No ano letivo de 2013/2014 participaram 422 estudantes em 37 competições nacionais universitárias, revelou o Centro de Desporto da Universidade do Porto (CDUP). No presente ano letivo de 2014/2015, com o calendário competitivo ainda não terminado, a associação já contou com a participação de cerca de 500 estudantes nas competições nacionais universitárias realizadas até ao momento, o que representa um aumento de cerca de 18,5% face ao ano letivo anterior.

Boa alimentação e  moderação nas atividades são fundamentais

Liliana da Silva Correia, médica de medicina geral e familiar, acredita que a prática de atividade física é muito benéfica para a saúde, em termos físicos e mentais. “Está comprovado cientificamente que permite prevenir e reduzir o excesso de peso e tem benefícios a níveis cardiovasculares. Também previne a diabetes e a redução da tensão arterial. Em termos de saúde mental, diminui a ansiedade e melhora as funções cognitivas”, afirma a médica.

Dando conselhos mais específicos aos jovens, Liliana Correia acredita que a assiduidade no desporto é essencial para uma melhor prática do mesmo. “A Organização Mundial de Saúde recomenda que se façam pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana, ou seja, 20 a 30 minutos de atividade física diária”, explica.

Moderação comprovada cientificamente

Investigadores da Dinamarca concluíram, em fevereiro de 2015, que quem força demasiado o corpo acaba por eliminar os benefícios da prática desportiva. Os dados foram publicados no “Journal of the American College of Cardiology”. O estudo decorreu ao longo de 12 anos e evidenciou que o risco mortal daqueles que correm num ritmo acelerado mais de quatro horas, durante três dias por semana, é o mesmo de quem não faz exercício.

Por outro lado, nem só de vantagens vive o desporto. A médica adverte, também, para alguns riscos, como os “traumatismos, fraturas, ou outro tipo de lesões”, quando a atividade física não é praticada com a devida moderação. “Estes riscos são mais frequentes em desportistas de alta competição, ou então em pessoas amadoras, que, inicialmente, eram sedentárias, e que começaram a fazer atividade física de forma exagerada. Por exemplo, pessoas que, quando chega o verão, querem perder peso muito depressa ou pessoas que querem desenvolver musculatura muito rapidamente. Essa falta de moderação aumenta muito os riscos consequentes”, sustenta.

Para prevenir essas lesões, Liliana Correia recomenda que se façam sempre “vários exercícios de alongamentos” e que se tenha sempre “uma alimentação equilibrada, porque as atividades desportivas encarregam um desgaste energético muito grande”.

A médica acrescenta um reparo para a atenção que se deve ter ao excesso das dietas praticadas: “O que acontece é que, quem faz exercício, algumas vezes faz para perder peso e, por isso, faz dietas. A dieta e o exercício físico podem não conjugar. Se for feita uma dieta alimentar, deve ter como base, sempre, uma alimentação equilibrada. E a hidratação é muito importante, porque quem faz desporto perde muitos líquidos. E toda a gente deve beber um litro e meio de água por dia”, explica.

Papel da família e amigos e tempo para descanso e lazer são imprescindíveis 

Francisco Machado, psicólogo clínico e professor de Psicologia do Instituto Superior da Maia (ISMAI), acredita que um estudante que seja atleta só pode ter uma boa gestão das suas atividades com tempo para o ócio e o descanso, e se se sentir bem apoiado emocionalmente pelo seu ciclo social mais próximo:

Para o psicólogo, “a prática da atividade desportiva tem muito mais aspetos positivos do que negativos” a nível mental, para os jovens estudantes. Francisco Machado acredita que o desporto não só exerce um combate real ao stress e à ansiedade,  como também “ajuda a criar certos valores, desde cedo, nos jovens, como o trabalho de equipa, a disciplina, a solidariedade, a concentração, o pensamento estratégico, a empatia  e o espírito combativo”.

Benefícios mentais também já comprovados

Investigadores da Universidade de Toronto, no Canadá, inquiriram cerca de 850 estudantes do 8.º ao 12.º ano, de várias escolas, para perceber se o desporto escolar podia, ou não, ter um efeito protetor contra as tendências depressivas. “Praticar desporto na escola entre os 12 e os 17 anos protege os jovens de uma saúde mental pobre quatro anos mais tarde”, afirmou Catherine M. Sabiston, coordenadora da investigação, quando explicava, em comunicado, alguns resultados do estudo divulgado em julho de 2014.

Relativamente a pontos menos positivos, o professor acha que a prática do desporto é principalmente nociva psicologicamente, quando “é maioritariamente focada na competição e no ganhar a qualquer custo”, visto aí poderem ser suscitadas, com muito maior facilidade, certas “situações de conflito, frustração e tensão nervosa”.

