Final feliz para uma história de luta e persistência que durou mais de duas décadas. No Dia Mundial do Teatro, o antigo Palácio do Conde do Bolhão reabriu as portas há trinta anos encerradas, agora como sede da Academia Contemporânea do Espetáculo (ACE). Na inauguração há muito esperada, os anfitriões subiram ao palco para a estreia de Édipo – uma encenação do japonês Kuniaki Ida, da peça de Sófocles.

“Esta luta custou-nos mais de duas décadas e foi tão dura que às tantas chegámos a acreditar na lenda da maldição do Teatro do Bolhão”. António Capelo, ator e diretor da ACE e um dos grandes sonhadores do projeto, admitiu ter sido um caminho percorrido com muitos obstáculos. A degradação era muita. A falta de financiamento também. Recuperar o antigo Palácio e adaptá-lo às necessidades de uma escola e companhia de teatro custou 2,8 milhões de euros e muito esforço. 

Campanhas 

O Porto, cidade que deve à antiga burguesia a sua maior produção cultural, vê agora renascer um dos seus edifícios mais notáveis da arquitetura civil oitocentista.

Numa primeira fase, em 2001, o Palácio do Conde do Bolhão teve de ser adquirido pela Câmara Municipal do Porto . Numa segunda fase, a obra de requalificação foi paga essencialmente – 60% – por fundos europeus, contribuições dos ministérios da Educação e da Cultura, e ainda da autarquia. Foi preciso, para além disso, arranjar um mecenas diferente para pagar o complexo restauro de cada uma das principais salas.

De todos os espaços para os quais a ACE/Teatro do Bolhão pedia apoio, a escadaria monumental (ver imagem principal) que ilustra todo o Palácio, com 67 degraus, tinha o custo de recuperação mais elevado – 35 mil euros. Capelo lançou, então, em janeiro de 2014, a campanha de angariação de fundos para a mesma, com o nome “Degrau a Degrau”.

Como forma de recorrer também à comunidade, qualquer pessoa podia contribuir. Apenas um euro fazia a diferença e dez já davam direito a ver o nome inscrito nos degraus. Por cem euros era possível garantir um ano de acesso livre aos espectáculos, mas por 500 comprava-se um degrau inteiro. Uma campanha inovadora e diferente que chegou aos corações da comunidade e que viu os seus resultados chegarem, também, degrau a degrau.

Inauguração

A prestar homenagem a Capelo e aos restantes responsáveis, estiveram presentes na inauguração várias personalidades do mundo do Teatro e da Política, incluindo o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. Uma vez que se abriram as imponentes portas da fachada do Palácio, os anfitriões António Capelo e Pedro Aparício deram as boas-vindas aos convidados, desde amigos, conhecidos, a curiosos, que fizeram questão de os saudar de forma emotiva e congratular pelo difícil feito conquistado. No lobby, a quantidade de amantes do Teatro e o sentimento consensual de concretização não deixava espaço a mais nada. Após a chegada de Rui Moreira, António Capelo fez as honras e abriu as portas da escadaria. As centenas de pessoas presentes seguiram para o salão nobre onde os intervenientes falaram à comunidade sobre o projeto. O dia foi de festa. Finalmente, o projeto terminou os ensaios e está agora pronto para entrar em cena.

Partilhar o Palácio com a comunidade 

A partir do dia 18 deste mês, aos sábados, o Palácio está de portas abertas para receber a comunidade, que, tal como os anfitriões, há muito esperavam que o espaço renascesse. Com visitas guiadas, o público entra numa viagem pela opulência de cada um das salas, em tempos espectadoras da vida faustosa e tão glamorosamente detalhadas por Camilo Castelo Branco. Em setembro, estas mesmas visitas terão um twist: serão “dramatizadas” por atores da Companhia, que dão a conhecer ao espectador o tempo e espírito da época em que o Palácio foi feito.

“Queremos que as pessoas conheçam as instalações do Palácio, mas que não se esqueçam que isto é, sobretudo, uma casa de teatro”. Édipo foi o primeiro convite à população e esteve em cena até 4 de abril. A programação passa, no primeiro semestre, pelo enaltecimento do trabalho que se faz na ACE, deixando para um segundo semestre peças que não são da “casa”.

“O Palácio é muito importante para nós, mas o que está aqui em causa é o recheio, a forma como o vamos partilhar com a nossa comunidade”. Pedro Aparício, elemento da administração da Companhia, sublinha a parceria com a Turbina como a maior aposta neste campo recreativo. A ligação desta associação cultural ao Palácio do Bolhão promete “expandir o espaço às artes musicais, gozando do trabalho desenvolvido nos últimos anos, com vários criadores, instituições, empresas e públicos”.

Uma colaboração que, segundo Pedro Nascimento, da Turbina, contribuirá para a dinamização deste espaço nobre da cidade, afirmando a pertinência das propostas sempre atuais e fundamentadas. “Aceitámos com prazer o convite para vir habitar o Palácio e queremos estendê-lo ao resto da população”.

No último sábado de cada mês, a Turbina convidará o público a visitar o Palácio, com uma programação que se pretende “eclética” e que se estende aos vários espaços do Palácio e do Auditório. Estão preparadas atuações ao vivo, como as de Jorge Coelho, Holy Nothing e Quelle Dead Gazel e, a aquecer a pista, em formato live act, estão já confirmados os DJs Mr.Herbert Quain, Manuel Prima (Passos Manuel e Matéria Prima), Midnight, Maria (MVRIA) e Mister Teaser. A agenda pode ser consultada no site da Turbina.  

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