A “maior figura mundial de humor, um homem de uma sagacidade muito grande, arguto, incisivo, com uma vida tranquila”. Vida essa passada a desenhar: sempre de “traço firme”, fosse “ao almoço ou ao jantar, em qualquer lado”, o caderno era o seu melhor amigo. É assim que Luís Humberto Marcos, diretor do Museu Nacional de Imprensa (MNI), lembra Georges Wolinski, vítima do atentado ao semanário Charlie Hebdo, esta quarta-feira, em Paris.

Conheceram-se por várias paixões em comum: o cartoon, o humor e o Porto. Desde 2004 que Wolinski era presidente do júri do PortoCartoon, organizado pelo Museu Nacional de Imprensa. Assumia-se “um apaixonado pelo Porto”: “A última vez que esteve na cidade, em junho, falou-me da vontade que tinha em, futuramente, adquirir uma casa aqui, para viver”, conta Luís Humberto Marcos.

O atentado

No massacre da Charlie Hebdo, um ataque terrorista ocorrido em Paris esta quarta-feira, 7 de janeiro, morreram doze pessoas. Entre elas o diretor da revista satírica, Stephane Charbonnier (ou Charb), e alguns dos seus fundadores e dos nomes mais importantes do cartoon político, como Jean Cabut (Cabu), Bernard Velhac (Tignous) e Georges Wolinski.

“Sempre presente nos momentos mais marcantes”, acompanhou o lançamento do Museu Virtual do Cartoon e foi considerado, em 2014, o cidadão honorário do “Porto, Capital do Cartoon”. Em retorno, o Porto presta-lhe uma última homenagem: esta sexta-feira, 9 de janeiro, às 16h, acontece uma pequena cerimónia, presidida por Rui Moreira, em frente à Câmara Municipal do Porto, junto à estátua de Almeida Garrett. Também o Museu Nacional da Imprensa, organizador do Porto Cartoon, decretou esta quarta-feira uma semana de luto pela morte de Wolinski e os seus colegas.

Com 80 anos e meio século de carreira, Wolinski tornou-se cartoonista em 1960 e era, atualmente, o “autor de humor mais publicado em França”. O seu trabalho podia ser visto não só na Charlie Hebdo, como no jornal Libération e no Paris-Match, L’Écho des savanes.

“O que foi atingido foi, de facto, um dos bastiões da democracia, que é a liberdade de expressão, e sobretudo a liberdade de imprensa”, afirma Luís Humberto Marcos. “No jornalismo gráfico, com traços muito simples e incisivos toca-se, muitas vezes, no centro da ferida. No ponto mais nevrálgico daquilo que importa denunciar no trabalho jornalístico”, sublinha Luís Humberto Marcos.

“O que eles [terroristas] quiseram fazer foi asfixiar-nos, asfixiar a sociedade. O humor é um pulmão essencial á nossa respiração. Rir é um direito basilar da natureza humana” e “o que os cartoonistas atacam é a má utilização, ou a utilização violenta do Islão e da figura de Maomé, para este tipo de atrocidades”, ressalva. “O jornalismo sempre foi uma profissão de risco, o que é preciso é não deixar que o medo vença e que os algozes saiam vitoriosos”, conclui.