Jorge Polónia, investigador e docente do Departamento de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), venceu o Prémio Bial de Medicina Clínica 2014. Este prémio, no valor de 100 mil euros, distinguiu o trabalho de uma década do investigador, denominado “A problemática do sal em Portugal na última década: Avaliação do consumo do sal, das fontes alimentares, da relação com a doença cardiovascular, das políticas de saúde e dos benefícios obtidos em 10 anos”.

O projeto contou com a colaboração de outros nomes, como Luís Martins, Jorge Cotter, Fernando Pinho e José Nazaré. Numa fase primária, o estudo concentrou-se em avaliar o consumo de sal no país e a sua relação com as doenças cardiovasculares. De seguida, o fundamental foi implementar medidas que combatessem os resultados anteriormente encontrados.

Em declarações ao JPN, Jorge Polónia revela as principais diretrizes deste estudo. Começa por explicar a “base científica” do estudo, que se concentra em dois tópicos, “a problemática do doseamento do sal” e “os problemas cardiovasculares que o sal provoca”. Com este trabalho, uma das principais conclusões a que o professor universitário chegou foi a de que apenas “4,4% dos adultos em Portugal comem o que está recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS)”, sendo que, em relação às crianças, apenas 9% o fazem. “Praticamente ninguém cumpre o que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde”, considera.

União Europeia

Os resultados deste trabalho têm sido “muito citados na União Europeia (UE) como um país de sucesso”. Estes, juntamente com as medidas legislativas implementadas em Portugal, fazem então parte dos boletins europeus, demonstrando o sucesso da iniciativa a nível internacional.

Ainda relativamente à parte científica, Jorge Polónia concentrou-se em perceber a relação do “sal com a hipertensão arterial”, encontrando uma relação de causalidade neste tópico e também nos “estragos a nível vascular, renal e cardíaco”. Outro dos estudos dentro do projeto magnânimo de dez anos concentrou-se no papel do sal na sucessão do acidente vascular cerebral (AVC), sendo que, quem ingere sal acima dos níveis desejados (cerca de 11 gramas), tem “um risco 4,5 vezes maior de desenvolver um AVC”.

Investigação que gerou uma lei

Desenvolvida a parte científica, o professor e os seus colaboradores concentraram-se na intervenção pública do trabalho. Tudo começou com o doseamento da quantidade do sal no pão: “Verificámos que o pão português tinha uma quantidade de sal significativamente alta. Com isso, fomos ao Parlamento e conseguimos que os deputados aprovassem uma lei de regulação da quantidade do sal no pão em Portugal, uma das principais leis europeias a esse nível”.

O investigador premiado realça ainda que “introduziu-se, de igual modo, graças à colaboração das grandes superfícies alimentares, nos alimentos embalados de marca branca, o semáforo”. Este consiste numa medição de sal que o produto contém. Como consequência destas e outras medidas, segundo Jorge Polónia, em dez anos deu-se uma redução da probabilidade de morte por AVC em Portugal de 43%.

Um prémio de “prestígio”

Já em relação ao prémio em si, o professor da FMUP afirma que este é “um dos prémios com mais prestígio”, não só a nível monetário, como a nível das personalidades que estiveram na cerimónia de entrega do mesmo, nomeadamente Cavaco Silva, Presidente da República, e Paulo Macedo, ministro da Saúde. O investigador conta ainda que sentiu “orgulho e satisfação” ao receber esta distinção, bem como uma “sensação de recompensa por ter sido reconhecido”.

Jorge Polónia termina as suas declarações ao dizer que este estudo é para continuar, afirmando que o mesmo “já tem muito mais para além do que foi premiado”. Afirma, então, que muitos aspetos ainda estão a ser desenvolvidos, como os estudos em diabéticos, entre outros.

Até há dez anos, ninguém sabia quanto sal consumiam os portugueses. Nos dias de hoje, graças a Jorge Polónia e à sua equipa, já muito foi desvendado.