Segundo Laura Tarouca, cirurgiã plástica na CUF Porto, cada vez mais adolescentes e jovens adultos com menos de 25 anos procuram hospitais e clínicas especializadas em cirurgia estética e plástica. Além das transformações físicas e, em alguns casos, melhorias de saúde, as cirurgias tratam de “problemas graves sob o ponto de vista psicológico – as dismorfias- em que a imagem nunca corresponde ao ideal”, explica.
Mamoplastia de aumento
Célia é uma jovem de 21 anos e sempre desejou ter um peito maior. A copa A de Célia representava, para ela, problemas de grande amplitude: “Nunca tive sequer um pouco de peito e sentia-me inferior às outras raparigas, cheguei a sofrer de bullying… os rapazes perguntavam-me onde tinha deixado as mamas e não me sentia bem a tirar a roupa à frente das minhas amigas, no balneário”, conta.
A isolação de Célia foi consequência dos complexos corporais. Numa fase crucial de interação com outras pessoas para a formação da sua personalidade, Célia esteve sempre sozinha. Em vez de se divertir com os amigos, estava focada na cirurgia de mamoplastia de aumento. “Passei a minha adolescência a ver vídeos do antes e depois de colocar silicone. Sempre estive bastante segura que era isso que queria”, afirma.
Em suma, esta necessidade ultrapassou as barreiras do estético para tornar-se numa questão de tratamento psicológico. O único fator em falta para o avanço da decisão era o fator monetário.
No entanto, Célia, com 18 anos, na altura, tentou um método alternativo, comparticipado pelo Estado. “Soube por uma amiga da minha mãe que também colocou silicone, que seria possível pôr num hospital público e foi isso que fiz. Fui a uma consulta no São João e falei com uma psicóloga para avaliar o caso. Passado algum tempo, estava numa fila de espera interminável e após um ano fui contactada, porque tinha chegado a minha vez”, conta Célia.
Com 19 anos, submeteu-se a uma cirurgia de mamoplastia de aumento e, apesar de ser muito nova para o fazer, considerava que não valia a pena esperar mais tempo, pois estava infeliz com o seu corpo e, além das repercussões de índole psicológica, estava “a perder a melhor fase da minha vida”, revela a jovem. Após a colocação de 200 ml em cada seio, Célia ficou feliz com o resultado, tendo em conta o pré e pós operatório. “Não é uma cirurgia complicada e após uma semana, as pessoas já estão recuperadas, por isso claro que valeu a pena. (…) Sinceramente, achava que ia ficar com o peito maior e logo depois da cirurgia tinha vontade de fazer outra cirurgia para aumentar”, conta.
Esta reação é bastante comum no pós-operatório, dado que os pacientes idealizam um resultado diferente do que é possível, em particular, os jovens. No entanto, Célia após a recuperação ficou satisfeita e enumera vantagens a vários níveis. “Nunca tinha tido peito antes e após a cirurgia, comecei a usar roupas mais justas, mais decotadas, sem cachecóis e lenços, como fazia antes para cobrir a zona peitoral. Finalmente, usei um bikini e sentia-me bem com o meu corpo e isso, para mim, foi uma vitória. (…) Também mudei a minha personalidade. Era uma pessoa muito isolada e evitava sair, porque não tinha vontade de me vestir e que as pessoas me vissem. Ganhei uma nova confiança e sinto que depois da cirurgia, tenho uma opinião mais vincada e não tenho tanto medo de aproximação”, conta.
O JPN foi para a rua questionar jovens com menos de 25 anos, sobre o que gostariam de mudar no seu corpo:
A cirurgia de eleição dos jovens é, sem dúvida, a rinoplastia. O JPN “meteu o nariz” para saber toda a história de Marta Silva.
Rinoplastia (Rinomodelação)
Marta Silva tem 24 anos e fez uma rinoplastia (rinomodelação) há três anos. A jovem admite que nunca se sentiu confortável na sua pele: “Tenho o chamado nariz de papagaio e nunca me senti bonita devido a esta característica facial. Nas fotografias, por exemplo, evitava sempre estar de perfil. Fui bastante gozada quando era miúda e claro que isso diminuiu a minha auto-estima”, afirma a jovem.
Para além do fator estético, a rinoplastia ia melhorar a sua respiração, porque a curvatura acentuada do seu nariz dificultava uma correta inspiração.
Marta seguiu os procedimentos normais: “Dirigi-me a uma clínica especializada em cirurgia plástica e informei-me sobre tudo, desde custo a riscos associados. Numa das consultas, o meu médico cirurgião mostrou-me num programa computorizado como seria o resultado. Marquei a operação para a semana seguinte e tudo correu como o esperado”, conta. Submeteu-se à cirurgia com 21 anos, mas se tivesse tido meios teria feito mais cedo, sem hesitar. A operação correu bem, mas teve uma pequena infeção: “O pós operatório foi um pouco complicado, porque ganhei uma infeção local, mas faria novamente (a operação) se fosse preciso”, afirma.
A melhoria física está à vista de todos: o nariz não tem qualquer curvatura nem cicatriz e respira melhor. O que também está à vista de todos é a acrescida confiança de Marta. Geralmente as cirurgias plásticas são associadas a fatores meramente estéticos, mas grande parte das vezes há mais para além de um motivo estético – fatores psicológicos e sociais são grandes “alavancas” que abrem portas de clínicas estéticas e plásticas a um grupo de pacientes cada vez mais jovem.
Cirurgia Plástica vs Cirurgia Estética
“A cirurgia plástica trata fundamentalmente de reconstituir a forma plástica pré existente e alterada por circunstâncias várias – queimaduras, traumatismos, etc. A cirurgia estética trata de alterar a forma pré existente para a integrar num todo de forma mais harmoniosa. De facto toda a cirurgia estética é plástica e toda a cirurgia plástica tenta devolver a estética inicial .”,explica Laura Tarouca.
O lado do especialista
Para Laura Tarouca, os jovens procuram os seus serviços por diversas razões: “Por moda, identificação com determinados modelos de referência e lifestyle” o que leva, por vezes, as jovens a procurarem extremos como “querer um peito muito grande ou muito pequeno”, conta.
As cirurgias variam consoante a idade e o sexo: a cirurgia plástica é mais recorrente nos jovens entre os 15- 20 anos, já a estética é mais procurada pelos indivíduos com idade compreendida entre os 20 e 25. Enquanto que o sexo feminino opta essencialmente por cirurgias mamárias de aumento e redução e lipoaspirações, o sexo masculino prefere as rinoplastias.
“Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano, porque o humano é imperfeito”, já dizia Fernando Pessoa.