Foi no passado sábado, dia 24, que se celebrou o que de melhor se faz na Universidade do Porto. A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto vestiu-se a rigor para receber a primeira edição do TEDx UniversityOfPorto.

Todos os dias, a Universidade do Porto é a casa de milhares de estudantes e profissionais. Mas nem todos conhecem o trabalho dos membros da sua comunidade académica. O JPN saiu à descoberta.

Leonid Kholkine e Nuno Silva foram os anfitriões desta edição de conferências TEDx, com lugar no Auditório do Centro de Investigação Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). O mote foi “Connecting the Dots”, ou seja, ligar todas as faculdades entre si. Com simpatia, o cheiro a grão de café moído no ar e com um grito de guerra sugerido por Nuno Silva, deu-se início a uma tarde de partilha. Cerca de cem participantes encheram o auditório para ouvir aquilo que o TEDx UniversityofPorto tinha para contar. Nuno lançou o primeiro “dot”.

“Aquilo que podemos fazer pela sociedade é muito mais do que aquilo que a sociedade precisa que façamos por ela”, começou.

Metamorfose

Filipa Frois Almeida e Hugo Reis são arquitetos. Cruzaram os seus caminhos na Escola Superior Artística do Porto (ESAP), mas só mais tarde, em Berlim, se vieram a conhecer. Foi num atelier alemão que aliaram forças e interesses. Já de regresso a Portugal, criaram uma empresa, a FAHR 021.3. Mares nunca antes navegados ou ruínas nunca antes exploradas. “Metamorfose” não foi só o lema do primeiro painel de oradores desta edição do TEDx. Deu nome ao desafio de transformar as ruínas encostadas à tão conhecida Estação de São Bento em algo mais. Hugo define “Metamorfose” como uma “malha digital temporária sobre a ruína”. O projeto contou com um feedback positivo por parte do público e deu asas a outros inúmeros projetos que dão hoje vida à cidade do Porto.

Ana Correira, segunda oradora deste painel, frisou também a importância de uma metamorfose no seio da nossa sociedade. A sua cadeira de rodas não trava a paixão pelo desporto, mas é na sociologia que tem o coração. Licenciada na área e atualmente a fazer mestrado pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), Ana falou do interesse pelas respostas de inclusão de pessoas com deficiência. Deixou o apelo à procura de soluções para “um problema coletivo e não individual”, para quem a vida pode ser um “fora de serviço” à entrada de um elevador. As convicções são o seu alento e declarou-se, citando William Henley, “comandante da minha alma”. Como estudante, admitiu sentir que a Universidade é “um exemplo de boas práticas”.

O orador que se seguiu concordou com Ana, ainda que tivesse sublinhado a problemática da imensa distância física e pedagógica a que as várias faculdades se encontram umas das outras. André Lamas Leite leciona na Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP), onde se licenciou. Em 2014, depois de perceber a fraca adesão no auxílio pela reinserção dos reclusos portugueses, criou o projeto “Um livro na prisão: uma janela para voar”. É com base na ideia de que a educação tem um papel fundamental na formação humana que conseguiu sucesso com este projeto. Tudo começou numa página no Facebook. André Leite, com o auxílio do assessor e professor da FLUP Vasco Ribeiro, conseguiu assim tornar a biblioteca do estabelecimento prisional do Porto, em Custóias, num verdadeiro lugar onde moram os livros. O professor de Direito Penal falou do futuro e da importância de  existirem jovens mais proativos, que sejam um elemento de transformação da sociedade. Em termos de identidade, considerou que a Universidade do Porto “se tem fossilizado”. “Não interessam só os rankings, interessa que as pessoas que estão cá se sintam também parte da faculdade”, declarou.

