João Pedro Amorim completava o terceiro ano da Licenciatura em Ciências da Comunicação, que inclui um estágio curricular no segundo semestre, quando decidiu “mandar-se”. Contactou algumas empresas e foi de uma produtora audiovisual italiana que chegou uma resposta positiva.

A experiência chegou e foi acolhida de braços abertos pelo ex-aluno da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), mas a ideia inicial nem era tanto ir para fora: “O que eu queria era encontrar alguma coisa [na área do audiovisual] e encontrei muito mais oferta lá fora do que cá em Portugal”, conta. A curiosidade e a vontade de “experimentar uma forma diferente de ver” o audiovisual, levaram-no a fazer as malas e embarcar numa aventura de três meses.

“Mais de um em cada três estagiários Erasmus teve uma oferta de trabalho na empresa que os acolheu”

Em Itália, a trabalhar com uma equipa internacional, encontrou não só “uma cultura diferente” e “uma visão diferente”, mas várias culturas e várias visões da área. Hoje, percebe que a experiência, de que gostou “muito”, lhe permitiu que alargasse horizontes, desenvolvesse o inglês e lhe desse a conhecer uma nova língua: o italiano.

No fim, depois de uma temporada em Portugal, uma nova oportunidade: “Pediram-me que prolongasse o estágio, mas desta vez em Berlim”, conta. Em finais de outubro, João está outra vez de partida e passa a fazer parte das estatísticas a favor do Erasmus. É que segundo um novo estudo da Comissão Europeia, “mais de um em cada três estagiários Erasmus teve uma oferta de trabalho na empresa que os acolheu”.

O estudo – números

Os dados referidos pertencem ao novo estudo sobre o impacto do programa da União Europeia de intercâmbio de estudantes Erasmus, referido no texto. A avaliação, “elaborada por peritos independentes da CHE Consult, é a maior do seu género” e teve em conta a resposta “de cerca de 80 mil participantes de 34 países: 56.733 estudantes (com e sem experiência de Erasmus), 18.618 ex-alunos, 4986 professores (académicos e não académicos), 964 instituições de ensino superior e 652 empregadores (55% dos quais pequenas e médias empresas).

Para já, a oferta de João Pedro ainda não implica remuneração para além da bolsa, mas as perspetivas podem mudar. Se não for em Berlim, noutro sítio há-de ser. “Ainda não tive necessidade de estar em contacto com o mercado de trabalho, mas espero que sim, que [esta experiência] faça a diferença”, afirma. “Para além da vantagem linguística que me deu, pelo que tenho lido e pela experiência de colegas, há uma tendência para ser um ponto positivo na procura de trabalho”, afirma.

Mais uma vez, as estatísticas confirmam-no: “Os diplomados com experiência internacional têm mais êxito no mercado de trabalho”, lê-se, em comunicado. “A possibilidade de sofrerem uma situação de desemprego de longa duração é 50% menor em relação àqueles que não estudaram ou obtiveram uma formação no estrangeiro e, cinco anos após a graduação, a taxa de desemprego é inferior em 23%”.

É que para além dos conhecimentos em disciplinas específicas, os estudantes Erasmus “desenvolvem competências transversais que são muito apreciadas pelos empregadores”. 92% diz procurar “determinadas características de personalidade que são desenvolvidas pelo programa”: A aprendizagem de línguas ou uma outra visão das coisas, como referiu João Pedro; “a capacidade para resolver problemas, a curiosidade, o conhecimento dos seus próprios pontos fortes e fracos”, como refere o estudo.

40% dos alunos com uma experiência de mobilidade “mudaram de país de residência pelo menos uma vez desde a graduação”

Inês Alecrim, 25 anos, fala ainda da capacidade de “desenrascanço”. “O Erasmus desinibe qualquer um”, conta, e “muda muita coisa” – foi a pensar nisso que também se “mandou”. Os números confirmam: “Os estudantes Erasmus registam valores mais elevados relativamente a estas capacidades, antes mesmo de iniciarem o intercâmbio” e, quando regressam, “a diferença dos referidos valores aumenta 42%, em média, em comparação com os outros estudantes”.

O programa

“A mensagem é clara: quem estuda ou recebe formação no estrangeiro tem maiores possibilidades de encontrar um emprego”, refere Androulla Vassiliou, Comissária Europeia responsável pela Educação, Cultura, Multilinguismo e Juventude. Assim sendo, “o novo programa Erasmus+ oferecerá bolsas da UE a quatro milhões de pessoas entre 2014 e 2020, permitindo-lhes conhecer o que é viver noutro país no âmbito dos seus estudos, formação, atividade de ensino ou voluntariado”.

A trabalhar atualmente na Suíça, Inês podia fazer parte dos 40% que “mudaram de país de residência ou de trabalho, pelo menos uma vez desde a graduação” – quase o dobro do número relativamente aos estudantes que não participaram numa iniciativa de mobilidade -, não estivesse ainda a terminar o Mestrado Integrado de Arquitetura, na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP).

Quando chegou, sentiu logo a diferença por já ter participado numa experiência de mobilidade: “Já sabia como é a sensação de se chegar a um país em que não se conhece ninguém, já sabia como iam ser os primeiros dias, que são sempre os mais difíceis”, recorda. Hoje continua a ajudar, por exemplo, “em tudo o que é trabalho em equipa”, afirma.

Não foi a sua experiência pessoal de Erasmus na Eslovénia que diretamente lhe conseguiu emprego na Suíça – mas pode ter sido indiretamente, pelas capacidade que por isso adquiriu, pondera – mas o Erasmus esteve, de certa forma, presente. Foram outros amigos que tinham estado em intercâmbio naquele país que lhe garantiram que seria “uma boa oportunidade”.

É que 93% dos estudantes com experiência internacional parecem olhar para estas experiências de outra forma e ponderam vir a viver no estrangeiro no futuro. Uma possibilidade apenas reconhecida por 73% das pessoas que permanecem no mesmo país durante o período de estudos.