Após ter sido convidada para participar no FEJS, a jornalista Vanessa Rodrigues decidiu fazer um estudo sobre a forma como os meios de comunicação social portugueses, em plataforma online, estão a fazer a cobertura da crise dos refugiados. A também documentalista e professora, explicou ao JPN que o estudo tinha vários objetivos, mas era sobretudo para perceber como o assunto era tratado: quantas notícias tinham sido publicadas sobre o tema, que tipos de género jornalístico estavam a ser produzidos, saber quem é que estava a assinar as peças jornalísticas, e também quais dessas notícias, no total, eram escritas por jornalistas, geograficamente localizados, nos locais onde estavam a suceder acontecimentos.

Assim, Vanesa analisou cinco meios de comunicação (website do Público, Expresso, Correio da Manhã, Jornal I e Observador)  num espaço de duas semanas. Ao JPN, a jornalista contou que, após ter feito a análise, conclui que “quantidade não significa qualidade”, uma vez que o meio com mais notícias foi o meio que usou agências e não tinha nenhuma peça assinada por repórteres no local. Vanessa considera que este é um “termómetro muito preocupante” e que prova que estamos a ser “mal e pouco informados” sobre a crise dos refugiados em Portugal.

A jornalista alerta para o facto de que a função do jornalismo é a de ser “escrutínio da democracia”. Se os meios de comunicação social não têm repórteres no local e apenas há “jornalismo de agências” e peças não assinadas, isso pode significar “uma visão deturpada da realidade quando lemos as notícias”. Isto porque as notícias têm sido, na sua maioria, construídas “através de fontes que já são as terceiras fontes, não são as fontes basilares da nossa informação”.

Vanessa sublinha ainda que, quando se trata de um tema tão delicado, é muito importante dar voz a quem realmente vive estas situações de carência porque isso é, sem dúvida, o elemento mais importante.

No âmbito do FEJS, Cláudia Pedrosa, jurita do Conselho Português dos Refugiados (CPR) destacou a importância dos media, para que as pessoas possam ter “noção do que se passa”. No entanto, considera que a divulgação que tem sido feita acerca deste tema, pode também ter o “lado mau”, na medida em que, pela quantidade de informação acerca dos Refugiados na Europa, as pessoas possam começar a banalizar o tema. “É necessário mudar as mentalidades, para que as pessoas percebam que isto é um problema real, e é um problema de todos, não é só problema dos países em guerra“, sublinhou Cláudia.

A nível de dados mais concretos, Cláudia explicou que Portugal aceitou receber 1642 refugiados ao longo dos próximos 2 anos, embora o país se tenha comprometido a aceitar 4000.
Portugal ainda não recebeu ninguém, mas o primeiro grupo de refugiados saiu dia 9 de Setembro, de Itália para a Suécia. Resta-nos aguardar que Portugal receba o primeiro grupo dos 1642 refugiados que está previsto virem para o nosso país.