Ensino Construtivista

O segundo painel de oradores foi aberto pelo professor Paulo Garcia. Apaixonado pela Engenharia Física, adotou o ensino como profissão, mas levou a investigação como um part-time bem sério. Contudo, a sua presença no TEDx prendeu-se com o facto de compreender o ensino como algo que se deve adaptar às necessidades de cada geração. O professor fundou o canal de youtube intitulado Vincere Feup que tem como objetivo criar e expor vídeos nos quais se ensina a arte da Física, de modo a auxiliar os estudantes de engenharia no seu estudo. O vídeo mais visto conta com quase 40 000 visualizações, pelo que este canal é, para Paulo Garcia, motivo de orgulho. O professor universitário acredita que esta forma de ensino facilita no estudo e, por isso, desafiou todos os futuros engenheiros a colaborarem com este projeto. Afinal, não são só os professores que podem ajudar e esclarecer dúvidas aos alunos.

Seguindo o mesmo conceito de inovação na aprendizagem, seguiram-se Sofia Castro e Paulo Vasconcelos. Ambos são professores na Faculdade de Economia (FEP) e investigadores no Centro de Matemática da Universidade do Porto (CMUP). Porém, o destaque da sua intervenção no TEDx foi para a divulgação do projeto pedagógico que serve tanto o ensino presencial como o ensino à distância. Estes professores defendem que “mais do que ensinar, é importante adequar esse ensino à individualidade dos que aprendem”, porque cada aluno tem a sua forma de aprender. Ao longo da sua apresentação, Sofia e Paulo frisaram a grande importância que é a versatilidade e a adaptação tanto de quem ensina como de quem aprende. Pois, “quem quer ensinar, tem de motivar” e “quem quer aprender, tem de se mostrar predisposto a passar pelo esforço e dor”, reforçaram.

Tentativas-erro

A tarde TEDx ficou marcada por percursos inspiradores. Casos de batalhas bem travadas, depois de alguns percalços.

Inês Gonçalves é uma mulher da ciência, mãe de três filhos. Licenciou-se em Microbiologia na Universidade Católica do Porto (UCP) e doutorou-se em Engenharia Biomédica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Marca o seu percurso profissional no tratamento da Helicobacter Pylari, uma das bactérias mais comuns no mundo. Um projeto entre o Instituto de Engenharia Biomédica (INEB), o IPATIMUP e a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Inês reforçou o peso da persistência num percurso feito de “tentativas-erro”. “Em ciência, tem de se lutar, não desistir”, sublinhou. O talento e a firmeza garantiram-lhe seis grandes distinções, entre elas a “Medalha de Honra da L’Oreal para as Mulheres na Ciência 2013”.

Para Catarina Runa e Pedro Mendes, a força de espírito foi também crucial para os seus resultados brilhantes. Os antigos alunos da FCUP aceitaram o desafio da criação de videojogos em Portugal. Apesar do caminho agreste que seria entrar nesta indústria, avançaram para um projeto de animação 3D. “Sair do quadrado” é o lema. E assim nasce a PIC Square. Uma startup onde a tecnologia é “Low Cost, mas High Quality”. Aos futuros profissionais dentro do auditório, a mensagem só poderia ser uma. “Mitos vão sempre existir. Quando isso acontecer sejam como nós e digam-lhe ‘não’”.

“Um momento no tempo”

A tradição também teve lugar cativo e abriu o terceiro e último painel de oradores. Chegou representada pelo timbre masculino do Grupo de Fado Académico do Orfeão Universitário do Porto, que presenteou toda a plateia com três músicas que enalteceram as mulheres, os estudantes e, como não poderia faltar, a cidade. Foram quatro as vozes que deram entrada ao final desta edição do TEDx UniversityofPorto, mas que ergueram as recordações de um eterno universitário portuense. Porque os “amores de estudante” não se ficam por um “momento no tempo”.

