Seja um perna de pau, uma banana, o Fantastic Mr. Fox ou o R2-D2 — com as meninas da Piñata Colada, tudo pode ser uma pinhata. “Uma quê?” Está a ver aqueles filmes americanos de domingo à tarde em que, em plena festa de aniversário, uma endiabrada criança, geralmente de olhos vendados, destrói com um pau um colorido objeto que pende acima da sua cabeça e, em troca, recebe uma chuva de guloseimas e presentes?

Seja bem-vindo ao maravilhoso (novo) mundo das pinhatas, um elemento imprescindível em qualquer celebração mexicana, país onde as há para todos os gostos e feitios, mas também uma tradição crescente noutras partes do globo (há quem diga até que nasceu na Península Ibérica). Em Portugal, já as vemos amiúde numa ou noutra loja de de artigos para festas, mas não, asseguram-nos Ana Magalhães e Helena Carvalho, com a versatilidade e criatividade da Piñata Colada.

Tudo começou em abril do ano passado. Ana fazia 31 anos e, como já é “tradição”, preparou com esmero o seu piquenique de aniversário. Para além dos habituais jogos que os convidados costumam levar, estava a pensar numa coisa diferente. “Queria uma pinhata na minha festa de anos”, confessa, entre risos, ao telefone com o P3. “Pareceu-me bem haver esse ponto alto a meio do piquenique”. E Helena, sua colega de casa, “prontificou-se a ajudar”. Designers de formação, ambas embarcaram na “aventura” de fazer uma pinhata em forma de gelado numa semana. E depois, claro, veio o poder do Facebook. “Partilhei uma fotografia no meu perfil pessoal a dizer, na brincadeira, ‘aceitam-se encomendas'”.

Cinquenta pinhatas depois…

Pois é, a brincadeira depressa deu lugar ao negócio. Semana após semana, foram recebendo pedidos e mais pedidos, até que, passado três meses, decidiram oficializar o projeto. E aí, então, nasceu a Piñata Colada, que já deu mais de 50 pinhatas ao mundo — 16 pendem agora numa montra da Sisley em Florença, Itália. “Foi a primeira grande encomenda e foi incrível, mas muito árduo”. Até porque ambas (Ana é diretora de arte numa agência de publicidade e Helena é designer gráfica freelancer) só conseguem dedicar-se às pinhatas à noite e aos fins-de-semana. E fazem da sua casa, em Lisboa, o seu estúdio, onde contam com a preciosa ajuda de um terceiro elemento, essencial para secar as pinhatas: o desumidificador. “É muito difícil viver com 16 pinhatas em casa”, graceja Helena. “Era impossível andar na nossa sala”.

É esse o caminho que gostavam de seguir — construir pinhatas para montras, videoclipes, cenários, catálogos de moda, decorações de lojas, eventos. Mas também recebem encomendas de particulares. “A pinhata funciona muito bem como presente”, sublinha Helena. “Para casamentos, despedidas de solteiro. É uma prenda super engraçada para se levar para uma festa. E não é só um objeto, oferece-se uma experiência”. Já houve casos, até, de pessoas que, de tanto gostarem, não conseguiram quebrar as suas pinhatas. Ou partem com jeitinho. Potencial de negócio n.º 2: “Restauro de pinhatas”.

À quarta-feira, dia em que o cartão é recolhido no bairro, lá estão elas a pecorrer as ruas em busca da matéria-prima, usada para fazer a estrutura do objeto. Depois, com os restos do papel crepe, usado para decorar as pinhatas, fazem confetis que incluem no interior. Se no início encarregavam-se do recheio, agora todas as pinhatas têm uma “portinha camuflada” para que o cliente possa pôr o que quiser. O prazo de entrega ronda geralmente as duas semanas, uma vez que os materias têm de secar. Enviam para todo o país; só pedem, em troca, uma fotografia ou vídeo do “momento” da destruição. Não, não é masoquismo.

E, se depois disto, mal pode esperar para ter uma pinhata pendurada no teto, só tem de mandar uma mensagem e acordar forma, cores e orçamento, que, para clientes particulares, vai dos 40 aos 85 euros. “Depende da estrutura, do número de cores, do papel”. Se estiver sem ideias, fique a saber que Ana e Helena têm uma lista “enorme” de pinhatas que ainda não fizeram e que, de quando em quando, lá tentam “impingir” — entre elas, há um “gameboy”, um baton, um perfume Chanel Nº5 e uma peça de lego. Fica o aviso.