Como tantos outros jovens, Hugo Salgueiro terminou o ensino secundário e fez uma pausa, antes de entrar na faculdade, para trabalhar. Mas, aos 21 anos, o jovem, agora também estudante de Direito da Católica do Porto (UCP), carrega a maturidade de uma profissão singular para a idade que tem – é agente funerário.

Hugo Salgueiro começou a trabalhar no ramo após terminar o ensino secundário, por meio do negócio de família. Aquela que começou por ser uma forma de ocupar o tempo antes de entrar para a universidade, tornou-se numa função a tempo inteiro que, se ao início lhe causava estranheza, hoje em dia, é uma profissão como qualquer outra: “Enquanto não nos habituamos à ideia de que está ali alguém que morreu, é constrangedor. Depois de entrarmos no ritmo do que se faz, é normal”, conta, ao JPN.

O papel de um agente funerário vai desde o momento em que lhe é comunicada a morte de alguém, à organização das cerimónias fúnebres e ao tratamento da papelada necessária posteriormente. Viver cara a cara com a morte é já, para Hugo, um trabalho natural, mas o instante em que um cliente entra na agência requer a mesma delicadeza do primeiro dia.

“Costumamos cumprimentar o cliente, damos-lhe os nossos sentimentos e, de seguida, perguntamos em que podemos ajudar”, esclarece. A cordialidade e o respeito são as duas máximas que o agente funerário tem em mente para tornar mais leve uma situação vulnerável. “Temos que mostrar um sorriso, mas não pode ser um sorriso muito eufórico”, afirma Hugo.

A proximidade constante da morte nesta profissão implica o desenvolvimento gradual de uma resistência à sensibilidade dos episódios de perda. Apesar disso, Hugo Salgueiro assegura que nem o hábito desprove o agente funerário de emoção: “Há algumas situações que nos tocam, ou casais mais velhos onde ainda se vê aquele amor profundo e intenso, ou crianças com doenças terminais. É difícil manter o lado profissional e, por vezes, também nos comovemos em funerais”.

O hábito faz-se pela repetição

Para quem convive com Hugo Salgueiro diariamente, esta profissão é apenas mais uma característica sua, mas para os desconhecidos que se cruzam com o jovem, este trabalho causa alguma estranheza: “Perguntam-me sempre como é que eu consigo. O conseguir é uma questão de hábito e, se não estivesse aqui, provavelmente não teria emprego”, reconhece.

Para Hugo, o negócio de família é um emprego como qualquer outro, “sem feriados ou fins de semana, porque para morrer não há hora”. Além disso, realça que, na situação economicamente instável em que o país se encontra, encontra segurança neste trabalho, enquanto não termina o curso. O estudante de Direito pretende, futuramente, aplicar o curso à vertente jurídica da empresa: “Também tratamos de assuntos relacionados com testamentos e heranças, por isso, ter alguém que possa encarregar-se desse departamento seria uma mais valia para a agência”.

A maturidade precoce

Hugo Salgueiro dá conta, mais do que qualquer pessoa, do ponto final da vida, pois é dele que é feito a sua profissão. Ser agente funerário, além da noção da efemeridade da vida, dá muito que pensar: “Levantam-se muitas questões, seja a nível de família, do valor que lhe atribuímos, e mesmo da religião, se haverá vida para além da morte, se é realmente o fim”, refere.

Contudo, apesar do peso que isso comporta, esta profissão dá-lhe uma perspetiva completamente diferente da vida: “Ao trabalhar nisto temos muito mais a noção de que a vida são dois dias. Não vale a pena chatearmo-nos, porque isto é uma passagem”, afirma.