O fator humano

Médicos, engenheiros, arquitetos, advogados ou sociólogos. No último painel desta edição, reforçou-se o fator humano como capacidade indispensável a qualquer profissional. Manuel Nuno Alçada faz deste mérito profissão. Professor na FMUP e associado fundador no Banco Alimentar Contra a Fome, no ano letivo passado levou o voluntariado como unidade curricular optativa até ao mestrado integrado de Medicina no Porto. O professor vê o voluntariado como forma de aprendizageme considera que esta vertente deve fazer parte do ensino de Medicina por reconhecer a importância do prisma social e humano para estes futuros profissionais. Sublinhou, contudo, que médicos ou não, todos podemos ter um papel importante na vida de quem precisa de nós. Durante a sua TED Talk, surpreendeu a plateia com algumas das palavras que os seus alunos foram deixando nos seus relatórios de voluntariado. “O estudante deve compreender o seu papel na sociedade e ter uma função ativa na mesma”, reforçou. Porque “curar pessoas não é só curar doenças”.

Na visão do último orador, “para um estudante ser mais ativo, basta ter ideias”. Luís Pinto deu, literalmente, música ao TEDx. No final do primeiro ano em Engenharia Mecânica da FEUP decidiu partir numa aventura pelo mundo durante 14 meses. Um bandolim na mão e bolsos vazios. Foi assim que Luís decidiu partir à descoberta de quem era. Foi à boleia de camiões com a companhia de meros estranhos. Foi capa de jornal em Macau no dia de aniversário. Foi personagem principal numa reportagem do National Geographic quando tentava entrar na América. No seio destas e tantas outras experiências, o importante, diz este aventureiro, “é termos a nossa própria voz e correr riscos“. Todavia, nem nesta tarde dispensou o seu fiel bandolim, ao som do qual deixou a sua mensagem. Ao JPN, disse sentir que a sua presença foi relevante para “quebrar a barreira do que é legítimo ou não é, o que está ao nosso alcance. E há muito mais do que está ao nosso alcance do que aquilo que não está”.

Momento Networking

De nada valeria o mote “connecting the dots” se os dois coffee breaks da tarde não tivessem o mesmo objetivo. A organização do TEDx pensou em todos os pormenores e atribuiu a cada participante um número  do 1 ao 10, bem como uma frase aleatória. Na hora do primeiro intervalo, os participantes com os mesmos números juntaram-se para que, com as suas frases, construíssem uma história o mais original possível. A dinâmica implicava conhecer os nomes e a origem de cada elemento do grupo criado, o que despoletou várias conversas paralelas, conectando todos os pontos.

Para que nenhuma ponta ficasse solta, o TEDx da Universidade do Porto convidou diferentes artistas para ilustrarem as histórias criadas de uma forma bem original. No segundo intervalo, ao lado de cada história estava exposto o respetivo desenho ou pintura, provocando muitos sorrisos e gargalhadas a todos os que observavam a transformação do texto em imagem.

Foram seis horas de TEDx. 12 oradores. Muitos aplausos. Foi entretenimento. Foi aprendizagem. No final desta primeira edição, o host, Nuno Silva, confessou ao JPN que o TEDx UniversityofPorto deu aos seus participantes aquilo que a sociedade realmente precisa: “connecting the dots”. “Se eu fosse um objeto, teria de ser um canivete suíço. É apenas um objeto, mas faz tanta coisa ao mesmo tempo. E a sociedade precisa de canivetes suíços”, concluiu.

Fotografia: Mafalda Sousa

Leonil Kholkine, o anfitrião do TEDx University of Porto

Leonid Kholkine, o anfitrião do TEDx University of Porto Mafalda Sousa

TEDx University of Porto

TEDx University of Porto Mafalda Sousa

Luís Pinto e o seu bandolim

Luís Pinto e o seu bandolim Mafalda Sousa

TEDx University of Porto

TEDx University of Porto Mafalda Sousa

Atuação do Grupo de Fado do Orfeão Universitário do Porto

Atuação do Grupo de Fado do Orfeão Universitário do Porto Mafalda Sousa

TEDx University of Porto

TEDx University of Porto Mafalda Sousa