Vintage: diz-se de produto antigo mas de excelente qualidade, segundo o dicionário. Este é o conceito de lojas que estão a dar que falar atualmente. Este tipo de comércio oferece ao público a possibilidade de encontrar nova vida em roupa, calçado, bijuterias e quinquilharias pertencentes a outro tempo.
Há, no entanto, que distinguir os dois tipos de loja vintage – as que o são do ponto de vista temporal, que apresentam roupa nova mas caraterística de uma certa época, e as lojas de segunda mão, que nem sempre se centram numa época, mas antes apresentam uma amálgama de roupa usada à qual pode ser dada uma nova oportunidade.
O JPN foi conhecer os dois lados da moeda: o de quem, por um lado, aposta no passado para fazer o novo negócio e, por outro, o de quem procura este tipo de comércio em detrimento das grandes marcas de roupa.
“É preciso ver peça a peça até que alguma pisque o olho”
Joana Ribeiro Gonçalves é proprietária da Absolutribut, loja de segunda mão que abrange uma vasta gama de roupa. O gosto pela roupa em segunda mão levou ao surgimento desta loja, que é dirigida a um público variado: “Posso ter uma senhora que procura uma saia com elástico, uma jovem que procura uma calça de cinta alta e até um senhor que procura um fato para uma entrevista”, conta.
As peças são também compradas com vista a ser reutilizadas por trabalhadores da construção civil e por alunos de Belas Artes. Há ainda quem frequente a Absolutribut com o objetivo de colecionar, como o o caso do cliente que colecionava gravatas.
Joana Ribeiro Gonçalves afirma que a magia de comprar em lojas destas reside na necessidade de “vasculhar” até encontrar algo que se goste: “É preciso ter o bichinho. As peças são todas diferentes, tens que ver peça a peça até que alguma te pisque o olho”.
“Hoje em dia a moda é anárquica”
João Pimenta, dono da Ornitorrinco, era professor de História e decidiu abrir o seu estabelecimento após uma viagem a Londres, onde o conceito já se havia espalhado. A Ornitorrinco surgiu para albergar a moda de época e colmatar a falta de lojas vintage também dirigidas aos homens.
De acordo com João, a procura por este comércio deve-se às peças originais e à ideia de que “a moda é cíclica e anárquica”, pois os modelos de vestuário atualmente vendidos pelas grandes marcas advêm dos modelos antigos. Além disso, cada vez mais “as pessoas usam o que querem e misturam vários estilos”, o que se reflete na compra.
No entanto, João realça que a recetividade a este comércio dá-se, sobretudo, entre a faixa etária dos 16 e dos 40 anos. “Os mais velhos olham para as lojas vintage como ‘roupa dos pobres’, porque na altura da Guerra Colonial enviavam-se fardos de roupa usada para as colónias”, explica.
“As pessoas gostam da roupa que tem muitos anos”
Mariana Araújo, gerente da loja Mon Père, assegura que a roupa vintage é cada vez mais uma tendência: “As pessoas já perderam bastante o preconceito, agora vejo pessoas de várias classes sociais a comprarem vintage, porque gostam de saber que a peça é única e até gostam mais dela por ter muitos anos”, afirma
Apesar do desvanecimento do preconceito, ainda há quem não veja esta nova tendência com bons olhos, devido ao passado carregado às costas destas peças de vestuário e ao receio das opiniões alheias que poderão ser desfavoráveis.
Quanto ao que é mais procurado, Mariana clarifica que há uma tentativa de recriação de estilos e modas de outros tempos. “As raparigas, por exemplo, procuram o que a mãe vestia nos anos 80 e 90, como as calças de cinta subida e os casacos de ganga”, diz.
E será que há homens a comprar em lojas vintage? Mariana esclarece que sim, embora seja mais raro, uma vez que “os homens usam as peças durante mais anos, por isso é natural ainda hoje haver homens a usar casacos dos anos 80 e 90.”
Um comércio ecológico e mais barato
A tendência vintage tem vindo a crescer ao longo dos últimos anos e são vários os motivos que levam as pessoas a comprar roupa antiga e usada. A originalidade das peças e os preços económicos são as duas razões mais mencionadas por quem passa por estes estabelecimentos.
Beatriz Neves, compradora habitual de lojas vintage, apresenta outras razões à sua preferência por este tipo de comércio: “Em termos de padrões e de tecidos, que mudaram muito ao longo dos anos, estas lojas adequam-se mais às minhas preferências. Além disso, é um comércio ecológico devido à reutilização das roupas”.
Jaquelina Vinagre é presença assídua nas lojas vintage, pois também se identifica mais com o tipo de roupa e acessórios que costuma encontrar: “Sei que consigo encontrar peças que se enquadram no meu estilo, o que, normalmente, não acontece quando vou a uma loja comum de rua ou de shopping”. Além disso, de acordo com Jaquelina, “a moda muda constantemente e essas lojas têm roupa de quase todas as épocas, por vezes até de marca e não só peças usadas”.
Manuel Guerra garante que é a “componente singular” deste comércio o ponto mais forte que justifica esta sua preferência. No caso de Manuel, esta ideia vem sendo passada de geração em geração na sua família: “A minha mãe sempre foi apologista de que devemos ser únicos e originais, em vez de seguirmos as modas, mas eu não sou extremista, vou seguindo as tendências mas sempre dando-lhes um cunho pessoal.”
O preconceito converte-se em interesse
Se anteriormente, a generalidade das pessoas olhava com receio para este comércio, hoje em dia os estigmas da roupa antiga e em segunda mão parecem ter desaparecido maioritariamente.
Flávia Arieira, adepta do vestuário vintage, afirma que atualmente “ter peças vintage é um must-have”. Na sua opinião, anteriormente comprava-se em segunda mão apenas por necessidade, tendência que se está a inverter, devido aos preços convidativos e à originalidade dos artigos disponíveis. A este respeito, Manuel Guerra reconhece que “é notório nas gerações mais novas o orgulho em usar roupas que pertenceram aos pais e avós.”
Estes adeptos da moda vintage tentam a sua sorte, normalmente, uma vez por mês e, se algumas vezes saem de mãos a abanar, a maior parte das vezes, saem com um qualquer item que lhes dá uma sensação de missão cumprida.
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