Carolina Bessa, de 22 anos, é dona de uma casa em Baião, “no meio do nada”: “O supermercado mais próximo está na vila e isso fica a 20 minutos de carro”, conta. É aqui que Carolina e o seu grupo de amigos opta por afastar-se da tecnologia todos os fins de semana do mês. Mas o que move indivíduos de uma geração onde o telemóvel e a Internet são prolongamentos do próprio corpo, a irem de livre e espontânea vontade para um sítio sem “nada”?
“O meu trabalho requer muita utilização de computadores e acesso à Internet. Quando tenho tempo livre quero estar com os meus amigos e só com eles, sem wi-fi ou outras distrações”, conta Marco Ribeiro, assistente social. “As redes sociais, como o Facebook, juntam-nos quando estamos separados, mas separam-nos quando estamos juntos”, afirma.
Numa casa sem acesso à Internet, TV por cabo e rede móvel, os jovens aproveitam para explorar atividades da geração passada que caíram em desuso. João Sousa admite não sentir ausência das tecnologias: “Estou com os meus amigos a comunicar, divertir-me, dançar ao som de grandes hits de outros tempos, jogar cartas e jogos de tabuleiro, que nem dou conta que não fui ao telemóvel há um ou dois dias verificar as notificações do Facebook. São programas que não fazemos diariamente, infelizmente”, conta o jovem.
Carolina, por vezes, tem receio da falta de rede móvel: “Estar com os amigos no meio do nada tem tanto de excitante como de assustador. Quando vamos todos dormir, cada barulhinho durante a noite é motivo para acordar e ver se está tudo em ordem na casa e no exterior”, diz. Apesar destes contras, há muitos prós na opinião dos jovens e vão quase todos os fins de semana para longe da tecnologia.
“É uma terapia”
“É uma terapia. Durante a semana estou sempre muito stressado, tenho de andar sempre a correr de um lado para o outro. É bom poder ver uma paisagem verde, estar sentado no sofá a desfrutar a vida com os amigos. Sinto que quando não há possibilidade de ir um fim de semana por motivos profissionais ou outras razões, não tenho tanta energia durante a semana. Estar sem telemóvel e longe do contacto com a agitação diária ajuda a recarregar as energias”, conta João.
Em plena “era digital”, vários jovens necessitam, por vezes, de “dar um tempo” às tecnologias para uma relação mais harmoniosa com elas, a nível profissional e social. “É uma maneira de não exagerar (no uso das tecnologias), porque tudo o que é em demasia traz consequências negativas”, explica Carolina.
“Ter comida na mesa é mais importante”
Este grupo de jovens, no entanto, não é o único a fugir dos dispositivos móveis e Internet: “Não somos apenas nós que vamos para uma casa de campo. Tenho vários amigos que se reúnem e partem para uma aventura e também não sentem qualquer falta do computador ou redes sociais. O mais importante é diversão, amigos e bebidas. O contacto ‘face-to-face’ é sempre melhor do que o virtual”, conta Marco.
Questionados sobre se conseguiriam viver eternamente num lugar sem tecnologias, a resposta foi unânime: “Não”. “A tecnologia faz parte da nossa vida, da nossa profissão e é impossível dissociar-me delas”, admite Marco. Já Carolina acredita que é preciso saber dar um bom uso aos recursos digitais: “Quero usar a tecnologia para me auxiliar e nunca para me substituir”.
João acredita que o afastamento, ainda que temporário, permite dar valor a coisas simples do quotidiano: “É bom viver num mundo com tecnologias e sair um pouco da realidade ajuda a dar valor a coisas básicas do quotidiano como ter comida na mesa. As nossas idas a Baião são o nosso refúgio da sociedade”. Viver sem tecnologia é impossível, a chave é saber usá-la.