As garraiadas disputadas na Póvoa de Varzim ocupam o último dia da semana académica do Porto. O presidente da Federação Académica do Porto (FAP), Daniel Freitas, considera que esta iniciativa “é uma tradição da academia, envolvida no âmbito da Queima das Fitas”. O desrespeito aos direitos dos animais levou a que as Associações de Estudantes (AE) tomassem posições diferentes. Até meados de março, está prevista uma Assembleia Geral (AG) em conjunto com a FAP, para se decidir o futuro deste evento e se deve ou não ser financiado por este organismo.

“Não é uma atividade que se enquadre no contexto da Queima das Fitas”

Desde o início do ano que as AE têm reunido para definir uma opinião quanto às garraiadas. A 15 de janeiro, os membros da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras (AEFLUP) abstiveram-se na AG da FAP relativa ao “Plano de Atividades e Orçamento da FAP”. Num comunicado emitido pela AEFLUP, alertam para a “ausência de objetivos claros plasmados no plano de atividades sobre a defesa dos direitos estudantis” e exigem “coragem por parte das AE presentes na FAP para terminar com a atividade da Garraiada no programa da Queima deste ano”. O presidente André Silva considera que “é uma atividade claramente ultrapassada e não faz sentido nenhum associá-la a uma tradição académica, à qual foi adicionada e nunca fez parte de uma forma central e decisiva”. A posição da mesma é justificada com “um fator animal, há um fator de saúde pública e de risco e há, também, um fator de contextualização académica que não é tão claro como querem fazer parecer”.

A presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina (AEFMUP), Diana Rodrigues, afirma que “não é uma atividade que se enquadre no contexto da Queima das Fitas, nem a atividade que melhor dignifique os estudantes da Academia do Porto”. São necessárias alternativas para o último dia da semana académica portuense. Sara Oliveira, presidente da Associação de Estudantes do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (AEICBAS), explica que “não é correto maltratar e desrespeitar os animais só para o divertimento dos estudantes do Ensino Superior”. O presidente da Associação de Estudantes de Belas Artes (AEFBAUP), Gil Sousa, vai mais longe, ao afirmar que “não há motivo mais válido do que nós, seres humanos, sermos conscientes o suficiente para perceber que os direitos dos animais são iguais aos direitos do Homem”.

Gonçalo Namora, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito (AEFDUP), mesmo sem ter realizado uma reunião oficial, renova a posição do ano anterior contra as garraiadas. Volta a subscrever a Moção da AEICBAS contra as garraiadas, ao alegar que “uma Federação Académica, enquanto representante de estudantes universitários conscientes e com os valores que devem defender, não deveria financiar uma atividade deste género”.

A favor das Garraiadas

O presidente da associação de estudantes da Faculdade de Economia (AEFEP), Vasco Moreira, contactado pelo JPN, revela que os alunos estão a favor de manter a tradição, mas não apresenta motivos para esta opinião.

Ainda não há uma posição

Nem todas as AE realizaram Assembleias Gerais a propósito do evento que decorre na Póvoa de Varzim. A Associação de Estudantes da da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (AEFPCEUP), a Associação de Estudantes da Faculdade de Desporto (AEFADEUP) e a Associação de Estudantes da da Faculdade de Ciências (AEFCUP) não assumem ainda qualquer posição.

O presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Engenharia (AEFEUP), Bruno Sousa, aclara que não há uma postura assumida por parte desta AE, pois “a existência da garraiada deve estar condicionada à adesão que tem”.

Daniel Freitas, presidente da FAP, explica que “a garraiada tem aqui pendores diferentes. Não é como na tourada, não é um ambiente de tortura do animal. É mais um evento recreacional que tem aspetos culturais”. Quanto à posição defendida pela Federação Académica, o presidente refere que “se fizer sentido para ambas as partes [Magnum Consilium Veteranorum e Associações] terminar com esta atividade, assim será, e, se fizer sentido continuar, também assim deverá ser cumprido”.

O JPN tentou entrar em contacto com a Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina Dentária (AEFMDUP), a Associação de Estudantes da Faculdade de Farmácia (AEFFUP), a Associação de Estudantes da Faculdade de Arquitetura (AEFAUP) e a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (AEFCNAUP), mas não foi possível estabelecer qualquer ligação.

As Associações de Estudantes e a Federação Académica do Porto reúnem-se em março, para discutir o programa do último dia da Queima das Fitas 2015 e o financiamento da FAP. A Garraiada Académica está agendada para o dia 10 de maio, data a confirmar.