Sossegada, Débora observa a multidão espalhada à espera que comece a sessão de boas vindas aos estudantes do estrangeiro. Apesar da timidez, não tem problemas em falar quando é abordada pelas pessoas. “Foi uma oportunidade que me apareceu do nada e foi a melhor oportunidade da minha vida em relação a sair do ambiente ao qual estava acostumada a viver, indo para um lugar totalmente diferente que eu jamais imaginaria”, diz ao JPN, sorridente. “Tudo é diferente de onde eu morava”, salienta. É uma das novas estudantes da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP), onde vai estudar Criminologia. Chegou do estado do Paraná há apenas um mês e faz parte dos 377 estudantes de origem brasileira que chegaram ao Porto este ano letivo. Umas das coisas que mais a surpreendeu foi a “receptividade das pessoas” na faculdade. Mas não foi só a hospitalidade portuguesa que a admirou, também a Universidade contribui para o deslumbramento inicial. “Há o estudo também, o tamanho da universidade, o quanto ela é conhecida aqui em Portugal mesmo”, admite a estudante de direito.

Também Cynthia e Mariana voaram do Rio de Janeiro pelas mesmas razões. O destino é o curso de Estudos Portugueses e Lusófonos, da Faculdade de Letras (FLUP). Na opinião de Mariana, a UP reunia melhores condições para o estudo que queria desenvolver e foi por isso que a escolheu. “A minha razão foi bem académica, mesmo. Foi uma questão de estudo.”, esclarece. “Temos professores lá que estudaram aqui, e vieram com boas referências”, acrescenta Cynthia.

No final da sessão de boas-vindas, para ajudar os novos alunos na aventura do Erasmus, os representantes do grupo ESN – International Exchange Erasmus Student Network – dirigem algumas palavras à audiência sobre os objetivos do grupo e de que forma o mesmo pode assistir os recém-chegados. Resumindo: de que forma se pode “sobreviver” numa cidade diferente da nossa? No pátio da Reitoria, local do lanche de convívio entre os alunos, Adam Silva conta ao JPN que os voluntários do ESN oferecem aos novos estudantes ferramentas para ter uma estadia o mais agradável possível na cidade. “Eles gostam que haja assim pessoas dispostas a ajudá-los, eles também estão dispostos a participar nas coisas e isso dá-nos ainda mais vontade de fazer o nosso trabalho”, orgulha-se. O jovem é parte da ESN há um ano e neste momento estão à volta de 30 pessoas a trabalhar em conjunto. A coesão dentro do grupo é fundamental para que se possam organizar os eventos, as viagens e as restantes atividades. “Um dos pontos fortes da ESN Porto é ter uma equipa forte dentro desse âmbito que esteja disposta a ajudar estes alunos”, explica Adam.

É no meio do ambiente descontraído entre os estudantes no pátio, que Adam relata como foi parar à ESN, um ano atrás. “Quando eu fui de Erasmus, a secção da ESN local ajudou-me bastante a integrar na cidade fazendo atividades e quando eu cheguei aqui, soube de uma oportunidade para me juntar e quis fazer o mesmo”, diz o estudante, que pretende devolver à instituição a experiência que recebeu quando foi para Białystok, na Polónia durante um ano.

Para cumprir a missão de integrar os novos estudantes, a organização de jovens organiza atividades de forma regular que dinamizar o contacto social e evitar a sua isolação. “Por exemplo, temos uma atividade chamada de speed meeting, que é das primeiras que fazemos, que serve para os ‘Erasmus’ se conhecerem uns aos outros de uma maneira mais engraçada. É uma oportunidade de se conhecerem melhor”, acrescenta. Para além disso, a ESN Porto organiza eventos de cariz social e cultural que incluem por exemplo programas de ajuda a sem-abrigos, idas a canis para ajudar os animais, ajudas a crianças desprivilegiadas, que têm tido boa adesão.

