“Coloquem-se na pele do outro, na visão do outro”. É este o repto de Pedro Estorninho, encenador de Só Se Eu Quiser, peça que estreia esta sexta-feira, 17 de julho, no Teatro Carlos Alberto, no Porto. “Tendo o silêncio e o espaço como elementos de criação, o espetáculo é um solilóquio – mais do que um monólogo, já que a personagem se encontra em diálogo consigo mesma – sobre a solidão, a fragilidade, a lucidez e, no fundo, sobre as decisões que os doentes terminais têm de tomar quando confrontados com a morte”.

Atividades paralelas

Sábado, 18 de julho, o TEatroensaio organiza uma conferência com a participação de Pedro Estorninho, Gil Costa Santos e Maria Edite Rio – neurologista da Associação Nacional de Esclerose Múltipla (ANEM) e do CUF Porto Hospital. A iniciativa está agendada para as 16h e tem entrada gratuita, sujeita à lotação da sala.

“Um diálogo livre e interno sobre o modo como enfrentamos e ultrapassamos a dor” e os diferentes tipos de morte na “vida-vidinha”. Para Gil Costa Santos, investigador do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa, Só Se Eu Quiser é “a afirmação desta luta essencial que, no fundo, dá vida à vida deste homem”.

“Este homem” é interpretado por Valdemar Santos – que, em 2014, ganhou o prémio de melhor ator secundário (CinEuphoria), com A Ceia –, que explora a lucidez “sem linha de fuga, mas também sem lágrimas, nem lamechices”. Num momento de confissão, a personagem declara-se refém de si mesmo, em que o corpo é o seu próprio ditador, numa luta entre a cobardia e a coragem.

Só Se Eu Quiser é uma coprodução entre TEatroensaio e Teatro Nacional São João (TNSJ), para maiores de 14 anos. A peça pode ser vista até dia 26 de julho, às 21h (de quinta a sábado), às 19h (quarta-feira) e às 16h00 (nos dois domingos). Os bilhetes custam 10 euros e o espetáculo tem a duração aproximada de uma hora.

Da “solidão” à “decisão”: oito anos de TEatroensaio

Fundado em 2008, no Porto, o TEatroensaio tem vindo a investir na centralidade da palavra e do trabalho do ator, e as suas ferramentas corporais, intelectuais e afetivas, para colocar questões em cima do palco. Todos os anos, em parceria com artistas convidados, é escolhido um tema que depois é trabalhado e desenvolvido em criação teatral. O primeiro ano começou com o tema da “solidão”, partindo do princípio que o teatro é um meio universal de comunicação entre intérprete e público.

O “caos”, a “mulher”, a “palavra” ou a “migração” são outros dos temas que foram trabalhados nos anos seguintes, para integrar a arte numa sociedade individual e coletiva mais solidária, capaz e consciente. Agora, o TEatroensaio chega ao TNSJ com o tema da “decisão” para apresentar Só Se Eu Quiser, uma peça sobre responsabilidades próprias e que coloca duas questões centrais: “Devemos ou não aceitar viver em sofrimento? Temos a liberdade e a responsabilidade de tomar uma decisão consciente sobre o tempo da nossa morte?”.