Uma partilha de opiniões sobre a habitabilidade no Universo encheu, esta semana, a cúpula do Planetário do Porto. Num debate público moderado por Júlio Borlido Santos, muitos foram os temas discutidos, mas a possibilidade de existir vida noutros planetas foi o núcleo da conversa.

O painel de debate continha nomes sonantes da Astrofísica e Biologia: Nuno Cardoso Santos, que se dedica ao estudo dos planetas extra-solares; Zita Martins, investigadora na área da Astrobiologia; e o professor Jorge Paiva, responsável do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Apesar da formação distinta dos três oradores, algo em comum os fascina: a incessante busca pela origem da vida e a hipótese de existir vida num planeta que não o nosso. 

A origem da vida e a vida “lá fora”  

Foram estas as questões colocadas aos oradores convidados, que descortinaram as suas profissões e objetos de estudo. Zita Martins explicou que, apesar de existirem algumas teorias “aceites” na sua área de trabalho, ninguém na comunidade científica sabe ainda como surgiu a vida. “O salto de ‘não vida’ para vida é o grande mistério e é exatamente por isso que dão emprego a pessoas como eu”. Missões de habitabilidade não são, contudo, sinónimo de deteção de vida, sublinhou a investigadora – que aplica métodos de deteção em laboratório. 

Projeção digital

A sessão começou com uma apresentação das potencialidades do novo equipamento técnico da sala, onde foi instalado, recentemente, um novo sistema de projeção digital “fulldome”

As “missões de habitabilidade” têm o objetivo de descobrir planetas potencialmente habitáveis. É isso de que se ocupa Nuno Cardoso Santos. “É uma tarefa difícil, há muitos esforços que têm sido feitos, mas as novas tecnologias têm ajudado bastante”. A deteção é mais complexa. Os métodos são ainda muito rudimentares e, segundo a investigadora no Imperial College, “vamos demorar ainda muito tempo a conseguir detetar alguma coisa”.

Mais tarde, foram dirigidas questões ao painel pelo público – uma audiência que juntou várias gerações. O debate fluiu assim entre perguntas e respostas, e, não obstante as diversas opiniões – umas mais céticas, outras mais crédulas, a conclusão de que cada vez há mais sinais de existir vida noutros locais que não a Terra, foi unânime. 

“Somos uma espécie auto-destrutível”

Num debate onde imperou o discurso científico, também houve tempo para filosofias. “Estamos a criar todas as condições para a nossa extinção”, sublinhou várias vezes o veterano Jorge Paiva, que considera a espécie humana auto-destrutível. Quando as razões foram questionadas pelo público, a resposta valeu-lhe uma ovação. “Somos a única espécie que guarda coisas. Que julga que o património material é o mais importante”.

O debate foi organizado pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), pelo Planetário do Porto e pelo Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), e estava integrado na conferência internacional “Habitability in the Universe: From the Early Earth to Exoplanets”. 

A conferência faz parte da ação COST “Life Origins” (Origens da Vida). Uma ação europeia para investigar as origens e evolução da vida na Terra e noutros planetas que reúne 150 investigadores de 30 países, oriundos de áreas como a Astrofísica, Geologia, Biologia, Paleontologia, Engenharia, Filosofia ou História da Ciência.