Atentos à atuação da Tuna Masculina da Faculdade de Direito, Amin Sahri e Mouhamed Yassine Namen descobrem um tipo de música e festejo a que não estavam habituados. Tal como Cynthia e Mariana, estes dois argelinos quiseram ter a experiência de ir para fora, mas com companhia. Conhecem-se desde sempre e vieram juntos estudar para o Porto. “Somos da mesma turma, da mesma universidade, do mesmo país, da mesma cidade”, diz Amin. Sobre a cidade, só têm elogios. “É uma cidade muito bonita”, admite.”Eu gosto mesmo dos monumentos, quando se está aqui, respira-se História”, acrescenta o estudante argelino.

1200 alunos só este semestre

No ano letivo anterior, a Universidade do Porto acolheu mais de 1800 alunos de mobilidade externa e este ano, só neste primeiro semestre, a Universidade do Porto já recebeu cerca de 1200 alunos. “Leva-me a crer que este ano podemos até superar os números extraordinários do ano passado”, diz Bárbara Costa. Só do Brasil vieram no ano passado mais de 600 estudantes, enquanto que só no primeiro semestre deste ano o número já ultrapassa metade desse valor. Isto deve-se, sobretudo, à existência de uma “posição estratégica no Brasil há muitos anos, que tem vindo a ser reforçada nestes últimos anos, tendo então a universidade beneficiado dessa parceria com outras instituições brasileiras”, explica. Prossegue dizendo que “também temos muitos estudantes europeus devido à presença do programa Erasmus, que vêm de vários países”. Na sua perspetiva, tudo se resume ao empenho que a UP dedica ao acolhimento desses alunos e também à “forte parceria que existe com a ESN Porto”, reconhecendo-lhes o devido mérito. Além disso, também sublinha as parecerias estratégicas que possui com a Câmara do Porto a nível turístico, e com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Para ela, a UP tem “muito a ganhar” com os alunos externos. “Todos os dias tenho a possibilidade de aprender com eles”, refere. Em relação a quem vem até cá, o pódio dos países que mais enviam alunos para a Invicta é: Brasil, Espanha e Itália. A esses, seguem-se Polónia e Alemanha em 4.º e 5.º lugares, respetivamente. 

Nos corredores da reitoria encontra-se outro Adam. Vindo da Eslováquia, também está cá há um mês. Numa palavra define toda a experiência “louca”. “Tenho conhecido muitas pessoas mesmo e sobretudo melhorado o meu inglês”, continua. A sua melhoria em inglês faz parte dos seus planos e o objetivo tem sido cumprido. No entanto, para ele, o Porto é só o início. “Eu quero é ver o mundo”, conta, “Este é só o meu primeiro passo”. A única queixa são os autocarros, que se atrasam em demasia. Questionado sobre o porquê de ter escolhido o Porto, a resposta é simples. Adam veio após a recomendação de um amigo, que tinha estado na Invicta no ano passado. Admite estar a gostar de tudo, “até das aulas”, uma vez que os professores são muito acessíveis e as aulas são dadas em inglês.

De facto, o “passa-a-palavra” é uma das razões mais fortes para o fluxo contínuo de entrada de alunos de mobilidade externa que tem vindo a decorrer nos últimos anos. Ao JPN, Bárbara Costa, diretora de Serviços do Serviço de Relações Internacionais da Universidade do Porto, referiu mesmo que esse “passa-a-palavra” é essencial. “Os nossos estudantes tornam-se nossos embaixadores. O estudante que sai daqui e que volta para sua casa e que diz aos colegas ‘olha adorei a experiência no Porto, fui muito bem recebido, tive apoios’ acaba por ter muito impacto porque é na primeira pessoa, vale mais do que 20 powerpoints ou 20 emails“, admite. Segundo a própria, o que a Universidade faz para potenciar essas relações é o que apelida de “disseminação ativa”, que se transcreve numa tomada de posição proativa de divulgação da universidade através dos seus parceiros internacionais. “Damos ênfase a essas parcerias e às parcerias privilegiadas que cada uma das 14 faculdades cria, mas abrimos as portas a novas regiões, a novos países e novas oportunidades”. Para os alunos que já cá estão, “procuramos montar toda uma rede de serviços de apoio ao estudante internacional que torna a nossa universidade mais atrativa e de forma a fazer com que os nossos estudantes internacionais se sintam verdadeiramente em casa”, diz-nos.