Arte-final consiste na conclusão dos desenhos esboçados pelos criadores de banda desenhada. Esta atividade envolve passar a tinta o que está a lápis, enquadrar e diversificar planos e definir texturas. Resumindo, é fazer uma tradução correta do lápis para o papel, ou, atualmente, para os suportes digitais. Daniel Henriques faz tudo isso. Depois de começar como aprendiz, em 2011, do veterano arte-finalista Danny Miki, período em que trabalhou com vários títulos da Marvel Comics, desde 2013 que colabora a tempo inteiro com artistas da DC Comics.

Como é que nasceu o gosto pelo universo dos comics?

Desde pequeno que gostava de tudo que fosse relacionado com desenho. Comecei a colecionar comics aos 14 ou 15 anos. A parte artística e histórica da banda desenhada é diferente dos desenhos animados e, sinceramente, é uma coisa que me fascina mais.

Qual era a sua banda desenhada favorita quando era mais novo?

A minha banda desenhada favorita e a que me causou maior impacto chamava-se “Spawn”. Em Portugal pouco passou. No meu quinto ano de escola, um amigo trouxe-me um número do Canadá. Essa banda desenhada incluía coisas muito diferentes e mais violentas do que aquelas que eu estava habituado a ver cá em Portugal. Foi a que teve um impacto maior nos meus gostos.

Considera que essa banda desenhada o influenciou de alguma maneira a escolher esta profissão?

Sim, teve influência direta. Desde sempre idolatrei o arte-finalista dessa banda desenhada, Danny Miki. Muitos anos mais tarde, ele contactou-me para fazer parte do estúdio dele, o que foi uma coisa bastante surreal. Por outro lado, um dos meus grandes objetivos de vida é vir a trabalhar com Todd MacFarlane, o criador do “Spawn”. Ou seja, até nos dias de hoje e nos meus planos futuros, “Spawn” ainda está bastante interligado com os meus objetivos.

Esse é o seu sonho nesta área profissional?

Completamente! Muitas pessoas sonham em trabalhar para a DC ou para a Marvel, ou até nalgum projeto específico, como, por exemplo, o Super-Homem. Eu quero fazer o que gosto e sustentar a minha família, mas em termos de objetivo pessoal, eu faço mesmo intenções de, um dia, trabalhar com Todd MacFarlane. Não pretendo isso pelo poder monetário, mas por ser mesmo um objetivo pessoal.

Porquê ser um arte-finalista e não um desenhador de comics? O que o apaixona mais na arte-final?

A possibilidade desta arte me permitir trabalhar em equipa com os meus artistas favoritos. É poder concretizar os sonhos de trabalhar com as pessoas que me fizeram apaixonar por esta profissão.

Considera que, mesmo fazendo a arte-final, tem liberdade criativa suficiente para “preencher a alma”?

Às vezes sim, outras vezes não. Depende bastante do desenhador, do editor e dos prazos. Em geral, acho que há bastante liberdade. Uma das coisas nas quais os desenhadores se esforçam muito é, por exemplo, nas expressões faciais dos personagens. É uma coisa onde se tem de ter bastante cuidado para conseguir captar as subtilezas do olhar. Conseguindo atingir isso, tudo o que seja nos backgrounds, no hatching das figuras, permite ter bastante liberdade em termos de texturas e tudo isso. Dá para complementar o trabalho do desenhador sem exagerar e tapar o trabalho anterior.

Que trabalhos planeia levar para a Comic Con?

Basicamente vou mostrar o que tenho vindo a fazer. No ano passado estive a trabalhar na “Batgirl” e no “Birds of Prey”. Este ano tem sido no “Green Arrow”. Vou levar pranchas originais e vou estar também a trabalhar um pouco no local. Acho que é interessante para as pessoas verem. É uma coisa que eu também anseio por ver dos artistas que lá vão estar: os trabalhos originais deles, porque eu sou bastante fascinado por isso.

Ficou surpreendido quando soube que ia haver uma Comic Con Portugal, uma vez que o mercado português não é tão grande como o dos outros países onde o evento costuma acontecer?

Não fiquei surpreendido. Estive recentemente na New York Comic Con e o modelo de convenções que eles utilizam não se pode comparar com o que se faz aqui em Portugal. Vendo tudo o que este festival vai englobar, acho que vai ser muito bom, tanto para os artistas, como para os fãs das várias áreas. Vão poder explorar um pouco de tudo. Sinceramente, é uma iniciativa que me está mesmo a entusiasmar como artista e como fã. Tenho sempre um bocado de receio por causa do panorama económico em que Portugal se encontra, mas, em geral, estou mesmo com esperanças que vá haver muito boa adesão ao festival.