O Prémio Melhor Escola de Cinema, que faz parte do Fantasporto há três anos, distingue a escola ou universidade com curso de cinema (ou equiparado) que apresente o melhor conjunto de curtas-metragens. A iniciativa integra a Secção Oficial do Cinema Português e pretende fomentar a competição entre as escolas de cinema portuguesas. Para Beatriz Pacheco Pereira, co-fundadora do festival, o objetivo “é tornar o cinema português mais próximo do público. Esta iniciativa dá a oportunidade a futuros cineastas de procurar públicos para o filme, formação e contacto com profissionais da área.”

Talento nacional

Numa tarde de produto nacional, também a Universidade do Minho e a Universidade Lusófona de Lisboa “tomaram de assalto” o grande ecrã – esta última viria a ganhar o tão cobiçado prémio da melhor Escola de cinema.

Nesta edição do Fantasporto, escolas de cinema de várias zonas do país mostraram do que é feito o talento dos seus alunos. Duas escolas portuenses estiverem em concurso, a Universidade Católica do Porto (Artes-UCP) e a Escola Artística Soares dos Reis.

Pertencer ao mundo artístico e lutar para sobreviver a isso em Portugal. Carolina Eusébio encontra-se nesta posição e, “olhando à sua volta”, muitos colegas e amigos também. A estudante de mestrado de Comunicação Audiovisual da UCP esteve em competição no Fantasporto com a curta Circles. “Basicamente o intuito do filme é falar de uma área e de como as pessoas da minha idade, ou pelo menos que nasceram na mesma década que eu, veem aquilo que estão a fazer.” Sem fazerem qualquer pergunta às personagens, pois “a intenção era que falassem livremente” – o documentário de Carolina e Maria João Ferreira apresenta uma mescla de relatos e reflexões na primeira pessoa.

As realizadoras questionam as razões pelas quais, apesar das dificuldades de singrar no meio artístico, ainda há quem se atreva a fazer o que gosta. “Curiosamente, toda a gente disse o mesmo: como é que comecei a fazer o que faço; porque é que adoro o que faço; como é que isso se encaixa no mercado português (que não se encaixa, como percebemos no vídeo); e apesar de não ganhar dinheiro com isso e de não conseguir pra já fazer uma carreira, eu continuo a adorá-lo. ”

O Fantas – consagrado internacionalmente pela revista Variety como um dos 25 mais importantes festivais de cinema do Mundo – tem sido um símbolo do apoio ao cinema português e consequentemente a jovens futuros cineastas. Beatriz Pacheco Pereira, fundadora do Festival Internacional de Cinema do Porto em 1981 com Mário Dorminsky, vê nesta categoria o possível futuro do cinema português e a evidência disso mesmo é que “as escolas continuam ano após ano a subir a fasquia.”

Para a jovem realizadora de Circles – ex-aluna da Soares dos Reis, que já teve, em 2010, um filme no Fantasporto a representar a escola secundária – o festival é uma oportunidade única. “Dá-nos um ânimo de ‘isto vale a pena’. Há pessoas que querem ver o teu filme e te dizem o que é que acharam e em que é que podes melhorar. E isso é muito interessante, há pessoas que não teriam essa oportunidade se este concurso não existisse”.

“O filme fechado foi a morte do cinema português”

O Cinema Português é muitas vezes conhecido pelo seu aspeto fechado e pelo elevado teor artístico que muitas vezes é apontado como razão para alienação do público. Carolina Eusébio diz que se fazem coisas muito boas, mas que são subvalorizadas pelo público geral. “Ou tu fazes um filme mainstream ou quem vai ver o filme é o público que faz cinema, ou que critica cinema.” No entanto, a verdade é que nos dias de hoje o cinema português já tem o seu cunho pela Europa mas para os próprios portugueses parece, ainda, passar um pouco despercebido nas salas de cinema. Para Beatriz Pacheco, “o filme fechado foi a morte do cinema português, os realizadores faziam filmes para si e não para agradar ao público” e esta tendência tinha de ser contrariada. “O Cinema Português estava tão distanciado do público que achei que devia intervir nessa área. Agora os filmes são mais abertos”.

A paixão pela sétima arte começou com as matinés de sábado com o seu pai pelos teatros do Porto. Beatriz Pacheco, ainda criança, guardava registo de todos os filmes que via, classificando-os numa linguagem que apenas a própria conhecia, “tenho cadernos inteiros ”. Apesar da profissão como professora de Inglês, o cinema esteve sempre presente. “Eu pertenço a uma geração de cinema de autor”. Beatriz Pacheco conheceu Mário Dorminsky, que partilhava a mesma paixão, e há trinta e cinco anos começaram esta aventura que é hoje o Fantasporto.

A fundadora, que recebe inúmeras candidaturas por edição, vindas de todos os cantos do mundo, já perdeu a conta dos filmes que assistiu nestes trinta e cinco anos de festival. Questionada pelo JPN acerca do processo de seleção, a voz da experiência falou mais alto e a resposta foi pronta: “Ao fim de 5 minutos já sei dizer se a pessoa tem o sentido do cinema.”