É um casamento entre atores profissionais e amadores, portuenses escolhidos em castings feitos no estigmatizado bairro do Aleixo, que é “uma montra para a realidade dos trabalhadores menos protegidos da pirâmide laboral”. Depois de algumas passagens por festivais e três prémios arrecadados, “Bicicleta”, o mais recente filme do realizador Luís Vieira Campos, com argumento de Valter Hugo Mãe, inicia nesta quinta-feira, dia 29, a distribuição nacional em redes alternativas de auditórios municipais e cineclubes.

Nos dias 29 e 30, às 22 horas, a curta-metragem de 48 minutos vai estar no Pequeno Auditório do Rivoli, no Porto, com sessões apresentadas por João Teixeira Lopes e Álvaro Domingues, respetivamente.

O projeto de Luís Vieira Campos iniciou-se em 2009, com um convite que dirigiu ao escritor Valter Hugo Mãe, para que “escrevesse um argumento que tivesse inspiração no ‘Ladrões de Bicicletas’, do Vittorio De Sica, mas que se passasse no Porto dos nossos dias, uma década para a frente ou para trás”, conta o realizador, criador da produtora Filmes Liberdade. Uma das premissas foi que os habitantes do Aleixo pudessem entrar no filme como atores: “Fizemos castings para selecionar atores e apanhámos todo o processo do início do fim do Aleixo. Acompanhámos as demolições, as saídas das casas. Era uma corrida contra o tempo — nós a tentarmos arranjar dinheiro para filmar e o bairro a ir abaixo”.

Bilhetes

Enquanto não esgotarem, os bilhetes podem ser adquiridos no próprio Teatro Rivoli ou, então, aqui, a um preço de três euros.

Boas relações com os habitantes

A curta-metragem é integralmente filmada na torre número três do bairro, que recebeu a equipa de Luís Vieira Campos da melhor forma possível: “Eu comecei este trabalho em 2009, por isso, quando a equipa começou a ir comigo, no fim de 2012, eu já me sentia muito à vontade. A partir de certa altura até nos sentíamos à vontade de mais. Um dia, um dos atores estava com dificuldade em concentrar-se e foi para o carro para relaxar. Mais tarde chamei-o, ele subiu e deixou, toda a tarde, o carro aberto com a chave na ignição, e a carteira no banco. Não aconteceu nada. Outro dia, uma pessoa do bairro que nos ajudou muito veio entregar-me a chave da carrinha de imagem, que tinha ficado na fechadura da mala onde estava todo o material, a dizer-me: ‘Oh Luís, vocês fiquem à vontade mas também não exagerem'”, recorda o realizador.

O filme “Bicicleta” “parte do conceito de vizinhança e de família”. “É um filme sobre o lado popular da vida, essa partilha de um espaço que se vai imiscuindo no quotidiano de cada um, criando uma interdependência que propaga notícias e cria situações tanto dramáticas quanto divertidas”, lê-se na sinopse escrita por Valter Hugo Mãe. “É uma reflexão sobre o instinto de sobrevivência e a extrema defesa da dignidade que mostra ainda o bairro do Aleixo como uma cidade vertical, vendo o interior das torres como ruas ao alto, onde a sorte dos cidadãos se resolve tão longe de um Portugal dito convencional.”

“Bicicleta” já conquistou o prémio “TAP” no 22.º Festival Curtas Vila do Conde, o prémio BEST SHORT FILM- Fiction, no Arquiteturas Film Festival Lisboa e ainda as distinções de melhor curta e melhor atriz secundária, para Adelaide Teixeira, no XX Festival Caminhos do Cinema Português. Depois do Rivoli, o filme vai passar por outras salas de outras cidades, que irão sendo divulgadas na página do Facebook do filme.