A Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (AEFLUP) vai organizar esta terça-feira, dia 24 de março, uma manifestação contra os cortes na educação feitos pelo governo nos últimos anos. A iniciativa ocorre no Dia do Estudante no centro do Porto, nomeadamente na rua de Santa Catarina.

André Silva, Presidente da AEFLUP, afirma que esta manifestação tem sobretudo “um caráter simbólico”. O universitário conta-nos que era impensável deixar passar o Dia do Estudante sem lhe atribuir algum significado devido às condições atuais com que os jovens têm de lidar. Para André, o ensino superior público “está cada vez mais esquecido” e as dificuldades económicas acabam por arruinar os planos dos universitários. É ainda pragmático sobre o objetivo da concentração: “Esta manifestação é um grito de revolta e uma tomada de posição pública. Estamos aqui e lutaremos”.

Mas os colaboradores da AEFLUP não querem que esta iniciativa seja mal interpretada. André afirma que não esperam que todos os problemas do ensino superior se resolvam com esta concentração, mas que saem à rua para fazer ouvir a voz de todos os estudantes inconformados com a sua situação e para mostrar à “opinião pública o que as políticas governamentais estão a fazer aos estudantes, os cidadãos de hoje e amanhã, os filhos e netos daqueles com quem nos cruzaremos”.

Esperam, com este protesto “despertar consciências”, à semelhança de dois outros protestos organizados pela AE que tiveram, segundo André, sucesso a longo prazo: a concentração do ano de 2012 contra a supressão da época especial de setembro para trabalhadores-estudantes e o de dezembro de 2013 contra o encerramento da Biblioteca Central da FLUP, nos dias que precediam ao início da época dos exames.

Muitos estudantes acabam por não contar a sua situação aos colegas, “por vergonha, por desespero, por timidez”

A AEFLUP tem a plena convicção de que as propinas atuais e as faltas de ajudas latentes impossibilitam a formação de quem possui menores rendimentos. Afirma ainda que a ação social para ajudar as famílias portuguesas conduz a um ciclo vicioso de falta de possibilidades.

Os que procuram ajuda são maioritariamente “bolseiros ou candidatos a bolsa que viram o seu pedido recusado” mas também estudantes que se deparam com o “abandono iminente” do ensino superior devido à falta de possibilidades. Na maior parte dos casos, o que se passa acaba por chegar à AE de “forma indireta” visto que muitos estudantes acabam por não contar a sua situação aos colegas “por vergonha, por desespero, por timidez” e preferem desabafar com um desconhecido, como um colaborador da associação. André afirma que os colaboradores da AE são então “tristemente privilegiados no conhecimento diário de situações extremamente difíceis” e que “muitas delas terminam em abandono, não raras vezes definitivo, do ensino superior.”

A associação defende ainda que o panorama atual não prejudica somente os estudantes mas também o trabalho dos professores e funcionários da instituição. Para demonstrar o seu desagrado, além da concentração a AEFLUP levará ainda um cheque gigante em branco, feito pelos estudantes, como forma de protesto.

Para o estudante de Estudos Medievais é “difícil dizer” quantas pessoas irão aderir à iniciativa devido à “desconfiança com que muita gente olha para este tipo de iniciativas.” Afirma ainda que devido “ao regime de faltas quase orwelliano” e “à condição cada vez mais frequente de trabalhador-estudante”, pensa que não serão mais do que algumas dezenas a juntarem-se à concentração com outras faculdades. Contudo, afirma que não poderiam deixar de lado esta manifestação – “não enquanto assistirmos a esta alegre caminhada para o abismo”, remata.