Inaugurada em 1877 por Dom Luís I de Portugal e Dona Maria Pia, a ponte de ferro que faz a ligação entre Porto e Vila Nova de Gaia está classificada como monumento nacional e é o único monumento português que faz parte da lista de grandes obras de engenharia da American Society of Engineering (ASCE).

Neste momento está sem utilidade desde 1991, altura em que foi substituída pela ponte São João, por não ter condições para a passagem de carruagens modernas e por ter apenas uma linha. “Já se passaram mais de 20 anos desde que a ponte foi encerrada e a realidade é que ainda não se conseguiu encontrar nenhuma solução. É uma situação um quanto ou tanto surpreendente e até um pouco escandalosa, porque, em qualquer lugar do mundo, uma ponte com esta importância e reconhecimento já tinha sido alvo da maior intenção e já se tinham encontrado soluções”, diz, em declarações ao JPN, José Lopes Cordeiro, professor universitário e autor do livro “Ponte Maria Pia – A obra-prima de Seyrig”.

José Cordeiro aponta que o problema principal nesta questão está nos custos de manutenção que ninguém quer assumir e relembra a hipótese de se transformar o monumento numa passagem “ciclo pedonal”. Projeto que já foi aprovado há anos, mas que nunca saiu do papel.

O professor universitário alerta também para a degradação da estrutura que diz ser um dos monumentos mais importantes do país.

A ponte Maria Pia está sob a responsabilidade da REFER, que, desde 1991 e até hoje, efetuou uma intervenção de restauro da ponte, em 2009. Em declarações ao JPN, fonte da empresa confirma a existência do projeto de 2004, que visa implementar na ponte um corredor ciclo pedonal, mas que nunca avançou. Ainda assim, a empresa garante que “têm sido realizadas várias reuniões entre a REFER e os municípios do Porto e de Vila Nova de Gaia, que acreditam que poderão reativar o processo de requalificação iniciado em 2004”. No entanto, o futuro da ponte continua incerto.

O JPN tentou também falar com a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, que reencaminhou o assunto para o “projeto de valorização do Douro”. Um programa inter-municipal, que, segundo o arquiteto Adelino Oliveira, conta com a Câmara de Gaia, Porto, Gondomar e Santa Maria da Feira, e que, neste momento, está a trabalhar para arranjar uma solução para a ponte Maria Pia. Por outro lado, a Câmara do Porto não quis prestar declarações.

A ponte que podia estar no centro da cidade

Recorde-se que a ponte já foi alvo de outras tentativas de revitalização. Em 2010, por exemplo, uma empresa portuguesa tentou tornar a ponte numa referência de bungee jumping, e, três anos depois, houve mesmo uma tentativa de deslocação da ponte para o centro da cidade por parte de dois arquitetos portugueses. Nenhum dos casos chegou a avançar.

Projetada pelo francês Théophile Seyring, na altura engenheiro da famosa “Casa Eiffel” e que também viria a projetar, mais tarde, a ponte Dom Luís I, a estrutura foi importante para o desenvolvimento económico da região e um marco histórico nos caminhos-de-ferro portugueses, servindo como ligação ferroviária entre as duas margens do Douro, entre 1877 e 1991 (114 anos), altura em que ficou inativa, até hoje.

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