Foi esta segunda-feira, 30 de março, que o Clube dos Pensadores recebeu pela primeira vez a visita de António Costa, secretário-geral do Partido Socialista (PS). Convidado do 90.º debate do clube, o candidato a primeiro-ministro cedeu finalmente à insistência de Joaquim Jorge, fundador do clube, e falou aos portuenses. O debate ocorreu no Hotel Holiday Inn, em Vila Nova de Gaia, e foi pautado pela explicação das medidas que António Costa pretenda tomar caso seja eleito e também pela sua opinião sobre o Governo atual.
Joaquim Jorge, fundador do clube e moderador do debate, iniciou o evento com uma pequena biografia falada do secretário-geral do PS, enaltecendo etapas da sua vida desde a sua infância até à sua carreira, nomeadamente na política portuguesa. Joaquim Jorge falou ainda dos cargos que António Costa já ocupou, destacou a sua ambição e levantou o véu sobre a sua vida pessoal. O fundador do Clube dos Pensadores falou ainda das medidas já tomadas pelo socialista, entre as quais a informatização dos tribunais e o projeto Simplex. O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) escutou o biólogo caracterizar a sua personalidade com um sorriso de contentamento.
“É uma boa ocasião para pensarmos o país em perspetiva”
António Costa levantou-se então e iniciou a sua intervenção com o foco nos 30 anos da adesão de Portugal à União Europeia (UE). Segundo o mesmo, “estando no Clube dos Pensadores é uma boa ocasião para pensarmos o país em perspetiva”, sendo então “um bom momento para refletirmos no que tem acontecido a Portugal nestes últimos 30 anos na União Europeia”. António Costa começou por enaltecer o crescimento de Portugal nos primeiros 15 anos, realçando de seguida a “relativa estagnação” nacional desde o ano 2000.
Com base neste tema, o secretário-geral do PS iniciou uma reflexão sobre o que conduziu Portugal à sua situação económica atual, afirmando que “não foi nem com o choque fiscal nem com a política de empobrecimento que o país conseguiu resolver o seu problema a nível estrutural”. Em forma de introdução às suas soluções, realçou ainda que o caminho para uma situação económica estável “não se faz com choques mas sim com continuidade” e que, sem encontrar “a causa do problema, não encontramos uma boa solução para o problema”.
Segundo António Costa, a “comunidade europeia não voltará a ser competitiva à custa dos baixos salários” mas sim graças aos seus fatores de diferenciação. Apresentou então as suas medidas para a economia nacional, nomeadamente a divisão das mesmas em três partes que consistem na criação de uma agenda para a década, numa agenda europeia e num programa nacional.
Relativamente à elaboração de uma agenda para a década, o candidato a primeiro-ministro defendeu que esta medida pretende “fixar uma visão para o país e um conjunto de objetivos que o país devo prosseguir continuadamente e determinadamente ao longo de dez anos”. Esta medida surge no âmbito em que António Costa afirma que as medidas não devem ser mudadas sempre que o governo o é, devido a tal causar uma grande instabilidade, e que devemos aproveitar os recursos da nova geração.
Defendeu ainda a criação de uma agenda europeia, visto que “muito do que temos para resolver implica resolver-nos na Europa”. Finalmente, António Costa apoiou a elaboração de um programa nacional, realçando que a preocupação que a população portuguesa deve ter é que “o próximo programa do governo mobilize o conjunto da sociedade e portanto não seja elaborado num gabinete à porta fechada, nem exclusivamente nas paredes de um partido”. Este programa deve ser explorado de igual modo pelas universidades e empresas, realizando um teste da sua credibilidade e confiança.
António Costa terminou a sua intervenção inicial defendendo que “aquilo que se diz na campanha eleitoral tem que ser dito com a preocupação de que, no dia a seguir às eleições, aquilo que foi dito tem que ser executado”, recebendo uma ovação das pessoas presentes na sala.
