E se ouvisse uma composição musical composta por textos académicos? Isto parece estranho, mas é possível. O Futures Places está de volta ao Porto e a finalidade é, de acordo com o curador do medialab, “estabelecer pontes improváveis” entre diferentes áreas como a cultura e a tecnologia. Assim, académicos, investigadores, músicos e todos os cidadãos estão convidados a participar numa troca de impressões, saberes e experiências sobre os novos media.

Heitor Alvelos explicou ao JPN, que este projeto que nasceu em 2008 como festival de medias digitais, existe sobretudo para “emancipar os cidadãos para os novos media” e fazer “acreditar que os media servem a sociedade e a cultura e não o contrário”. Se numa primeira fase o trabalho desenvolvido para o projeto é realizado a nível académico através da investigação, numa segunda fase é apresentado à cidade para permitir a investigadores convidados e a todos uma “produção de conhecimento” mútua.

Assim, o Futures Places regressa para a 8.ª edição entre os dias 20 e 24 de outrubro e ocupa espaços como a Reitoria da Universidade do Porto (UP), o cinema Passos Manuel, o Pólo de Indústrias Criativas (PINC) do UPTEC, a galeria Dama Aflita, entre outros. O curador do medialab sublinha que as intervenções do Futures Places são destinadas a todos, ainda que possa existir a “necessidade de conhecimento prévio” sobre determinados assuntos.

Durante os dias do festival serão 13 os laboratórios disponíveis e haverá exposições e performances. O Futures Places é, de acordo com Heitor, uma forma de responder às necessidades dos diferentes contextos intervenientes, possibilitando também aos investigadores convidados “beneficiar da experiência dos académicos”. “A reciprocidade é o contexto chave”, remata.

2015 traz Future Places Audiolab

A grande novidade desta 8.ª edição será o lançamento de todo o arquivo digital. “São oito anos, oito anos de trabalho, de ações criativas, de experiências, de troca de conhecimentos”, refere Heitor Alvelos. O arquivo vai compilar o registo de três áreas que foram registadas ao longo dos anos: o património documental, criativo e científico. A Future Places Audiolab, editora online vai permitir, a todos que assim pretendam, aceder ao espólio multimédia.

Assim, o festival abre com a intervenção precisamente de uma das convidadas. Anabela Duarte, ex-vocalista dos Mler Ife Dada é investigadora da University of London e desafia os académicos a aliar as duas áreas que lhe são próximas: a música e a investigação. Vox Express pretende transformar a linguagem científica que é associada às conferências num contexto mais expressivo: o de um concerto. Ficou curioso? Para participar neste que é, de acordo com Heitor Alvelos, um ponto de grande interesse do festival, é necessário que os participantes tenham realizado algum trabalho académico, para poderem trazer consigo o abstract que irão “representar”.

Ainda que este workshop obrigue que o público seja mais restrito, há atividades para todos. No mesmo dia, 20 de outubro, será lançado na reitoria da Universidade do Porto, o projeto “Porto Pelo Porto”, um trabalho de etnografia urbana e investigação científica que pretende convergir as múltiplas representações no termo “Porto” existente na cidade. Além da exposição, será nesse dia inaugurado um site onde qualquer pessoas poderá contribuir, com o envio de fotografias, para o arquivo sobre a cidade, ou melhor, sobre o nome da cidade.

 

Outro dos momentos de destaque do medialab será a instalação de Miguel Januário aka ±MAISMENOS± na entrada do PINC do UPTEC, na manhã do dia 22 de outubro. O artista responsável pelo “Quem és, Porto?”, o maior painel de azulejos comunitário da cidade, apresenta agora ±REC(LAIM) THE FUTURE±, um projeto que pretende investigar o “design e a comunicação enquanto catalisadores de transformação social e política”.

Outro dia também importante a tirar nota é o último dia do festival onde todos os laboratórios apresentarão os resultados das suas experiências até mesmo aqueles que tomaram lugar em datas anteriores ao festival. Haverá ainda uma atuação de Antifluffy, a mascote do Future Places e algumas intervenções dos convidados como Anabela Duarte e Paul Stacey.

Desta forma, a semana será preenchida com uma troca de conhecimentos constante. O programa, disponível no site do festival, conta ainda com a apresentação “In the box or out of the box?” de Jono Podmore, produtor, arquivista e professor de música britânico, sobre as técnicas de gravação e remistura, com enfoque na relação entre os meios digitais e analógicos. Entre os laboratórios disponíveis, uns mais lúdicos e outros mais pedagógicos, está “PowerPointers Anonymous”, desenvolvido por um professor de Belas Artes, Eduardo Morais, que vai utilizar o seu conhecimento nas artes e nos media digitais, para pôr à prova a imaginação e desafiar os participantes a pesar noutras formas de apresentar ideias em público. A rádio Manobras Futuras fará, como é habitual, o registo sonoro de todo o festival.

O medialab vai voltar ao Porto para desafiar. De 20 a 24 de outubro, o Futures Places pretende aproximar criadores, investigadores, académicos, numa partilha de conhecimentos  e criar “novas geometrias sociais”. A iniciativa é da Universidade do Porto e do UPTEC no âmbito programa UTAustin-Portugal. O Futures Places pretende mostrar que as novas tecnologias podem ser úteis para os cidadãos e como é que eles podem tirar proveito delas.