O dia de terça-feira, 28 de abril, no pólo de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto foi o palco da reflexão sobre três temáticas, distintas, mas não necessariamente desconectadas umas das outras: democracia, jornalismo e corrupção política. A sessão da tarde teve início com a intervenção de Estrela Serrano, que apresentou no âmbito do projeto “Cobertura Jornalística da Corrupção Política: uma perspetiva comparada”, as conclusões do estudo “O contributo da blogosfera na discussão da corrupção política”.

A Presidente do Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ) salientou como ponto fulcral deste estudo, o papel dos novos media na criação de crítica e conhecimento no público, ao ponto de estes poderem substituir os media tradicionais. Os blogs foram por excelência os objetos de estudo em análise e os principais motivadores de questões e levantamento de hipóteses.

A possibilidade de existir uma separação entre os blogs e os media tradicionais foi colocada em cima de mesa, no entanto Estrela Serrano explicou que ambos os núcleos são mais dependentes um do outro do que inicialmente se previa. O uso de fontes por parte dos blogs é normalmente feita com recurso a links de jornais de referência, uma forma de credibilizar a informação retida na blogosfera. No outro lado da moeda, os media tradicionais procuram na blogosfera o fator notícia, algo que possa despertar o interesse jornalístico. Como explica a investigadora, “os blogs alimentam-se de atualidade” e “gostam de credibilizar a sua própria informação”.

A linha que separa um jornalista de um blogger deve estar, para Estrela Serrano, bem definida, uma vez que a responsabilidade social perante o leitor é diferente quando se está perante um profissional credenciado e sujeito a um código de Ética – “Devem ser os primeiros [jornalistas] a saber identificar a sua identidade e autoridade profissional”, defende.

No estudo realizado pela investigadora, esta denotou que os casos de corrupção como o Face Oculta, BPN, Freeport e o escândalo dos submarinos foram criticados duramente por bloggers de todos os quadrantes políticos, não existindo qualquer solidariedade partidária, o que demonstrou que a corrupção é “má”. “Seja ela dos nossos ou dos outros”, afirmou.

Face Oculta e Freeport foram também motivo de referência na intervenção de Ana Cabrera. A investigadora do CIMJ teve estes dois casos presentes numa análise que elaborou à cobertura jornalística da imprensa. Para Ana Cabrera, existem determinados atores que podem definir o percurso de uma cobertura mediática e o nome José Sócrates foi o lugar-comum de ambos os casos. A modificação drástica que ocorreu nos media após o alegado envolvimento do ex-primeiro-ministro, foi notória e ainda nos dias de hoje, é alvo de crítica no meio jornalístico e na opinião pública – “O caso Face Oculta é visto como um caso de pressão sobre os meios de comunicação social, mas muito criticável aos olhos dos jornalistas e do público.”, explica.

O seminário “Democracia, Jornalismo e Corrupção Política” colocou em evidência três temas que dificilmente poderão ser dissociados. A problemática da corrupção permitiu no evento, colocar à vista o que pode ser aperfeiçoado do ponto de vista jornalístico e democrático.