“Essa pergunta tem de fazer aos eleitores, se eu não achasse não estava aqui”
Joaquim Jorge tomou então novamente as rédeas do evento, antes de dar a palavra ao público presente, questionando António Costa sobre o fato de Marcelo Rebelo de Sousa ter afirmado, num debate do clube, que o mesmo não era um messias. Questionou também o líder do PS sobre a forma como vai encontrar fundos monetários para a execução das suas medidas e enalteceu o fato de não ter falado de Portugal em território francês, visto que, segundo Joaquim Jorge, “falar mal da nossa casa fala-se na nossa casa”.
Joaquim Jorge abordou ainda a temática dos problemas entre os diferentes partidos, sobre as quais António Costa afirmou que não deveria existir má educação apesar das divergências que, pelo simples fato de as pessoas se cumprimentarem e “não se insultarem” não fazia delas aliadas. Realizou ainda uma referência aos resultados negativos do PS nas eleições regionais da Madeira, ao que António Costa respondeu são eleições distintas e que são resultados que têm “causas próprias”.
Terminou esta introdução ao debate a questionar o secretário-geral do PS sobre a crise do Banco Espírito Santo, sobre a ideia da criação de um fundo de desemprego europeu e sobre os despedimentos da função pública. Relativamente à última questão, Costa defendeu que o Estado tem de melhorar os seus quadros na generalidade e “mudar a política de emprego público”.
Durante o debate que se seguiu, António Costa foi questionado por diversas pessoas presentes na sala sobre os temas correntes da atualidade, desde as sondagens das eleições legislativas que ocorrem em setembro aos problemas existentes na relação entre as freguesias e municípios nacionais.
Um interveniente questionou o líder do PS sobre o mapa judiciária criado pelo atual Ministério da Justiça e qual a sua opinião sobre o mesmo. António Costa afirmou então que seria necessário “redesfazer várias das coisas que foram feitas, manter outras e aperfeiçoar outras coisas”, existindo aspetos práticos que se podem adotar para tal. Para o mesmo um valor que se deve manter é o da “proximidade das pessoas e das populações” à justiça e aos meios que a mesma proporciona.
Outras das questões expostas relacionou-se com a agenda europeia e os apoios europeus ao PS. Neste tópico, António Costa criticou o fato de o atual governo, ao afirmar que a “última coisa que o governo português tinha de fazer era hostilizar o governo grego”, defendendo que “não há um problema entre a Grécia e a União Europeia, há um problema no conjunto da União Europeia”. Foi ainda novamente abordado o tema das eleições regionais da Madeira, que o líder do PS voltou a desvalorizar, e a questão do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI).
Uma das questões pertinentes foi de igual modo a opinião do Presidente da CML relativamente à criação de um novo modelo de sistema eleitoral. António Costa defendeu que a “regionalização dificilmente avançará de uma forma rápida”. Contudo, afirma que há passos que se podem dar, como a concentração na divisão em cinco regiões do território nacional. Defende ainda que uma proposta consiste na nomeação dos presidentes, que deixariam de ser nomeados por ministros, e passariam a ser eleitos pelos autarcas da região. Para António Costa esta decisão daria um “passo gigante” para fazer “algo que é absolutamente essencial”, nomeadamente a racionalização da administração regional do Estado.
Uma das últimas temáticas prendeu-se com a falta de população na cidade do Porto, ao que António Costa respondeu que Portugal tem cidades mais pequenas do que a média europeia. Realçou de igual modo que “à escala global” Portugal tem um “sistema urbano muito disperso”.
“Acha que tem condições para ser primeiro-ministro?” Foi esta a última pergunta do debate à qual António Costa respondeu tal como aconteceu durante todo o evento, de forma muito simples e pragmática: “Essa pergunta tem de fazer aos eleitores, se eu não achasse não estava aqui.”
Joaquim Jorge terminou o debate agradecendo ao líder do PS a sua comparência, de forma entusiástica. António Costa falou pela primeira vez no Clube dos Pensadores de forma pragmática, simples e coesa.