Porto: A cultura vegetariana fora do prato

São lugares que não pretendem ser rotulados como “espaço de refeições” e oferecem sempre algo de especial a quem os procura. O JPN foi atrás destes locais que, ligados à cultura vegetariana, se foram espalhando pela cidade. Dos pioneiros aos mais recentes, todos têm em comum a vontade de apoiar um modo de vida em crescimento e constante reinvenção.

Quintal Bioshop – Da loja familiar à cafetaria caseira

À entrada parece ser apenas uma loja de produtos alimentares. Após percorrer o corredor, entre caixas de chá e sabonetes artesanais, chega-se à cafetaria. O Quintal Bioshop faz, assim, a ponte entre os produtos – a cru – e a sua confeção.

Quando abriram, há oito anos, eram das poucas lojas biológicas no Porto. Hoje, é conhecido por ser um espaço que oferece um ambiente familiar. “Os nossos clientes já são amigos, fazem parte do nosso dia-a-dia, desta casa”, diz Alice Martins, funcionária da loja. Dentro do espaço que têm, apostam na maior diversidade possível de produtos. Desde a alimentação biológica a produtos de limpeza naturais. “Aqui, o que interessa é o meio ambiente, a saúde”.

Há um ano que, por motivos de logística, passaram a parte da cafetaria a exploração. A cargo de uma ex-jornalista, este espaço oferece um vasto leque de petiscos ligeiros e introduziu, há pouco tempo, um prato quente do dia. Sob o lema “nós somos o que comemos”, defendem que, apesar de mais caro, a alimentação biológica “faz a diferença a longo-prazo”.

Black Mamba – Quando o hambúrguer vem com música

Inaugurada no último fim-de-semana de novembro, Black Mamba – Burgers & Records é uma loja de discos, especializada em vinil, e também um espaço de “fast-food vegan”, que oferece hambúrgueres e sobremesas. Há muitos anos que Pedro (vegan) e Tucaiana (vegetariana) tinham o sonho de juntar os dois conceitos num só. Pedro já tinha uma editora de música, a Ruins Records (agora associada ao espaço), focada em estilos mais underground, como o punk, hardcore e metal.

Apanharam o boom do turismo no Porto, mas também a crescente moda das hamburguerias. E por que não juntar outra necessidade em falta na cidade? “Queríamos comer hambúrgueres e não tínhamos quase nenhuma opção. Enquanto consumidor de vinil, e já há alguns anos colecionador, se saísse para comprar discos também não tinha grande oferta dentro destes estilos de música. Sentia falta de uma boa loja direcionada a este nicho”. Trabalhavam em áreas distintas: Pedro em cinema, Tucaiana em serviço social. Em Barcelona já tinham visitado um espaço de “fast-food vegan”, também à base de hambúrgueres, e pensaram que “fazia todo o sentido trazer isto para Portugal”.

Os hambúrgueres são servidos em menus que rondam os 7 euros. Os proprietários têm cuidado com a qualidade dos produtos: tudo é biológico. Trabalham com produtores locais, o que, “apesar de mais caro, vale a pena”.

Recentemente, têm pensado em desenvolver palestras, workshops e projetar filmes “relacionados com a temática vegan e outras temáticas mais underground“. Pedro pretende que as pessoas se sintam à vontade e que desfrutem da aliança entre o espaço e o conceito.

Yours Bistrô – Há opções para todos os gostos

Foi há seis anos, numa viagem à Índia, que nasceu o projeto de criar uma guesthouse. Luísa e o marido são os anfitriões e foi o “gosto de receber as pessoas e de fazer um projeto para a cidade” que os fez abrir este espaço. Depois, foi “procurar o prédio perfeito e desenvolver toda a parte da estrutura do negócio”.

O Yours Bistrô, criado há um ano, prima pela diferença. Junta o alojamento local a um restaurante que, apesar de oferecer comida tradicional portuguesa, de forma reinventada, tem apostado bastante no vegetarianismo. “Há muitos [estrangeiros] que cá vêm precisamente pela opção do vegetariano. E os portugueses acho que, cada vez mais, também estão a adotar uma alimentaçao mais saudável”. É no Bolhão que encontram a maior parte dos produtos frescos, apostando assim também no comércio local. Para Luísa, “o vegetariano foi uma boa aposta e é, sem dúvida, uma boa aposta na cidade”.

daTerra – Retiro vegetariano na cidade dos pescadores

O espaço daTerra é conhecido por ser um dos primeiros restaurantes vegetarianos no Porto. São já oito anos a oferecer refeições nutricionalmente equilibradas, mas também a funcionar como um espaço de exposição para jovens artistas e artesãos. Criado por vegetarianos, o daTerra despertou logo o interesse na comunidade vegetariana, no entanto, o público “da terra” é tão variado quanto a sua ementa, que vai do buffet a bom preço na hora de almoço, ao sushi ao fim-de-semana.

Para Isabel Santos, coordenadora do espaço, o daTerra “não é um restaurante qualquer”. “Temos cá pessoas que vêm desde o primeiro dia, o que é fantástico. Vegetarianas a part-time, como eu costumo dizer”. Com os elevados preços da matéria-prima biológica aliados a este estado de crise, torna-se difícil para muitos restaurantes manterem as suas portas abertas, mas não o daTerra. Há cinco anos como coordenadora, Isabel tem visto esta casa e o seu conceito crescerem. “Há cinco anos servíamos cerca de 30/40 refeições ao almoço, neste momento servimos entre 90 a 100”.

O daTerra encontra-se a desenvolver vários projetos, como a escola de cozinha que incorpora cursos, workshops e aulas de cozinha vegetariana para todas as idades, bem como o projeto de franchising, que consiste na transmissão do know how da alimentação sustentável a quem queira abrir o seu próprio negócio na área.

Pop 101 – Decorar a cultura pop com tapas vegetarianas 

Situado na Rua de Trás, paralela aos Clérigos, o Pop 101 prende-se à cultura pop e a uma revolução da agenda cultural da cidade Invicta. Das tapas exclusivamente vegetarianas, dos combinados vegan aos sem glúten, o espaço decorado com fotos de concertos, capas de vinil e cartazes de cinema, ainda possui uma vasta gama de cervejas artesanais, nacionais e vinhos biológicos.

Alexandra, sócia de Daniel e proprietária deste acolhedor bar de tapas, define a essência do projeto como “universal”, feito de todos para todos. A música e a decoração expressam a forte influência que a cultura pop tem na vida da empresária portuense. The Smiths, Caribou e The Cure são alguns dos exemplos musicais que tocam no interior do Pop101. O espaço vigora pela estilo dos anos 60 até aos dias de hoje. Até mesmo Richard Zimmler já por ali passou. O Pop está aberto entre as 19h e as 00h, exceção feita quando há concertos ou exposições, em que o fecho é feito por volta das 02h.

No menú apenas constam produtos livres de OGM (Organismos Geneticamente Modificados) e a “dieta rigorosa” é feita, por exemplo, através de chamuças de Goa, bruschettas, batatas bravas, tábuas de queijos e alheiras de espargos e cogumelos. Até ás 20h30 há a oportunidade de aproveitar a happy hour, com o copo de vinho (seleção diária) a ser servido por 2 euros e o Desperados por 3. Por cada bebida pedida é ainda oferecido um aperitivo (batatas fritas, nachos, patê, etc).