Quando quatro professores de xadrez se veem com dificuldades em encontrar emprego porque não pertencem a nenhuma empresa, a solução é associarem-se e formarem uma unidade: a Escola de Xadrez do Porto. Em 2012, surgia esta escola que, até hoje, já formou cerca de dez campeões.

Apesar de ser a única com treinadores federados internacionalmente pela Federação Internacional de Xadrez (FIDE), a escola continua à espera de apoios da Câmara Municipal do Porto para ter espaço próprio. Por enquanto, o ensino é numa das salas cedidas pela associação de estudantes da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), na rua Doutor Júlio de Matos, e a falta de apoio monetário não impediu a formação de vários estudantes, entre os quais três mestres.

Parte da razão que motivou a fundação da escola é levar pessoas às competições. São dezenas, os miúdos a competir nacionalmente, e seriam mais, houvesse mais escolas. Falamos em valores de 50, 60, até mesmo 80 jovens a competir. Pedro Caramez, professor na escola de xadrez, afirma que uma criança com 4 anos já tem capacidade para aprender a jogar.

Na parte federada, a pressão é maior: escolhem-se os melhores e tenta-se trazer a maior quantidade de títulos que se conseguir para o Porto. Os resultados são evidentes e quase imediatos. Para isso também ajuda não haver mais ninguém no Porto a fazer o mesmo.

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Xadrez curricular vs xadrez de competição

Existem colégios que têm xadrez como unidade curricular e, como tal, a escola foca-se em objetivos educativos para desenvolver certas capacidades. Melhorar na concentração e ajudar na matemática são alguns dos propósitos a nível curricular. O xadrez é muito teórico e exige uma grande capacidade de cálculo, pelo que é um desporto que capacita os alunos de competências que os poderão ajudar noutras áreas de estudo.

Quando alguns alunos se destacam dos restantes, a escola tenta encaminhá-los para a vertente competitiva do xadrez, fazendo-os participar em competições internacionais. Para Pedro Caramez, o objetivo em ter um espaço próprio é desenvolver ainda mais as capacidades dos melhores praticantes. Tal não é possível na vertente curricular, pois nem todos os alunos estão ao mesmo nível e nem todos querem competir.

Autonomia é crucial neste jogo

É necessário escolher momentos para se estar concentrado, detetar os momentos decisivos, porque há jogos que duram cinco horas e não é possível estar todo esse tempo concentrado.

O que é preciso para se ser um bom jogador de xadrez

O xadrez é dividido em três fases: o início, o meio e o final. O início é composto por jogadas previamente estudadas, o meio consiste na capacidade de cálculo e previsão de jogadas e, no final, importa saber converter as vantagens em vitórias e evitar algumas derrotas que, com erros adversários. são passíveis de serem evitadas.

A determinação é um dos fatores mais importantes para alguém se tornar um bom jogador de xadrez. Existem muitos alunos com capacidades para serem bons jogadores, mas alguns acomodam-se e ficam estagnados, enquanto outros mais fracos esforçam-se para melhorar e chegam ao nível dos melhores. Persistência, determinação e autonomia são sinónimos de sucesso no mundo do xadrez. Um jogador de xadrez tem de desenvolver uma boa autonomia, porque, na sua essência, é um desporto individual.

O empenho não se fica pela escola

O trabalho não se resume às horas que os alunos passam na escola. Os trabalhos de casa são fundamentais para manter uma curva ascendente no desenvolvimento, porque o treino é o segredo para o sucesso. Cada peça tem uma pontuação associada, isto promove uma maior facilidade nas operações matemáticas. A antecipação também é desenvolvida nestes exercícios, uma vez que, numa competição, um jogador que toque nas peças é obrigado a jogar. Portanto, é essencial visualizar a jogada na mente.

Os laços familiares podem ser fortalecidos

Gil e David têm 6 anos e são irmãos. Competem um contra o outro e já ganham a rapazes de 10 e 12 anos. Luís Sousa, pai dos gémeos, iniciou-os no xadrez ainda em tenra idade. Esta paixão por este desporto mais mental que físico já contagiou os seus filhos.

Desde que os gémeos começaram a jogar, Luís usa o xadrez como forma de fortalecer laços com os seus filhos. “Como eu também já joguei xadrez, estar assim um bocadinho a brincar com eles, a jogar, a fazer alguns exercícios com eles e a partilhar, tem permitido, na minha opinião, criar ainda laços mais importantes com eles, porque tem a ver com esta partilha, a partilha de experiências comuns”, afirma Luís Sousa.

Outro dos alunos é Rafael e tem 9 anos. É muito competitivo e gosta de frequentar a escola, porque lhe permite viajar para diferentes países.

Projeto com um final precoce

A cidade do Porto já teve um projeto de xadrez semelhante a este. Foi nessa iniciativa que o professor Caramez começou a dar aulas. Em 2004, a Câmara iniciou um projeto que desenvolveu o xadrez em todas as escolas como unidade curricular, mas vários professores das Atividades Extra Curriculares (AEC’s) ficaram no desemprego.

Se este cenário estava longe de ser o ideal, a realidade que se vive agora também não é a melhor, uma vez que o xadrez nem sempre é ensinado por aqueles que são devidamente qualificados.

Xadrez ajuda ao sucesso curricular

“Os nossos melhores alunos são os que têm melhores notas” na escola, apesar de passarem muitas horas a jogar xadrez, refere o professor Pedro Caramez,

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