Este ano, a Garraiada volta a fazer parte do cartaz da Queima das Fitas do Porto. A decisão foi tomada na passada quinta-feira, dia 26 de março, na Assembleia Geral da Federação Académica do Porto (FAP). Os 13 votos a favor das associações de estudantes da Academia do Porto derrotaram os 12 contra.

Contudo, a contestação não tardou a chegar por parte daqueles que consideram que a FAP deveria ter chegado a um veredicto distinto. Após a decisão, foi criada uma petição online contra a realização da Garraiada. Segundo o que se pode ler na mesma, os universitários defendem que “o que os estudantes pretendem da queima são momentos de diversão e não de exploração animal”.

“Nunca pensámos que esse divertimento passasse pelo sofrimento e humilhação”

Sónia Marques e Joana Rocha, estudantes do 1.º ano do curso de Bioengenharia da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), são as criadoras desta petição. Começam por explicar que tiveram conhecimento da aprovação através do página do Facebook da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (AEFLUP) e que as incomodou o fato da sua própria AE, a Associação de Estudantes da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Porto (AEFEUP), ter votado a favor da iniciativa.

Críticas à FAP

As estudantes consideram que a FAP não agiu da melhor maneira, visto que, sendo as mesmas, “um tema destes não deve ser decidido de forma tão leviana quanto foi”. Defendem então que a votação deveria ter incluído mais estudantes e “e não apenas as associações que os representam, tendo em conta que estas não são obrigadas a consultar os estudantes da sua faculdade”, outra situação que consideram de lamentar.

Ficaram muito surpreendidas com a existência deste evento na Academia do Porto, visto que apenas a conheciam a de Coimbra. Considerando-se então “defensoras dos direitos dos animais”, sentiram-se “descontentes com esta aprovação” e decidiram “tomar uma atitude”, criando esta petição para terminar com o evento. “Sempre associámos a Queima a um evento criado para os estudantes universitários se divertirem e nunca pensámos que esse divertimento passasse pelo sofrimento e humilhação de animais indefesos”, explicam as jovens.

Defendem ainda que a Garraiada devia ser evitada visto tratar-se de “uma experiência traumática para o touro/bezerro que se encontra num ambiente hostil e em situação de desigualdade na arena”. Criaram a petição também por contarem que, devido aos fato de as pessoas estarem cada vez mais alertas para a “questão do sofrimento e exploração animal”, não seriam as únicas a oporem-se à decisão.

As estudantes têm recebido o apoio das associações que foram desde o início contra a inclusão desta prática no programa da Queima, agradecendo especialmente à AEFLUP e à Associação de Estudantes do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (AEICBAS), que as ajudaram a “partilhar e promover esta petição, mostrando-se também indignadas com a decisão tomada pela FAP”.

“O tempo prova que determinadas práticas devem ficar no passado”

André Silva, presidente da AEFLUP, uma das associações de estudantes contra a realização do evento, considera que “apesar do resultado há uma vitória moral”. Segundo o mesmo, esta votação já representa uma “gigantesca evolução face à situação de há uns anos”. André acredita que o voto que faltou “só adiou por um ano uma decisão que chegará”.

“São vários os princípios que nos fazem reprovar este tipo de iniciativa”, começa por explicar o estudante. Primeiramente, colocam em causa o tratamento destinado ao animal: “Caso fosse um cão São Bernardo, falando em algo com um peso semelhante, se todos sentiríamos que, ainda que não fosse espetado um ferro nas costas do cão, o tratamento a que o estaríamos a sujeitar era inofensivo?”

Em segundo lugar, a AEFLUP considera que o fato de recorrerem à tradição acaba por ser apenas uma desculpa, não sendo de todo uma “justificação válida” visto a fraca adesão que o evento tem na Queima do Porto, segundo André, ainda que o fosse, “o tempo prova que determinadas práticas devem ficar no passado”. Por último, o presidente da AE considera que a segurança do estudante que se lança ao animal “está sempre em causa”, existindo ainda no ano anterior acidentes complicados.

André Silva afirma que, apesar de a petição não ter sido criada pela associação, parece “natural que tenha surgido”, estando a decorrer uma petição semelhante na Associação Académica de Coimbra (ACC). O estudante considera que é interessante trazer este assunto para a opinião pública, visto que as “opiniões não parecem assim tão equilibradas como a votação da Assembleia Geral da FAP poderia fazer pensar”.

“Não sabemos que resultado prático poderá haver, até porque, por um lado, também está endereçada à Reitoria, que nada tem a ver com este assunto e, por outro, a garraiada foi oficialmente aprovada para o programa da Queima das Fitas do Porto de 2015”, explica-nos André. Contudo, “terá sempre a vantagem de dar um número bem mais real de contestatários do que 25 votos de uma assembleia geral”.

Mais de 2500 assinaturas 

Sónia e Joana consideram que a adesão que tiveram até então, mais de 2500 assinaturas, é “muito boa” e “reflete, realmente, o descontentamento por parte dos estudantes”, mostrando o quanto é “desnecessária a presença deste ato no programa da Queima”. As estudantes de Bioengenharia consideram que as “pessoas querem acabar com esta forma de tortura” e que a melhor forma é através da petição, que “é algo que está ao seu alcance para tal”.

Por enquanto, todas as entidades envolvidas têm de esperar pelo desenvolvimento do projeto e a Garraiada continua marcada para o dia 10 de maio, na Póvoa de Varzim. Até ao momento a petição conta com mais de 2500 assinaturas e as estudantes esperam ser “ouvidas com esta petição e que haja mudança de tradições que nos dias que correm não fazem o mínimo sentido”.