado da produção de massa, Ricardo Marques quer “apostar sempre em coisas recicladas e quase sem produtos tóxicos” (o único produto tóxico que utiliza é a cola).
Estas pranchas portuguesas diferenciam-se por serem estruturalmente construídas com cortiça e não terem qualquer tratamento: “O que se vê geralmente são pranchas com revestimento de cortiça. As minhas são só cortiça e ao contrário do que alguns pensam são muito resistentes”.
A aceitação não tem sido muito fácil: as pranchas de skate com uma roda à frente e duas atrás assustam muita gente, mas Ricardo garante que uma vez ultrapassado esse medo todos gostam da experiência. “Parecem mais difíceis mas são mais fáceis e um ótimo treino para quem quer iniciar-se no surf”, argumentou, dizendo que a melhor forma de descrever o que se sente ao usar este skate longboard de 1,30 metros é “surfar no asfalto”.
Além das vantagens de serem recicladas, biológicas e amigas do ambiente, Ricardo gosta de destacar o lado estético: “Sou suspeito, mas acho-as muito bonitas. E são 100% personalizáveis. As pessoas dizem o que querem e eu construo”.
Caso os materiais estejam disponíveis, a prancha fica feita num dia. Há para já cinco tamanhos padrão, que vão desde os 50 centím aos 1,22 metros. Os preços variam entre os 40 e os 110 euros.