Esta terça-feira foi dia de festejar o São Martinho na Escola EB 1 São João da Foz, no Porto. Eram 09h30 quando, depois de algum tempo de chuva, a alegria instalou-se na sala do 3.º C, por ver que o sol já espreitava. Mas foi mesmo sol de pouca dura, visto que, vinte minutos depois, a chuva voltou a bater na janela da sala, levando mesmo a luz a apagar-se. Os alunos, alguns assustados, outros a rir, concordavam que não fazia mal, porque até se via melhor para o quadro interativo.

A incerteza do clima fez as crianças perceberem, depois de a professora alertar, que teriam de comer na sala as castanhas que o senhor Francisco, o castanheiro que a escola chamou para proporcionar aos alunos um ambiente de São Martinho, já estava a preparar, na sua mota, desde as 09h. Francisco vende castanhas há 51 anos. Mas “efetivo é só há 15”, diz. Trabalhara na construção civil e, nessa altura, a venda de castanhas era a ocupação das horas vagas. “Quentes e boas” são as palavras que adjetivam o produto que vende.

Os alunos da Escola São João da Foz tinham uma ordem a seguir para ir ter com o senhor Francisco e levar um cartuchinho com castanhas. Começava nos primeiros anos e assim ia, sucessivamente. Foi às 10h23 que chegou a vez do 3.º C. A excitação pela pausa na matéria que a professora estava a dar instalou-se na sala. Os olhos dos meninos brilhavam.

Todos se levantaram, sob as ordens da professora, ansiando o momento de ir buscar o seu cartucho. Antes, porém, ninguém saiu da sala sem arrumar a sua mesa, para comer as castanhas e ter espaço livre para as cascas. Formou-se a fila em frente à porta da sala e, três minutos depois, ouviu-se o toque que, naquela escola, melhor conhecem e mais desejam ouvir: a campainha.

Foram, dois a dois, até ao senhor Francisco, que já os aguardava com as castanhas no cartucho. Voltaram para a sala com um sorriso no rosto. Desta vez, a mesa não estava ocupada com livros, lápis e canetas. Mas com as castanhas, as cascas e os cartuchos que eles próprios fizeram para poder guardar aquelas que sobram e, assim, levar para os pais. As mãos de cada um deles perderam a cor natural, que é substituída pelo preto do carvão que assa as castanhas.

Às 10h50, a chuva dá tréguas e a professora Gabriela deixa-os ir “dar uma corridinha”. No meio de tanta brincadeira, de partilharem uns com os outros as castanhas e analisarem até o interior das mesmas, achando piada àquelas que, de oferta, traziam “bichinhos”, o Magusto na escola São João da Foz estava a ser uma alegria. De cinco em cinco minutos espreitavam pela janela da sala para ver se a professora já lá estava, mas esta foi simpática e deixou-os ficar mais tempo, para compensar a chuva que os impediu de vir festejar o São Martinho cá para fora.

Mas, afinal, por que se festeja o São Martinho? Alguns não sabem. A maior parte vive apenas a alegria de ser um momento que quebra a monotonia de um dia de aulas. Existem também os mais informados, que afirmam que esta é uma data que se festeja porque, um dia, um soldado romano partilhou metade da sua capa com um sem-abrigo. Contudo, ficam a questionar que terá isso a ver com comer castanhas. Estão com os amigos, brincam, as aulas param, comem castanhas (algo que foge à regra da roda dos alimentos de cada um) e, só por isso, “é fixe” – consideram os alunos do 3.º C.

São 11h45. Chega a hora de voltarem às aulas. A campainha volta a tocar. O tempo de intervalo foi tanto, que se ouve um burburinho geral sobre se já será a hora de almoço. Olham para o relógio e percebem que não. Mas animam-se, porque falta pouco tempo para a campainha voltar a soar. É desta maneira que se vive o dia de São Martinho na Escola São João da Foz. Para a professora, é tempo de abrir o livro de Língua Portuguesa na página 68.