No mundano exercício de imaginar a mala de viagem perfeita, existem alguns elementos, essenciais para tantos nós, que não podem falar. Ou, pelo menos, uns quantos problemas que têm de ser, forçosamente, evitados. Senão, vejamos: quantas vezes te apercebeste que deixaste um papel importantíssimo bem no fundinho da mala e, para o reaveres, és obrigado a mostrar a todos os transeuntes o teu guarda-roupa? Ou, durante uma escala, quanto tempo já passaste a percorrer o aeroporto de carregador em punho à procura de uma tomada livre?

Esta entrada exageradamente pormenorizada talvez já denuncie o acumular de uma série de frustrações, partilhadas, quiçá, por muito boa gente. Por enquanto, pelo menos. É que está a chegar a Trunkster: uma mala — ou uma bagagem salva-vidas — criada “especificamente para esta geração em trânsito”.

Um sucesso no Kickstarter, a Trunkster diz ser a “bagagem mais revolucionária do mundo”. Tem uma porta de correr, que substitui os habituais fechos (éclair ou não), uma balança digital, para ninguém ser surpreendido com o trágico aviso de excesso de peso antes do “check-in”, e um braço que, ao contrário de 1001 “trolleys”, é robusto e permite um sereno passeio lado a lado, de mãos dadas, mala e pessoa. O modelo de bagagem de cabine (“carry-on”) inclui ainda um banco de energia removível com porta USB, que permite carregar o telefone até nove vezes, e enquanto se caminha. E nada de bagagem perdida: por mais 40 dólares, a Trunkster pode incluir GPS, podendo ser localizada a partir de diferentes dispositivos, tal como o “Find My iPhone” da Apple. Algumas destas características já estavam presentes noutros modelos de malas de nova geração, como a Bluesmart.

É a bagagem que os inventores, Gaston Blanchet e Jesse Potash, sempre desejaram ter. Os nova-iorquinos estão tão confiantes na “durabilidade e qualidade” da mala, um “produto de excelência a nível mundial”, que concedem a todos os apoiantes do projecto uma garantia de cinco anos sem direito a perguntas — “isto significa que se alguma coisa acontecer à tua Trunkster, só a tens de a enviar de volta e nós consertámo-la ou substituímo-la”.

O “crowdfunding”, que arrancou em finais de Novembro, já ultrapassou, há muito, o objectivo inicial de 50 mil dólares (cerca de 42 mil euros). Gaston e Jesse contam agora com cerca de 850 mil dólares angariados (710 mil euros), mas não vão ficar por aqui — até ao lavar dos cestos é vindima e a campanha só termina a 17 de Janeiro. Grande parte das recompensas, que pressupunham a compra da(s) mala(s) com uns descontos bastante simpáticos, já esgotaram. Os criadores estimam que o preço de venda ao público da bagagem de mão ronde os 500 dólares (cerca de 420 euros), enquanto que a de porão ficará pelos 600 (503 €). Mas ainda é possível, com 295 dólares (mais 100 de portes) apoiar o projecto e receber uma mala em casa.