Alerta para o desperdício de papel e é feito precisamente com papel e cartão reciclado. “Papel de Natal” é um filme de animação português com uma mensagem ecológica e pretende sensibilizar para um consumo mais sustentável. Estreou a 18 de dezembro.
O filme conta a história de Camila, uma menina de oito anos cujo pai desaparece numa floresta e ninguém consegue encontrar. Resolve, por isso, construir um boneco de cartão – o Dodu – com o qual acredita que pode trazer o pai de volta. Coloca o boneco num envelope e envia-o pelo portal (marco de correio). Dodu ganha vida e entra num mundo paralelo de papel, onde vai resgatar o pai de Camila das garras do Monstro Desperdício. É este o trailer do filme dirigido pelo cineasta português José Miguel Ribeiro.
Para criar os dois mundos paralelos – o de papel/cartão e o real – foram utilizadas igualmente duas técnicas paralelas: a animação e a imagem real. “É um filme que fala de papel e é feito de papel. É feito através de stopmotion, onde os bonecos e os cenários são construídos com materiais e depois são filmados”, conta o realizador ao P3. Dodu é feito literalmente de cartão e o Monstro do Desperdício é feito precisamente de desperdícios de papel. Estas são algumas das personagens do “mundo de papel”, num cenário onde todas elas são construídas a partir de restos de papel e cartão reciclado.
A própria criação das personagens assenta, assim, na sustentabilidade. “É um alerta. Pretende chamar a atenção para um problema de todos. Os problemas de sustentabilidade do planeta não são problemas que algumas pessoas possam dizer que não são deles”, observa.
Papel de embrulho: de “precioso” a “lixo”
“Queríamos falar do papel como um elemento simbólico do Natal”, refere José Miguel Ribeiro. “O que é perverso é que, como somos muitos e cada um recebe presentes, a quantidade de papel acumulada de 24 para 25 de dezembro é gigantesca. E isso reflete a relação do homem com a Natureza neste momento. Estamos muito fixados nos nossos interesses e no que são os nossos momentos de prazer e esquecemos os efeitos que isso tem”, acrescenta.
Embora reconheça que também existe um grande desperdício fora da época natalícia, o realizador considera que “o Natal tem essa capacidade de concentrar, num momento muito curto, esse contraste: a transformação tão imediata e violenta de um material precioso (o papel de embrulho) para um material supérfluo e de lixo”.
Foi precisamente numa noite de Natal que a ideia para o filme começou a surgir. “Fui-me apercebendo que na noite de Natal as crianças abrem os presentes e passado uma hora estou eu no caixote do lixo com os restos de papel”, recorda José. Essa situação colocou-o então a pensar nesta temática: “Antes [esse papel] é uma coisa valiosíssima e depois de um minuto é um lixo que está no chão e que toda a gente se quer ver livre dele”, remata.
Quatro anos para chegar às salas de cinema
A ideia começou a ganhar forma em 2010 e a produção iniciou-se logo no ano seguinte. Nesse ano a parte da animação ainda chegou a ser concluída, mas o filme estava ainda longe de estar finalizado, quando começou a faltar financiamento. Ficava então “no congelador” durante alguns anos. “Papel de Natal” foi “descongelado” em 2014, ano em que conseguiram o apoio logístico e financeiro que faltava para concluir a produção, por parte das autarquias de Almada e Montemor-o-Novo e da produtora Praça Filmes. As filmagens no exterior decorreram em Almada e as de interior em Montemor-o-Novo.
“Papel de Natal” dura cerca de 40 minutos e estreou-se a 18 de dezembro. O filme está nas salas do UCI Cinemas (Porto e Lisboa), do Cinema City (Lisboa, Leiria e Setúbal) e do Cinema Ideal (Lisboa). Além disso, já foi lançada uma aplicação, que inclui um livro digital sobre a história. Como frisa José Miguel Ribeiro, este livro “não é apenas um PDF”, mas contém também “movimento e animação”. A aplicação está disponível para Apple e Android.