Para Machado, quando os jovens não conseguem gerir bem ambas as atividades, isso deve-se não só à elevada exigência das modalidades desportivas, como também “à elevada carga horária e exigência das universidades para com os estudantes”, limitando-os, muitas vezes, “a perderem o tempo para a vida social”.

Para o professor, quando os estudantes-atletas não conseguem conciliar as duas atividades, poderão chegar a uma altura em que terão que “optar por uma delas”, e isso poderá resultar numa dupla frustração inicial: “A da tristeza, por terem que abdicar de uma atividade de que gostam, e a tristeza seguinte, de já não a terem presente na sua vida”.

“Abdiquei do desporto quando entrei para a universidade, pela falta de condições para continuar”

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Teresa Figueira teve que abdicar do Badminton em detrimento da licenciatura em Criminologia (DR)

Um bom exemplo do sacrifício do desporto em detrimento dos estudos é o de Teresa Figueira, estudante madeirense de 22 anos. A aluna de Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP) praticou badminton desde os dez anos de idade, e, aos 11, conseguiu mesmo ser campeã nacional da modalidade. Desde tenra idade que fez várias viagens internacionais para torneios, tendo sido também convocada várias vezes para a seleção nacional.

Já quando entrou na universidade viu-se “num mundo totalmente diferente”, visto ter vindo morar para o continente, ausentando-se da família. “O apoio que tinha da minha família foi uma grande chave para o meu sucesso desportivo. Os meus pais sempre me apoiaram imenso e isso fez toda a diferença”, conta. Outro fator que fez a jovem abdicar da modalidade foi, não só, a falta de tempo, mas também “a falta de condições para continuar a praticar”. “Lesionei-me e a minha equipa na Madeira cobria todos os gastos nesse sentido. Cá, no continente, eu já tinha que financiar tudo do meu bolso”, explica.

 

“Conseguia conciliar no início, mas numa fase final do curso, tive mesmo que abrandar o ritmo”

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Duarte Carregueiro continua a praticar andebol, mas devido à licenciatura, suspendeu a prática profissional da modalidade. D.R.

Desde muito cedo um apaixonado pela prática do andebol, Duarte Carregueiro, natural de Leiria e estudante de Matemática na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), chegou mesmo a ser jogador profissional pelo Futebol Clube do Porto e também chamado à seleção.

“Os treinos intensos diários e todo o ritmo e dedicação que isso exigia condicionaram-me um pouco os estudos”, que “se revelavam prioritários”, conta. Hoje treina uma vez por semana, na sua cidade natal, e faz um jogo por semana. “O ritmo desportivo caiu, mas hoje tenho muito mais tempo para estudar com calma e isso era muito importante para mim”, refere.

Contudo, apesar do significativo aumento de estudantes da UP a frequentarem atividades desportivas de competição na instituição, existem casos concretos – como os aqui relatados – em que, muitas vezes, querer só seguir o sonho do desporto não é suficiente, muitas vezes devido à elevada carga horária de estudo e de exigência de alguns cursos universitários, como referiram os dois estudantes contactados pelo JPN.

Há também alunos que, mesmo com uma elevada exigência académica, persistem no sonho desportivo, ainda que, muitas vezes, possa ser árduo o balanceamento entre as duas atividades.

Gil Vicente, jogador de hóquei em patins há quinze anos, explica-nos como se concilia a vida desportiva com a académica

Gil Vicente, jogador de hóquei em patins há 15 anos, explica como se concilia a vida desportiva com a académica D.R.

É o caso de Gil Vicente, que, atualmente, é estudante da licenciatura em Engenharia Civil no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), e, em simultâneo, também jogador e treinador de hóquei em patins.

O jovem é atleta sénior do Juventude Pacence, do clube Paços de Ferreira, e treinador da equipa no escalão sub-15. Estreou-se na modalidade no clube da sua cidade natal, Fânzeres, há 15 anos. Jogou também em Baguim do Monte e Valongo. Teve uma passagem por um clube na primeira divisão nacional de hóquei em patins, no ACR Gulpilhares, onde, em duas épocas, marcou 86 golos.

O desportista, desde muito tenra idade, começou a ajudar a treinar as equipas de escalões mais jovens. O “bichinho” ficou e, posteriormente, viria a tirar o curso de treinador de nível 1. O jovem diz ser um apaixonado pelo hóquei e ter todo o seu futuro desportivo ainda em aberto. Confidencia, ainda, que, por vezes, é difícil gerir a vida académica com a desportiva, mas, mesmo assim, exemplifica situações em que o desporto lhe permitiu ter um rendimento mais adequando nos estudos:

Gil Vicente revela também quais os principais cuidados enquanto estudante-atleta no seu quotidiano:

E o que é que o desporto lhe trouxe de mais positivo a nível pessoal?