O “Calmo Desespero” tem poucos meses de existência, mas já vai no décimo capítulo. Este livro conta uma história que todos sabem como começa, mas ninguém sabe como acaba, nem mesmo os próprios autores.

São oito jovens comunicadores, muitos no início das suas carreiras, que estão a escrever o destino de cinco personagens, de cinco cidades de culturas distintas, de cinco continentes. A frase “tudo está ligado, tudo conspira”, do filósofo Leibniz, serviu como inspiração para a criação do livro, onde as tramas, que em nada parecem estar conectadas, vão cruzar-se no desfecho.

A ideia foi de Ricardo Jorge Pinto, um jornalista com 30 anos de carreira, e teve logo a adesão de toda a equipa, composta por alunos e antigos estudantes da Universidade Fernando Pessoa, onde leciona. O título do livro foi “apanhado à mão” da letra da música “Time” dos Pink Floyd. Queriam um nome vago e que não influenciasse o processo criativo da obra, mas que suscitasse curiosidade, daí surgiu o paradoxo “Calmo Desespero”.

O livro está a ser publicado numa plataforma online com o nome de Ricardo Jorge Pinto. A ideia é associar um nome conhecido no jornalismo a estes jovens alunos, “criar uma espécie de marca onde eles podem difundir os seus projetos e textos, servindo como um cartão-de-visita”, explica o jornalista e comentador.

No primeiro capítulo, escrito por Ricardo Pinto, sabemos como a história começa, mas o destino das personagens vai sendo traçado, capítulo a capítulo, autor a autor. Esta é uma história que ninguém consegue controlar, nem mesmo os seus criadores. “Cada um é dono e escravo, patrono e herdeiro, autor e leitor de histórias que se desagregam e se unem”, lê-se no prólogo da obra.

A única certeza que existe é que todas aquelas histórias e personagens, muito distintas, vão cruzar-se, fazendo jus à citação de Leibniz. É este o maior desafio: criar o destino das personagens de forma a cruzar as suas histórias e, tudo isto, está nas mãos destes jovens, também ligados entre si. Parece ser uma ideia complicada, mas não é: cada autor escreve, rotativamente, um capítulo, e apanha as ideias dos outros, “quem conta um conto, acrescenta um ponto”, literalmente.

Os autores têm formas diferentes de pensar e de escrever, “o que torna o livro mais dinâmico e rico”, afirma Liliana Machado, “há capítulos com mais detalhe, outros com mais história e romance, dependendo do estilo de quem está a escrever, tudo é necessário”, explica a autora.

Escrever em equipa

Liliana Machado é uma apaixonada por todas as áreas da Comunicação e este livro foi um desafio “aquilo que tínhamos pensado para uma personagem, depois do contributo dos nossos colegas, já vai ser diferente e temos de repensar tudo”, confessa ao P3. Todo este processo de escrever em equipa é mais enriquecedor e é uma experiência diferente do que um projeto individual “se estivesse a escrever a história sozinha, haveria situações e aspetos que nunca iriam passar-me pela cabeça”, afirmou. Ricardo Jorge Pinto dá um exemplo: “Na história, o narrador é partilhado por todos os autores e um dos meus alunos colocou o narrador a fazer uma crítica aos homens, algo que só poderia ser reparado por uma mulher, que tem mais perceção e sensibilidade em relação a esses assuntos”.

Nesta equipa é preciso espírito de partilha e a confiança no trabalho dos outros. Um dos autores, André Correia, afirma que também é preciso humildade, “porque temos a tendência de querer brilhar no capítulo que vamos escrever e isso pode prejudicar o trabalho dos outros. É preciso equilíbrio e diálogo entre todos”, esclarece.

Para além do livro ser escrito por várias mãos, André diz que a história é inovadora, “encontramos personagens femininas muito fortes, mulheres com problemas diferentes e que conseguem superá-los com muita força. Muitas vezes na literatura, ainda há aquela ideia de caracterizar a mulher como uma princesa em perigo que precisa de ser salva”. Este livro quer romper esse estereótipo.

Ainda não há uma data definida para o término do livro, nem quando ou se será editado. “A minha vontade é que esta história não terminasse, mas o livro merece ser publicado, é algo inovador e tem uma história muito interessante”, afirma Liliana.

A certeza é que, quando a equipa encontrar uma editora, o livro não será mais publicado “online”, revelou Ricardo Jorge Pinto ao P3. A explicação é simples: os autores acreditam que nenhuma editora terá interesse em publicar algo que já está disponível na Internet.

“O Ricardo está cheio de projetos futuros e sempre que ele apresenta-me algo eu não consigo dizer que não”, diz Liliana. “Somos uma equipa jovem e cheia de vontade de trabalhar”, finaliza.