Com  médias a ultrapassar os 18 valores, não é fácil conseguir entrar em qualquer uma das oito escolas de Medicina em Portugal. Por outro lado, os profissionais desta área recebem uma formação de excelência, o que os põe no topo da lista das empresas de recrutamento.

Mas se aos estudantes é exigido o máximo, o mesmo também deve ser esperado das faculdades de Medicina. É consensual entre os alunos entrevistados pelo JPN que a educação médica tem qualidade, mas temem pelo futuro dessa qualidade. Joana Antunes, estudante do 4.º ano da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), diz que há demasiados alunos e poucos professores.

Inês Gouveia, estudante do 5.º ano da FMUP, acrescenta que a formação médica em Portugal é muito mais teórica do que prática e os alunos não têm muitas alternativas para aprender fora do curso, apenas aquelas que são dadas pelas associações de estudantes.

Diana Rodrigues, presidente da Associação de Estudantes da FMUP alerta para a distinção entre formação pré-graduada, aquela que é administrada nas escolas médicas, e pós-graduada, que corresponde ao internato médico. Apesar de admitir que a formação em medicina tem qualidade, Diana teme que o excesso de estudantes face às capacidades limitadas de docentes e hospitais possa comprometer a entrada dos recém formados no internato médico. O Presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), aborda também este tema. Para Alberto Silva, o governo deve assegurar as condições necessárias para uma formação adequada.

Ir ou ficar?

Nos últimos anos tem-se assistido a um fenómeno de entrada e saída de médicos em Portugal. Por um lado, os recém formados portugueses encontram melhores condições de trabalho lá fora e por isso tentam fazer carreira no estrangeiro. Por outro, o Governo tem vindo a “recrutar” clínicos estrangeiros. A perceção é que neste momento há falta de médicos em Portugal. Mas segundo dados publicados em 2011 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Portugal é o 5.º país do mundo desenvolvido com mais médicos por mil habitantes.

Quer seja por falta de condições de trabalho, ou por outros países oferecerem melhores oportunidades, tem-se verificado um aumento na emigração de médicos portugueses. Para Alberto Silva, o país não consegue dar resposta às necessidades dos estudantes de medicina.

Então, o que precisa de ser mudado? Segundo o presidente da ANEM, a solução passa por “promover-se um planeamento integrado dos recursos humanos em saúde de modo a haver uma maior fixação dos médicos em Portugal”. E acrescenta que neste momento o país tem um “bom sistema de saúde”, mas deve apostar mais nas especialidades em vez de optar pela existência de médicos indiferenciados.

Já Diana Rodrigues, acredita que o governo deveria investir no Serviço Nacional de Saúde e dar melhores condições aos médicos. Alberto Silva acredita ainda que é necessário reduzir o número de vagas nos cursos de medicina e acabar com a obrigatoriedade de todas as faculdades terem 15% de vagas adicionais para quem já tenha uma licenciatura.

Segundo a Ordem dos Médicos são cada vez mais os clínicos que abandonam o país em busca de melhores oportunidades. Graças à formação altamente especializada que os estudantes de medicina portugueses recebem, tornam-se o “alvo” ideal das empresas de recrutamento estrangeiras.

Fazer as malas rumo ao interior

O Governo anunciou este ano que vai dar benefícios aos médicos que decidam exercer a profissão no interior. Esta medida pretende colmatar a falta de clínicos nessa região. No entanto, tem-se debatido se estes benefícios serão suficientemente atrativos. Diana Rodrigues, presidente da AEFMUP, acha que não, uma vez que “o problema do interior não está nas condições económicas”, até porque os custos de vida são inferiores.

Já Alberto Silva, presidente da ANEM, considera que isto “parece ser uma tentativa do Governo de promover um planeamento dos recursos humanos em saúde”. Inês Gouveia, estudante do 5.º ano de Medicina, diz que o problema está no facto de o interior não ser tão desenvolvido como o Litoral.

Mesmo parecendo apelativos, os benefícios só têm uma duração de 5 anos. A questão que agora importa é saber se a longo prazo esta será uma solução eficaz para atrair médicos para o interior. Enquanto uns acreditam que pode ser uma medida positiva, outros acham que não será vantajoso.

Governo oferece benefícios a médicos que vão para o interior

O governo vai oferecer benefícios aos médicos que decidam exercer a profissão no interior. Nos primeiros seis meses os médicos vão receber mais 900 euros. No semestre seguinte passa para 450 euros e nos restantes quatro anos é de 275 euros. Para além dos benefícios financeiros, os médicos também têm direito a compensação das despesas de deslocação e mais 2 dias de férias por ano. Os cônjuges podem ser colocados na mesma localidade e os filhos transferidos de escola. No entanto, caso as duas pessoas do casal sejam médicos, apenas uma pode beneficiar desta medida.

O presidente da ANEM considera que este pode ser um bom incentivo, mas que não deve surgir isoladamente. Joana Antunes, que está no 4º ano de medicina, também acredita que os benefícios são apelativos, mas salienta que não escolheria uma especialidade em função disso.

Por outro lado, Inês Gouveia acha que os médicos irão para o interior mais pela falta de vagas do que pelos benefícios. A presidente da AEFMUP acredita que quem decidir exercer a profissão no interior não será pelos benefícios e portanto não regressará ao fim dos cinco anos.

Mas será que os futuros médicos entrevistados pelo JPN consideram ir trabalhar para as regiões do interior? A opinião é unânime: sim, mas depende da zona e da especialidade que eventualmente vão escolher. Nos últimos anos medicina deixou de ser um curso em que o emprego era garantido. Quer seja no estrangeiro ou noutras regiões do país, os recém formados estão a procurar alternativas e melhores oportunidades.