A poucos dias das eleições legislativas na Grécia, as sondagens ainda não mostram um vencedor claro. O Syriza, ­partido da extrema-Esquerda, ­lidera as intenções de voto, mas a vantagem é insuficiente para formar Governo. Alexis Tsipras, o carismático líder do partido, tem­-se fechado a alianças e, nesse cenário, a Grécia terá de ir para segunda ronda de eleições.

Esperança é a palavra central da campanha de Tsipras, que tem agora um discurso menos radical do que há alguns meses. A saída do Euro está fora de questão, mas ainda há muitas
vozes na Europa em alerta. O Syriza quer reduzir a burocracia, a corrupção, os impostos e “resolver a crise humanitária”. A confiar nas sondagens, a Nova Democracia ficará em segundo lugar. Samaras, líder da Nova Democracia e atual primeiro-­ministro, promete baixar os impostos, descarta mais cortes nos salários e pensões e afirma ser o partido da estabilidade.

O dilema está na terceira força que pode vir a ser a Aurora Dourada (AD), partido neo­-nazi com membros na prisão, acusados de homicídio e de criarem uma organização criminosa. É improvável que Syriza ou Nova Democracia tentem coligar­-se com a Aurora Dourada, mas com o receio do fracasso na formação de Governo é um cenário possível. A acontecer, os membros da AD teriam de ser libertados. Nas eleições europeias de 2014, o partido fascista destacou-se como terceiro partido, com 9,4%.

A fragmentação da Esquerda é outro fator que pode dificultar uma maioria no Parlamento. O “To Potami” é um dos mais recentes partidos a juntar­-se à corrida eleitoral. Papandreou ­- o ex­primeiro ministro que saiu do Governo em 2011 com o mandato por terminar -­ afastou-­se do PASOK e criou um novo partido. O PASOK, que em 2009 venceu as legislativas por 44% está agora reduzido a cerca de 4%, e pode ser mesmo ultrapassado pelo KKE – Partido Comunista.

Mudança ou estabilidade

Nas ruas de Salónica, no norte grego, é Syriza o que mais se ouve na boca dos mais jovens. Alguns nem confiam numa mudança nas mãos de Tsipras, mas estão cansados de “ter sempre os mesmos”, porque “já tiveram a oportunidade deles”. Por isso, a “extrema” Esquerda parece ser a única saída. Outros acreditam que pode ser uma mensagem de mudança para a Europa.

Apesar desta impressão geral há jovens apoiantes do partido do Governo, “o partido que teve coragem de fazer o que está a ser feito”. Os apoiantes da Nova Democracia receiam que a instabilidade possa prejudicar o país e um voto em Samaras será a continuação da recuperação económica.

A corrupção é um dos maiores problemas dos helénicos. Uma jovem pediu anonimato para lamentar a desigualdade entre os gregos. “Se eu destruir um banco ou lojas vou presa, mas se algum ‘anarquista’ fizer algo de errado não lhe acontece nada porque é político”, afirma. A jovem de 24 anos considera mesmo: “A corrupção está­-nos no ADN”.

Serão 9,8 milhões, os eleitores que vão ser chamados às urnas no domingo, de onde poderá sair um vencedor histórico ou adiar-­se a decisão para fevereiro, para nova ronda de eleições.