O número de portugueses a aprender mandarim disparou nos últimos tempos. Vários imigrantes chineses que vivem no Porto, desde lojistas a donos de restaurantes, estão a melhorar o seu português para serem capazes de ensinar mandarim aos portugueses, nos seus tempos livres.

É uma troca por troca. Por um lado, os imigrantes chineses conseguem integrar-se melhor no atual país de residência, além de ganharem um dinheiro extra com as aulas de mandarim. Por outro, os portugueses aprendem o mandarim com pessoas que, de facto, dominam a língua.

Chinês na Flup

Na Faculdade de Letras, as formadoras Lu Yanan e Tang Wei Hua lecionam quatro níveis de chinês. Esta cadeira vale três créditos, as candidaturas são feitas via web no site dos Serviços Informáticos da Flup  e tem tempo máximo de inscrição. A cadeira tem um período de 60 horas e para ex, atuais alunos e funcionários da UP tem um custo de 240 euros. Para o público em geral a cadeira fica por 340 euros.

Para a lojista Pin, a vontade dos portugueses aprenderem mandarim está estritamente relacionado com o mundo dos negócios. A oportunidade de Pin dar aulas de mandarim surgiu com os inúmeros pedidos dos seus clientes. Inicialmente estava reticente, porque já não tinha muito tempo livre para si e para a família, mas a crise mostrou que esta era uma chance de escapar dela. Aprender português para Pin, foi uma aprendizagem contínua e o maior desafio foi pronunciar certas consoantes.

Chang, dono de um restaurante chinês, consegue estabelecer diferenças entre o passado e presente. “Há alguns anos os portugueses vinham cá e não queriam saber nome do prato, só o que era. Agora chamam e perguntam o que quer dizer, como se pronuncia.”, afirma Chang.

O dono conta ainda que os portugueses estão a receber de melhor forma os chineses no seu país: “Antes os portugueses não nos queriam cá, pensavam que vínhamos roubar deles”, conta. Atualmente, vários clientes estabeleceram uma relação de amizade e não só.

Chang conta com um grupo de 10 alunos para ensinar mandarim. Infelizmente, o tempo e as instalações não permitem albergar mais aprendizes de mandarim, mas o imigrante espera no futuro conseguir dedicar-se mais a esta iniciativa.

Lu, dona de duas lojas, fala sobre a falsa aceitação de novos povos pelos Portugueses. “Ser de outro país era motivo para ser colocada de parte. Os meus filhos, quando viemos para cá, sofreram muito. Os meninos gozavam com eles. Agora sinto que nos aceitam e até várias pessoas pedem para eu ensinar a minha língua”, revela. Esta lojista acredita que a mútua aprendizagem é a chave para unir portugueses e chineses, de modo a acabar com uma sociedade heterogénea definida por etnias.

Lu está em Portugal há alguns anos e recentemente alugou uma sala para poder ensinar mandarim a mais portugueses e com melhores condições.

Apesar de algumas divergências nas declarações, os três entrevistados pelo JPN têm uma opinião unânime: o facto dos portugueses aprenderem mandarim faz com que fiquem mais humildes. Assim, “os portugueses percebem o quão difícil é aprender outra língua, totalmente diferente, com letras [alfabeto] diferentes”, diz  Pin.