A criação da quarta horta municipal é um dos desafios que a Câmara do Porto (CMP) pretende concretizar ainda este ano. A criação de hortas municipais, segundo um esclarecimento dado pela autarquia à Agência Lusa, nasceu “de um processo de auscultação da população em algumas zonas-piloto para resolver um desafio de gestão da direção municipal do Ambiente sobre como revitalizar terrenos votados ao abandono, inseguros, permanentemente conspurcados ou pejados de seringas em áreas periféricas da cidade”.

Da iniciativa nasceu, em 2003, a Horta de Aldoar, no bairro António Aroso, e, um ano depois, a Horta das Condominhas, no bairro com o mesmo nome. Ambas continuam em funcionamento e, de acordo com a informação divulgada pela CMP à Lusa, “funcionam ainda hoje, sem terem sido alguma vez vandalizadas, como espaços lúdicos com valências ocupacionais, de complemento ao orçamento familiar (agricultura de subsistência), mas também como um exemplo de gestão e conservação de espaços semipúblicos com economia de recursos”.

Horta de Aldoar

Criada em 2003, a Horta de Aldoar, no bairro António Aroso, é um pequeno terreno composto por 12 talhões. A área é de acesso gratuito a toda a comunidade, mas a sua ocupação é feita por sorteio. Ao vencedor será atribuído um talhão no qual pode cultivar tudo o que quiser, desde morangos a feijão-verde.

Salvador Gonçalves tem 63 anos e, apesar de ocupar um dos talhões há apenas oito meses, conta já com uma vasta gama de produtos cultivados. “Cebola, feijão, alface, rúcula, alho, coentros, salsa, morangos, couves” são alguns dos produtos que cultiva e que vão variando conforme a época do ano. “Há cultivo de inverno e há cultivo de verão”, esclarece ao JPN.

O terreno e os produtos são “tratados apenas com produtos biológicos” e, apesar do que cultiva a horta “não ser suficiente para o sustento de um ano”, Salvador Gonçalves garante que o que tira “da terra dá sempre para aliviar os gastos em casa”.

Ao mesmo tempo que ajuda a promover uma vida mais saudável, a Horta de Aldoar também é um bom local para passar o tempo e para entreter. “Encontrei aqui uma forma de passar o tempo e de aproveitar o que a terra me produz”, diz Salvador Gonçalves.

Horta das Condominhas

Um ano depois, a autarquia do Porto criou a segunda horta municipal junto ao bairro das Condominhas. A Horta das Condominhas conta com um total de 25 talhões e surgiu como forma de reabilitação de um local que “estava ao abandono e mal frequentado”.

Quem o afirma é José Barros, de 65 anos, e que usufrui daquela horta há dez. José garante que o ambiente naquela zona “melhorou bastante” desde a criação da horta e, “agora, muitos até se juntam nas mesas” que ali existem “para jogar às cartas”. “É uma forma para nos entretermos e é uma ajuda para passar o tempo, sobretudo para os reformados e os desempregados”, conta.

O agricultor urbano também confessa que a produção agrícola “não obriga a estar na horta diariamente”, mas é algo que, apesar de ser “engraçado”, “dá muito trabalho”.

José Barros esclarece que todos os ocupantes da horta recebem uma formação prévia sobre como trabalhar a terra, mas admite que “há pessoas que realmente sabem mais do que outras”. Apesar de crer não ser um “entendido no assunto”, José já tem cultivado na sua horta “alface, cebola, tomates, feijões, ameixoeiras e marmeleiros”.

Horta da Lada

A terceira horta municipal a ser criada foi a Horta da Lada, junto às escadas com o mesmo nome. Inicialmente criada no âmbito do projeto “Manobras” – iniciativa cultural de intervenção sobre o património imaterial do centro histórico do Porto -, acabou por ser transferida, em junho de 2014, para gestão municipal.

A horta, que ocupa um antigo baldio, distribui-se por dois terrenos que olham de frente o rio Douro e se dividem em pequenos talhões. Quem conta é Orquídeo Silva, de 66 anos, que, incentivado pela esposa, Ismália Cardoso, sobe, há dois anos, o ascensor da Ribeira, até ao primeiro andar onde a horta municipal da Lada ocupa, há cerca de três anos, um antigo baldio.

“A minha esposa foi criada na agricultura e acabou por me puxar para trabalhar na terra”, diz Orquídeo, que confessa não ser “um entendido na matéria”. No entanto, o gosto pelo cultivo foi crescendo e Orquídeo, juntamente com a esposa e o filho, ocupa três dos talhões da horta. “É um para cada um”, revela ao JPN em tom de brincadeira.

Agora não passa um dia sem ir regar os seus produtos, uma vez que é uma forma de “entreter e passar o tempo”, mas também “para levar alguns legumes para casa”. Desde feijão-verde, pencas, cebola, couve-galega, tomate cherry, beterrabas, espinafres, alface e brócolos, até flores e morangos. Orquídeo garante que é “tudo tratado com produtos biológicos, como o estrume de cavalo, borras de café e cascas de ovos para dar calcário à terra”.